quinta-feira, março 31, 2005
Não gosto. Nem do visual nem das ideias. Ele que faça a base de dados genética da famÃlia dele e deixe-nos a nós descansados sem (mais) um bilhete de identidade, uma base de dados, um cadastro, a pata do Estado mais um (bom) bocado em cima do eu, cidadão privado.
Treinos
O Isaltino está metido numa grande alhada. É que, na famÃlia, não há cão nem gato que não ande a afiar facas e a precisar de treinar...
quarta-feira, março 30, 2005
Reclusões & hambúrgueres
Quando os dias perdem-se do calendário e as horas medem-se pelas rotinas, é hora de almoço porque o carrinho tilinta no corredor ou é segunda-feira e não domingo porque os turnos mudam e as caras são outras, igual a rotina das altas com despedidas efusivas e mensagem de esperança para melhoras, das seringas que mergulham drogas no gotejar intravenoso que alimenta e, quando o tempo se reduz a um privado assim tão Ãntimo, sela ele reclusão ou chame-se-lhe tratamento, nesses dias há um momento em que o outro relógio soa, e seu bater no coração avisa que vem aà a hora das visitas, única ponte com o mundo pessoal que se perdeu nas paredes brancas sem tempo.
Numa vez em que fui hospitalizado por causa do ‘Crohn’ passei por esse sentimento, excesso de dias iguais que trouxeram a solidão em que até o jornal se distanciava da minha realidade e o mundo lá fora parecia-me muito distante. Beneficiei da minha Webina trabalhar no hospital e das suas visitas extra horários de tal, mas vinha sempre com a bata branca e, talvez por isso, nunca acedeu a ter-mos sexo na casa de banho do quarto. Dessa vez estive lá bastante tempo e, nos primeiros tempos do internamento fui alimentado exclusivamente a soro pois a “dieta zero� era (e julgo ainda ser) o primeiro tratamento a ministrar nas crises agudas da ‘doença de Crohn’. Eu não tinha fome para além da psicológica, do salivar pela mastigação quando via alimentos, pessoas a alimentarem-se à hora usual para tal mister.
Essa fome psicológica tinha acessos proporcionais com a publicidade na tv, que, na altura, propagandeava um novo hambúrguer da ‘Mc Donald’s’ em época de tardes e fins de tarde com transmissões apinhadas de jogos de futebol em final dum campeonato qualquer, daqueles importantes e que mobilizam as famÃlias a encher as tolerantes enfermarias com televisores. Não recordo bem de que campeonato se tratava mas sei que o pitéu tinha foto a cores, rezava a publicidade que era de comer e chorar por mais, um exclusivo nacional a terminar assim que, na bola, soasse o último apito. Um hambúrguer com fatias de presunto adiantado como especialmente saboroso, mais a carne e o queijo derretido, a alface, os molhos, o pão fofo, a fotografia era irresistÃvel e a ‘fome’ consumia-me enquanto arrastava corredor acima corredor abaixo o andor com o saco de soro insonso. Eu já não aguentava mais, urgia agir.
Ora bem, o catering é feito com carrinhos onde as bandejas vêem cheias e à qual regressam mais tarde, muitas no mesmo estado de virgindade ao peixe cozido ou à perna de frango com arroz. E o papo-seco. Assim, na viagem de 'rame-rame' pelo corredor, para lá, seleccionei alvo acessÃvel no carrinho estacionado à porta das ditas enfermarias, dentro do muito rejeitado pelos colegas doentes. Ao fundo, em pausa ociosa olhei o movimento na zona dos elevadores, ajustei o gotejar do tubo e calculei o tempo para regresso enquanto a funcionária estaria dentro dos quartos. O papo-seco voou para o bolso do roupão como previsto.
Comi metade, que maravilha! Em cada trincadela no pão seco sentia os molhos a escorrerem-me no queixo, gulosos, carinhosas dentadas que estalavam o presunto frito, sentia o sabor do queijo derretido e da carne… Confesso que foi um óptimo hambúrguer e dele me recordo amiudado quando entro num ‘Mac’ e lembro-me do papo-seco gamado, pronto! está confessado como já desejei mais a fast-food que qualquer outro prato equilibradamente saudável.
Numa vez em que fui hospitalizado por causa do ‘Crohn’ passei por esse sentimento, excesso de dias iguais que trouxeram a solidão em que até o jornal se distanciava da minha realidade e o mundo lá fora parecia-me muito distante. Beneficiei da minha Webina trabalhar no hospital e das suas visitas extra horários de tal, mas vinha sempre com a bata branca e, talvez por isso, nunca acedeu a ter-mos sexo na casa de banho do quarto. Dessa vez estive lá bastante tempo e, nos primeiros tempos do internamento fui alimentado exclusivamente a soro pois a “dieta zero� era (e julgo ainda ser) o primeiro tratamento a ministrar nas crises agudas da ‘doença de Crohn’. Eu não tinha fome para além da psicológica, do salivar pela mastigação quando via alimentos, pessoas a alimentarem-se à hora usual para tal mister.
Essa fome psicológica tinha acessos proporcionais com a publicidade na tv, que, na altura, propagandeava um novo hambúrguer da ‘Mc Donald’s’ em época de tardes e fins de tarde com transmissões apinhadas de jogos de futebol em final dum campeonato qualquer, daqueles importantes e que mobilizam as famÃlias a encher as tolerantes enfermarias com televisores. Não recordo bem de que campeonato se tratava mas sei que o pitéu tinha foto a cores, rezava a publicidade que era de comer e chorar por mais, um exclusivo nacional a terminar assim que, na bola, soasse o último apito. Um hambúrguer com fatias de presunto adiantado como especialmente saboroso, mais a carne e o queijo derretido, a alface, os molhos, o pão fofo, a fotografia era irresistÃvel e a ‘fome’ consumia-me enquanto arrastava corredor acima corredor abaixo o andor com o saco de soro insonso. Eu já não aguentava mais, urgia agir.
Ora bem, o catering é feito com carrinhos onde as bandejas vêem cheias e à qual regressam mais tarde, muitas no mesmo estado de virgindade ao peixe cozido ou à perna de frango com arroz. E o papo-seco. Assim, na viagem de 'rame-rame' pelo corredor, para lá, seleccionei alvo acessÃvel no carrinho estacionado à porta das ditas enfermarias, dentro do muito rejeitado pelos colegas doentes. Ao fundo, em pausa ociosa olhei o movimento na zona dos elevadores, ajustei o gotejar do tubo e calculei o tempo para regresso enquanto a funcionária estaria dentro dos quartos. O papo-seco voou para o bolso do roupão como previsto.
Comi metade, que maravilha! Em cada trincadela no pão seco sentia os molhos a escorrerem-me no queixo, gulosos, carinhosas dentadas que estalavam o presunto frito, sentia o sabor do queijo derretido e da carne… Confesso que foi um óptimo hambúrguer e dele me recordo amiudado quando entro num ‘Mac’ e lembro-me do papo-seco gamado, pronto! está confessado como já desejei mais a fast-food que qualquer outro prato equilibradamente saudável.
"Passada" em luto
Li aqui que o espólio da revista cultural moçambicana "Que Passa" ardeu, é cinza.
NotÃcia triste, deixo um beijo solidário à bloguista mãe da dita, com o placebo de que o melhor arquivo ainda é o da memória das coisas bonitas que fazemos na vida.
terça-feira, março 29, 2005
EPC
Diariamente, no Público, EPC escreve em crónica o melhor blogue de Portugal.
Hoje, sobre Sartre, "o intelectual dos intelectuais". Como sempre lê-se num ápice e deixa apetites. Amanhã há mais, há sempre mais a ler no 'blogue-crónica' de EPC.
segunda-feira, março 28, 2005
Formato A4, branco com margem em cinzento
Olho o texto como tela, peça a desenhar em que se escolhem palavras como se fossem cores no jogo de seduzir, pintando, eis que busco as letras para o fazer, escrevendo.
E nunca está completa, nunca... Há textos, em forte regra os recentes, em que relê-los no espÃrito original é achar sugestões em palavras, condensação de forças que recebe banho doutras letras, mais escorreitas, suaves, deslizantes no ler, quadro que o pintor contempla a luzes e ângulos, e poisa o pincel.
Os tons, o equilÃbrio de emoções no claro-escuro, o dia lido e pensado influenciam a pincelada tal como a sua luz agita a mão ao pintor, e os dedos escrevem ora em cor que percorre linhas em palavras suaves, ternas, ou aceleram este bater de dedos tonando de escuro a tela em que se escreve.
E nunca está completa, nunca... Há textos, em forte regra os recentes, em que relê-los no espÃrito original é achar sugestões em palavras, condensação de forças que recebe banho doutras letras, mais escorreitas, suaves, deslizantes no ler, quadro que o pintor contempla a luzes e ângulos, e poisa o pincel.
Os tons, o equilÃbrio de emoções no claro-escuro, o dia lido e pensado influenciam a pincelada tal como a sua luz agita a mão ao pintor, e os dedos escrevem ora em cor que percorre linhas em palavras suaves, ternas, ou aceleram este bater de dedos tonando de escuro a tela em que se escreve.
29 anos, feitos a 21 de janeiro
Eu e Moçambique, um amor platónico. São dos piores, reza-me o passado na especialidade...
Os ricos e os pobres
Há esta mania de catalogar, dividir, armazenar dados para adaptação do discurso, a esquiva de cintura em que todo o português genuÃno é rei. E a primeira é aquele brilho nos olhos quando se avalia a densidade especÃfica da carteira do próximo, o sentimentozinho do ‘és rico’ ou ‘és pobre’, - e hesito se a busca é feita em demanda de ameaça ou pela amanha da solidariedade.
Que vitória seria afastar essa primitiva avaliação, esquisita quanto baste quando não há pobre que não jogue no €uro Milhões e dos ricos já não digo o mesmo… e tanta atenção que passaria a ser dedicada a tanto de importante que há em cada um, cada pessoa, individuo único e cada um cheio de experiências únicas, pessoas únicas.
As gerações têm responsabilidades, de legado, além da boa administração do recebido - mas aà a conversa é outra pois é herança cada vez mais pesada e uma classificação de zelosa já é medalha que não está, infelizmente, ao alcance de todos. A forma de relacionamento individual nos povos, eternos amontoados que crescem e crescem, cada vez mais estranhos entre si nas suas pontas - e também falo dos ‘ricos’ e dos ‘pobres’, a vidinha de cada um, o formigueiro que todos percorremos e onde nos misturamos, estas formas básicas de comunicação carecem dum estÃmulo para darem o saltito que, ciclicamente, faz bem à s sociedades e melhora tudo, começando em cada um, e no caso era o riscar do livrinho mental de apontamentos essa absurda tendência em cheirar o dinheiro, o potencial para catá-lo, nariz contraÃdo em educado repúdio mas o tal brilhozinho nos olhos.
Até pelo desperdÃcio de recursos que poderiam ter melhor uso, como sorrir naturalmente ou resmungar sem estar condicionado ao “não magoar, sei lá se…â€�, toda essa parafernália de desculpas para iniciar-se um relacionamento já com chapas de matrÃcula, a dividir ainda pela cor dos bancos, ou pelas jantes. Arrastando a ideia nas quatro rodas, parecerá negócios de carro usado em stand bem iluminado este medir de pulso alheio, não na louvável intenção lusa de saber da saúde de toda a famÃlia mas na pose de fiscal a avaliar a percentagem que enquadra e taxa, buscando denúncias dos em letra de lei fiscal chamados como sinais ostensivos da dita, tudo nas proporções adequadas a quem olha para o carro antes de olhar para a pessoa.
Alguma coisa de grave se passa neste histórico confronto de classes em que os crÃticos não buscam o profundo e ficam extasiados no visual, no verniz, à procura de pequenos sinais de futilidade pela ostentação, de excessos que possam criticar e, intimamente, equacionarem mil e uma formas mais úteis de gastá-lo, oh!, do brilhozinho bater à janela ocular encandeando quem for a passar, e pior ficará quando o verão chegar e com ele os óculos escuros. Que legado evolutivo deixamos? Gelo, para quem vem duma geração que tanto sonhou melhorar-se, uma revolução em cada um, eis que a nossa herança é fardo para quem, de nós nascidos, quiser melhorar o viver entre os sempiternos ‘ricos’ e ‘pobres’, o tal carimbo que vem no apertar de mãos, nesta futilidade da minha pilinha ser ou não maior que a tua.
E até acho que é acto escrituradamente condenado nas religiões de mais fiéis. Não é abusivo entender que depende de nós, cada um, este primeiro passo para acabar com a primeira de todas as divisões que se estabelecem, fútil perante a importância de tantas que, ora, são ignoradas porque olha-se para o rabo dela mas a seguir para os sapatos, no vice-versa são elas de olho no carro até antes de admirarem bem o arcaboiço do animal, o potencial de macho. Etc, etc, mais meia dúzia de argumentos parvamente reais como este, e pensem na delÃcia que seria, dos dorsais e das nádegas, passarmos olho interessado para outros olhos onde é tão desagradável depois ver o brilho avaliador, estridente, clandestinamente insolente no amargo da futilidade da sua existência, mera doença propagada de que todos se queixam mas com vacina conhecida para dores mÃnimas, e da qual ignora-se usar. Se o argumento é excessivamente rebuscado façam a adaptação. Eu, devasso confesso, não exluo 'aquele' tema de nenhumas das minhas alegrias ou preocupações. Nunca. E aà sou rico de 'top ten' - até ando de 'Mulliner'...
Que vitória seria afastar essa primitiva avaliação, esquisita quanto baste quando não há pobre que não jogue no €uro Milhões e dos ricos já não digo o mesmo… e tanta atenção que passaria a ser dedicada a tanto de importante que há em cada um, cada pessoa, individuo único e cada um cheio de experiências únicas, pessoas únicas.
As gerações têm responsabilidades, de legado, além da boa administração do recebido - mas aà a conversa é outra pois é herança cada vez mais pesada e uma classificação de zelosa já é medalha que não está, infelizmente, ao alcance de todos. A forma de relacionamento individual nos povos, eternos amontoados que crescem e crescem, cada vez mais estranhos entre si nas suas pontas - e também falo dos ‘ricos’ e dos ‘pobres’, a vidinha de cada um, o formigueiro que todos percorremos e onde nos misturamos, estas formas básicas de comunicação carecem dum estÃmulo para darem o saltito que, ciclicamente, faz bem à s sociedades e melhora tudo, começando em cada um, e no caso era o riscar do livrinho mental de apontamentos essa absurda tendência em cheirar o dinheiro, o potencial para catá-lo, nariz contraÃdo em educado repúdio mas o tal brilhozinho nos olhos.
Até pelo desperdÃcio de recursos que poderiam ter melhor uso, como sorrir naturalmente ou resmungar sem estar condicionado ao “não magoar, sei lá se…â€�, toda essa parafernália de desculpas para iniciar-se um relacionamento já com chapas de matrÃcula, a dividir ainda pela cor dos bancos, ou pelas jantes. Arrastando a ideia nas quatro rodas, parecerá negócios de carro usado em stand bem iluminado este medir de pulso alheio, não na louvável intenção lusa de saber da saúde de toda a famÃlia mas na pose de fiscal a avaliar a percentagem que enquadra e taxa, buscando denúncias dos em letra de lei fiscal chamados como sinais ostensivos da dita, tudo nas proporções adequadas a quem olha para o carro antes de olhar para a pessoa.
Alguma coisa de grave se passa neste histórico confronto de classes em que os crÃticos não buscam o profundo e ficam extasiados no visual, no verniz, à procura de pequenos sinais de futilidade pela ostentação, de excessos que possam criticar e, intimamente, equacionarem mil e uma formas mais úteis de gastá-lo, oh!, do brilhozinho bater à janela ocular encandeando quem for a passar, e pior ficará quando o verão chegar e com ele os óculos escuros. Que legado evolutivo deixamos? Gelo, para quem vem duma geração que tanto sonhou melhorar-se, uma revolução em cada um, eis que a nossa herança é fardo para quem, de nós nascidos, quiser melhorar o viver entre os sempiternos ‘ricos’ e ‘pobres’, o tal carimbo que vem no apertar de mãos, nesta futilidade da minha pilinha ser ou não maior que a tua.
E até acho que é acto escrituradamente condenado nas religiões de mais fiéis. Não é abusivo entender que depende de nós, cada um, este primeiro passo para acabar com a primeira de todas as divisões que se estabelecem, fútil perante a importância de tantas que, ora, são ignoradas porque olha-se para o rabo dela mas a seguir para os sapatos, no vice-versa são elas de olho no carro até antes de admirarem bem o arcaboiço do animal, o potencial de macho. Etc, etc, mais meia dúzia de argumentos parvamente reais como este, e pensem na delÃcia que seria, dos dorsais e das nádegas, passarmos olho interessado para outros olhos onde é tão desagradável depois ver o brilho avaliador, estridente, clandestinamente insolente no amargo da futilidade da sua existência, mera doença propagada de que todos se queixam mas com vacina conhecida para dores mÃnimas, e da qual ignora-se usar. Se o argumento é excessivamente rebuscado façam a adaptação. Eu, devasso confesso, não exluo 'aquele' tema de nenhumas das minhas alegrias ou preocupações. Nunca. E aà sou rico de 'top ten' - até ando de 'Mulliner'...
domingo, março 27, 2005
A ler
Pelos velhos e bons hábitos do novo Maschamba no divulgar constante do (muito) bom que lê na blogosfera cheguei lá, e noutros cantos deixei a nota de interesse:
.............................................................
Do excelente blogue "Ideias para Debate" do jornalista moçambicano Machado da Graça, um interessante debate sobre o choque cultural dos novos meios de massificação sobre as sociedades tradicionais, e a potencial perda de identidade cultural adjacente.
No caso, a (boa) polémica gira em volta duma introdução ao tema por Mia Couto numa universidade de Maputo, com a argumentação do celebrado contraditório a cargo dum jovem estudante moçambicano que reside na Ã�frica da Sul, PatrÃcio Langa, que arroga a defesa da visão das novas gerações vestindo a pele da sua, que ele apelida de 'geração Samorista' - os nascidos e criados no pós-independência.
Debate que promete sumo.
No caso, a (boa) polémica gira em volta duma introdução ao tema por Mia Couto numa universidade de Maputo, com a argumentação do celebrado contraditório a cargo dum jovem estudante moçambicano que reside na Ã�frica da Sul, PatrÃcio Langa, que arroga a defesa da visão das novas gerações vestindo a pele da sua, que ele apelida de 'geração Samorista' - os nascidos e criados no pós-independência.
Debate que promete sumo.
Em acrescento
... e aproveito o comentário lá deixado pelo 'zulu', de todos os amigos-comentadores aquele que melhor conheço pelos laços e cumplicidades que décadas de vizinhança formaram.
Deus me livre, e a todos os que tal diga algo, que as questões do passado que atingiram dimensões que levam povos a historicamente queixarem-se do comportamento abusivo doutros, polÃticos a borrar a pintura com excesso de tons que apagam massas de personagens do cenário-tema, sejam remetidas para os diplomáticos acordos das concessões mútuas, o discurso polÃtico usual, fast food que se come como se de (mau) purgante se tratasse.
Eu 'falo' de, nós, portugueses, nós belgas ou ingleses, franceses ou espanhóis, até holandeses e italianos, europeus de gema deste continente que fez o seu vizinho de quinta privada durante tempo a mais para disso não ter vergonha, e passar a algo mais concreto do que olhar com sorriso cÃnico para o lado e dar uns trocados, esse, colonizador, dever acções concretas ao colonizado mas, também se ele o exigir, um pedido de desculpas, povo a povo, povos a povos, histórias comuns com tanta e tanta página amarga.
E falo dos 'presidentes Guebuzas' e mais uma data daqueles que foram tão incompetentes que não só destruÃram o sonho como a realidade, esses traidores de vidas que foram cortadas ao melhor bocado que aspiravam - à liberdade, à independência de braços nos braços, isso tudo e mais o sonho!, esses que vingaram nas novas cadeias burocráticas que só aceitaram quando viram que mantinham o poder na mão.
Falo do cinismo de quem não deverá adormeceder descansado com a memória de pedaços da sua vida, é um lÃder eleito num povo que sofreu os seus dislates revolucionários e, hoje, hoje em que dele se espera um arregaçar de mangas para o futuro, verifica-se que os fatos cinzentos do passado ainda olham da cadeira em frente ao espelho, sem que ele trate desse problema quando se olha, olhos nos olhos. E eu perdoo tudo, quem me conheçe sabe que assim o é. Eu, vulgar, normal, refilão mas de bom coração, igual a ti, a todos.
Ele sabe que perdoaremos tudo pois não há quem não tente enterrar o passado dos amargos, os dias em que se acumula o prematuro corte ao sonho com um exÃlio muito pouco simpáticamente estimulado pelo racismo institucionalizado em prática como medida revolucionária, o de cor e de feitio, estratégico, o racismo burocraticamente selectivo porque foi programado, e nisso tem há caras que deram as ordens, cérebros que as pensaram, que hoje deveriam falar quando sobem assim alto. Que raio! seria bonito porque é justo!
Há um sono mais suave quando se acredita na honestidade e bom carácter de quem governa e prezamos em dever respeitar.
Ainda sobre o presidente Guebuza
Num Grupo de discussão MSN que é a "minha primeira casa virtual" o meu post 'Presidente Guebuza' teve eco, e o António Maria Gouvêa Lemos (moçambicano em diáspora alpina e mano do ZP do Sem Técnica onde, nos últimos posts, homenageia o pai, jornalista de verve apurada e coluna direita) respondeu-me assim:
..................................................................
Caro Gil
Separando-se o poder de destruição desses erros, que todos nós cometemos na vida, ("que jogue a primeira pedra quem...."). Concordo contigo que quem tem valor, são os seres (raros) que possuem a dignidade de admitir e assumir a responsabilidade por erros cometidos.
Os tempos mudam, como a situação geo-polÃtica mundial mudou, e talvez uma forma do senhor Presidente de Moçambique, Armando EmÃlio Guebuza, se redimir de erros de um mundo polÃtico passado, estaria agora como presidente.
Abandonando a polÃtica do não ver, ouvir, ou falar, que nem aqueles 3 macaquinhos. Engajando-de dentro da polÃtica internacional africana, em favor do respeito aos direitos humanos, garantidos na constituição nacional do paÃs que o elegeu.
Combatendo da ponta norte do continente, ao Cabo da Boa Esperança no sul; a corrupção, o clientelismo, o racismo em todos os "vértices e ângulos" possiveis, as formas patriarcais de sociedades que em nome de religiões e culturas ancestrais, impedem entre outras coisas, o direito ao livre arbÃtrio do cidadão, ou que as mulheres assumam o seu papel numa sociedade progressista no Ãnicio de mais um século de obscurantismo. Lutando pela abolição da censura, escravatura, etc,etc.
Ou seja, que tome em mãos os temas que muitos negam existir, em nome de uma boa vizinhança ou parceria econômica. ( PolÃticagem não só praticada em Ã�frica. Veja-se como a Europa está "babando" com a China, e fingindo não ver o que todos sabemos.)
Como exemplo de verticalidade Senhor Presidente, poderia nos mostrar ao afastar-se polÃticamente e em público, do seu "presidente vizinho", Mr Mugabe.
Este que depois de uma época aurea e lúcida, aonde o Zimbawe foi exemplo de indepência africana, acabou tomado por um "neopotismo" africano, que possui a mesma arrogância tÃpica dos grandes ditadores da História Humana.
Afaste-se daquele que tem sufocado os direitos mais elementares do seu povo, e prepara agora mais uma farsa para um mundo incrédulo de uma �frica estável, que lhe dará o nome; de eleições livres. (Enquanto nas suas masmorras e valas comuns, tal como nos tempos coloniais, apodrecem ou jazem os Homens e Mulheres que tiveram a coragem de "verbalizar" e desejar uma simples ideia.
Mostre Sr Gebuza, não ser presidente da passividade, de consentir, calando-se... E que o passado existe para se aprender no presente, a se constrir um futuro melhor.
N'komo !
Antonio Maria
Separando-se o poder de destruição desses erros, que todos nós cometemos na vida, ("que jogue a primeira pedra quem...."). Concordo contigo que quem tem valor, são os seres (raros) que possuem a dignidade de admitir e assumir a responsabilidade por erros cometidos.
Os tempos mudam, como a situação geo-polÃtica mundial mudou, e talvez uma forma do senhor Presidente de Moçambique, Armando EmÃlio Guebuza, se redimir de erros de um mundo polÃtico passado, estaria agora como presidente.
Abandonando a polÃtica do não ver, ouvir, ou falar, que nem aqueles 3 macaquinhos. Engajando-de dentro da polÃtica internacional africana, em favor do respeito aos direitos humanos, garantidos na constituição nacional do paÃs que o elegeu.
Combatendo da ponta norte do continente, ao Cabo da Boa Esperança no sul; a corrupção, o clientelismo, o racismo em todos os "vértices e ângulos" possiveis, as formas patriarcais de sociedades que em nome de religiões e culturas ancestrais, impedem entre outras coisas, o direito ao livre arbÃtrio do cidadão, ou que as mulheres assumam o seu papel numa sociedade progressista no Ãnicio de mais um século de obscurantismo. Lutando pela abolição da censura, escravatura, etc,etc.
Ou seja, que tome em mãos os temas que muitos negam existir, em nome de uma boa vizinhança ou parceria econômica. ( PolÃticagem não só praticada em Ã�frica. Veja-se como a Europa está "babando" com a China, e fingindo não ver o que todos sabemos.)
Como exemplo de verticalidade Senhor Presidente, poderia nos mostrar ao afastar-se polÃticamente e em público, do seu "presidente vizinho", Mr Mugabe.
Este que depois de uma época aurea e lúcida, aonde o Zimbawe foi exemplo de indepência africana, acabou tomado por um "neopotismo" africano, que possui a mesma arrogância tÃpica dos grandes ditadores da História Humana.
Afaste-se daquele que tem sufocado os direitos mais elementares do seu povo, e prepara agora mais uma farsa para um mundo incrédulo de uma �frica estável, que lhe dará o nome; de eleições livres. (Enquanto nas suas masmorras e valas comuns, tal como nos tempos coloniais, apodrecem ou jazem os Homens e Mulheres que tiveram a coragem de "verbalizar" e desejar uma simples ideia.
Mostre Sr Gebuza, não ser presidente da passividade, de consentir, calando-se... E que o passado existe para se aprender no presente, a se constrir um futuro melhor.
N'komo !
Antonio Maria
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o meu comentário-resposta:
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Concordo com o que dizes, mas esbarro numa frase - e já lá voltei e o tropeção é igual:
... que todos nós cometemos na vida, ("que jogue a primeira pedra quem....").
É especÃfico demais para ser possÃvel deitar-lhe o manto do adágio, a desculpabilização pelo tempo. São decisões polÃticas de topo onde os erros não podem ser comparáveis aos dos que obececem a leis ou são delas vÃtimas; há que haver, necessáriamente, justificação por elas ou, na sua insuficiência de que toda a gente mais que suspeita, acredita, aà carece-se dum simples - mas sincero! pedido de perdão, nem que apenas implÃcito num discurso mais lato, uma entrevista de fundo daquelas que todos os novos presidentes dão, um livro de memórias, algo que se saiba que um dos responsáveis pelo radicais erros havidos, ora figura de mais alto topo, o faz. É disso que falo, será que estou a sonhar demais, a exigir o impossÃvel, a humildade de confessar erros, o pedido de perdão pelas tantas e tão graves consequências que esses erros trouxeram a pessoas, famÃlias?
É aqui que há uma pedra que incomoda o meu profundo acreditar no futuro. E é uma das mais incómodas, das tais que caiem do carácter quando ele está quebradiço.
No resto, reafirmo a terminar, concordo com a tua análise.
Um abraço
sábado, março 26, 2005
Poesia moçambicana
Gamado aqui, sem licença da dona, mas em irresistÃvel cleptomania poética quando as letras se desenham assim:
......................................................................................
DESENHO NA AREIA
......................................................................................
Sobre a leve areia pálida
búzio chegado de nácar.
.......
(Que lenta frase quebrada,
que ténue palavra Ãmpar?)
.......
Sobre a leve areia branca,
búzio deixado vazio.
.......
(Que sorriso destroçado,
ou que destino perdido?)
.......
Búzio de nácar, de rosa,
de cor de pérolas mortas,
de sol, de luz e de sombra
e de lua a horas mortas;
.......
de água translúcida e calma,
de algas densas e de espuma,
de lembranças e cuidados,
de memória e de ternura.
.......
Sobre a leve areia pálida,
deixado.
Para a branca areia morna,
trazido.
.......
(Canta o recado que guardas,
ao meu ouvido).
.......
Glória de Sant'Anna
sexta-feira, março 25, 2005
Presidente Guebuza
Armando EmÃlio Guebuza foi o homem que materializou as aldeias comunais, os campos de reeducação, a pena de morte, o ’24-20’ e o ‘papel azul’, todas essas medalhas de vergonha à dignidade humana.
Quando soube que era ele o candidato presidencial designado pelo partido do poder berrei aqui o que pensava, a minha revolta e desilusão, a descrença amarga e o profundo receio da corrupção económica, sugadora de recursos, eles exÃguos, ela o polvo que asfixia um viver digno ao povo. Talvez eu estivesse enganado e não passe de um tipo com mau-feitio, irascÃvel e inconveniente, - e tanto que o desejo estar e ser que a simples ausência de escândalos de monta é por mim lida nesta distância com o ânimo de quem receava bem pior.
Mas falta uma coisa: ele, Armando EmÃlio Guebuza e a quem desejo uma historicamente feliz presidência moçambicana, diga publicamente o que nunca foi dito e na sua própria voz, olhos nos olhos, peça desculpa pelos que morreram, pelos seviciados e humilhados, aos que sofreram e hoje mordem os lábios ao recordar. Se com a dignidade que a humildade trás ou se em estudado descuido verbal, ele, devedor do pedido de perdão, que escolha a sua medida e meça o tamanho do peso que no seu Ãntimo o passado de excessos fanáticos acumulou.
Mas faça-o, e depressa. Olhe para mim, olhe para todos, os que recheiam os milhares de quilómetros de distância com o amargo das más recordações e os que, aÃ, olham o futuro sem conseguir esquecer o passado, os desvarios do fanatismo ideológico. Tantos que de si esperam um tanto que também se preenche com esse pouco, e esperam que o faça com a esperança de que é assim que o futuro se constrói, fé (presidencial) gerada na mÃstica da honestidade e da humildade de reconhecer erros que foram muito além do politicamente justificável, o perdão que não se nega à superior verticalidade de quem o pede com sinceridade.
Quando soube que era ele o candidato presidencial designado pelo partido do poder berrei aqui o que pensava, a minha revolta e desilusão, a descrença amarga e o profundo receio da corrupção económica, sugadora de recursos, eles exÃguos, ela o polvo que asfixia um viver digno ao povo. Talvez eu estivesse enganado e não passe de um tipo com mau-feitio, irascÃvel e inconveniente, - e tanto que o desejo estar e ser que a simples ausência de escândalos de monta é por mim lida nesta distância com o ânimo de quem receava bem pior.
Mas falta uma coisa: ele, Armando EmÃlio Guebuza e a quem desejo uma historicamente feliz presidência moçambicana, diga publicamente o que nunca foi dito e na sua própria voz, olhos nos olhos, peça desculpa pelos que morreram, pelos seviciados e humilhados, aos que sofreram e hoje mordem os lábios ao recordar. Se com a dignidade que a humildade trás ou se em estudado descuido verbal, ele, devedor do pedido de perdão, que escolha a sua medida e meça o tamanho do peso que no seu Ãntimo o passado de excessos fanáticos acumulou.
Mas faça-o, e depressa. Olhe para mim, olhe para todos, os que recheiam os milhares de quilómetros de distância com o amargo das más recordações e os que, aÃ, olham o futuro sem conseguir esquecer o passado, os desvarios do fanatismo ideológico. Tantos que de si esperam um tanto que também se preenche com esse pouco, e esperam que o faça com a esperança de que é assim que o futuro se constrói, fé (presidencial) gerada na mÃstica da honestidade e da humildade de reconhecer erros que foram muito além do politicamente justificável, o perdão que não se nega à superior verticalidade de quem o pede com sinceridade.
Faça-o, senhor presidente. Por favor ajude tantos ainda vivos a enterrar de vez o passado e a acreditar (mais) no futuro.
E (ajudinha psicológica, vá lá…) lembre-se que, nestas incensadas democracias que misturam devoção à causa de servir o povo com mediático exercÃcio de poder, um bom polÃtico-actor que assim (nos) falasse com convicção poderia ganhar inimigos polÃticos até à tumba em todos os que para tanto nunca terão tomates, mas, com marketing exaurido em requintes inteligentes, ganharia na aclamação do povo, que agora já é eleitor mas sempre foi observador atento, a auréola de carisma que todos os polÃticos sonham alcançar, ganhadora de eleições e motor anÃmico para as grandes realizações. Pense também nisto por favor, senhor polÃtico, ora presidente da democracia do futuro, (mas…) antes ministro do interior da puta da velha mania da ditadura.
Ganhou o '7'!
Na folha roubada ao doloroso encher do caderno de matemática com hesitantes contas em azul e zangados traços em vermelho, aproveitando a certeza que as linhas do quadriculado trazem à s distâncias entre-eixos e permitem acertar as linhas do design, os bólides são traçados com deleite, linhas empolgadamente desportivas, magnÃficas, acutilantemente aerodinâmicas. Uma multidão de faróis na grelha, apelativos autocolantes e o número desenhado em destaque dão-lhes um look desportivo, e as jantes ‘especiais’ o toque final e arrasador para vencerem nas pistas em que irão correr os dois metros e meio do corredor.
Uns, copiam os bólides da época e que as fotografias nos jornais revelam para encantar, Porsches e Ferraris, Ford GT-40, e também nascem as linhas que a livre inspiração dita, fazendo nascer máquinas únicas e fatais para os adversários, até um mutuante que transforma o pacato carro do pai numa super bomba. No chão e à volta da mesa da sala, disputam corridas em derrapagens que os dedos provocam com audácia temerária, chocam contra as barreiras do circuito desenhado pelos livros de banda desenhada alinhados com os policiais que o pai tem na casa-de-banho, e até os escolares ajudam ao construir do Grande Prémio.
O cenário, familiar, Ãntimo e seguro como é, isso tudo e muito mais, a famÃlia e o lar, permitem soltar o voo sem barreiras dos sonhos nos traços que enchem a folha de quadriculado, deitado no chão e sentindo o agradável fresco do parquet que o coco poliu nas pernas nuas. A esferográfica acrescenta os últimos pormenores, corrige um traço ou outro naquela frota de luxo, grelha de partida única porque tão exclusiva como o poderão ser os sonhos dum puto que deles e neles vive, ao volante a infindável imaginação. Da criatividade dos traços nascem os brinquedos únicos que o brincador para si fabrica, cria.
A mãe é cúmplice e indulgente, e permite a ocupação do sempre parco espaço da flat com a brincadeira do Grande Prémio, tal como tantas vezes permitiu que, na varanda das traseiras ou nas escadas do prédio, sala ou até na cozinha enquanto o bolo perfuma o ambiente e promete delÃcias sempre que a porta do forno é aberta para que o palito sondador aquilate a cozedura do prazer guloso, em toda a casa e adjacências exércitos se formassem e dizimassem, podiam à segunda-feira à tarde os Ãndios enfrentar os cow-boys em astuciosas emboscadas que enchiam prateleiras e móveis, recantos, de atiradores furtivos, mas haveria uma manhã em que seria dia de recriar as batalhas que se liam em sofreguidão sonhadora nas revistas em quadradinhos “Guerraâ€�, “Ene 3â€�, “Major Alvegaâ€�.
Mas nesta tarde o cheiro a gasolina e a borracha queimada inundam o ambiente-cenário em que o dia feliz flutua, dos lábios soam os ‘vrum-vrums’ que a garganta do sonho solta, e até o mainato espreita da cozinha e sorri ao desenrolar da corrida que o puto alonga e relata em voz emocionada, contornando móveis e cadeiras, a meta ao meio da longa recta que vai da porta da sala até à perigosa curva junto à porta das escadas, onde perigosos ventos sob ela penetram e, em dramáticas vezes, fazem capotar os carros cuidadosamente recortados ao papel onde nasceram para a glória
Agora o Ferrari P4 vai destacado quase dois livros e meio, atrás um Porsche que foi prejudicado certamente pelo traço que tremeu ao desenhar a roda de trás e fê-la mais ‘quadrada’ que o aconselhável, e é penalizado pelo dedo do seu insatisfeito criador que o tschova, impelindo-o mais displicente e moderado que ao projectar aqueles que o gosto pela obra elegeu como favoritos, os mais bonitos e naturalmente especiais. Mas nas curvas desenhadas geometricamente, alinhadas com os calhamaços dos livros do pai que se espreitam em segredo à procura de palavras proibidas, - fascinantes! vão agora lado a lado o Ferrari e um sem origem genética conhecida em enciclopédias e anais, pois de inspiração livre foi a sua lavra, o nº 7, linhas esguias e traçadas como as do carro de corrida perfeito, o mais bonito do mundo e fatal para os derrotados adversários. A emoção sobe e entram na recta final, a meta à vista (mais três empurrões e estão lá… ou dois chegam? qual ganhará?), o apelo da consciência tenta tornar os dedos justos no dosear igual da força motriz, projectando os carros de papel pelo chão, voando para a glória que as paredes do corredor contemplam, mudas testemunhas e complacentes cúmplices.
(Quem ganhará? quarenta anos depois tenho em mim que ganhou o ‘7’, ganhei este texto, ganhei-me a mim próprio; ganhou o ‘7’ – traço-brinquedo feito com amor, quer nas linhas ora nas letras, sempre eu, puto-mufana)
Uns, copiam os bólides da época e que as fotografias nos jornais revelam para encantar, Porsches e Ferraris, Ford GT-40, e também nascem as linhas que a livre inspiração dita, fazendo nascer máquinas únicas e fatais para os adversários, até um mutuante que transforma o pacato carro do pai numa super bomba. No chão e à volta da mesa da sala, disputam corridas em derrapagens que os dedos provocam com audácia temerária, chocam contra as barreiras do circuito desenhado pelos livros de banda desenhada alinhados com os policiais que o pai tem na casa-de-banho, e até os escolares ajudam ao construir do Grande Prémio.
O cenário, familiar, Ãntimo e seguro como é, isso tudo e muito mais, a famÃlia e o lar, permitem soltar o voo sem barreiras dos sonhos nos traços que enchem a folha de quadriculado, deitado no chão e sentindo o agradável fresco do parquet que o coco poliu nas pernas nuas. A esferográfica acrescenta os últimos pormenores, corrige um traço ou outro naquela frota de luxo, grelha de partida única porque tão exclusiva como o poderão ser os sonhos dum puto que deles e neles vive, ao volante a infindável imaginação. Da criatividade dos traços nascem os brinquedos únicos que o brincador para si fabrica, cria.
A mãe é cúmplice e indulgente, e permite a ocupação do sempre parco espaço da flat com a brincadeira do Grande Prémio, tal como tantas vezes permitiu que, na varanda das traseiras ou nas escadas do prédio, sala ou até na cozinha enquanto o bolo perfuma o ambiente e promete delÃcias sempre que a porta do forno é aberta para que o palito sondador aquilate a cozedura do prazer guloso, em toda a casa e adjacências exércitos se formassem e dizimassem, podiam à segunda-feira à tarde os Ãndios enfrentar os cow-boys em astuciosas emboscadas que enchiam prateleiras e móveis, recantos, de atiradores furtivos, mas haveria uma manhã em que seria dia de recriar as batalhas que se liam em sofreguidão sonhadora nas revistas em quadradinhos “Guerraâ€�, “Ene 3â€�, “Major Alvegaâ€�.
Mas nesta tarde o cheiro a gasolina e a borracha queimada inundam o ambiente-cenário em que o dia feliz flutua, dos lábios soam os ‘vrum-vrums’ que a garganta do sonho solta, e até o mainato espreita da cozinha e sorri ao desenrolar da corrida que o puto alonga e relata em voz emocionada, contornando móveis e cadeiras, a meta ao meio da longa recta que vai da porta da sala até à perigosa curva junto à porta das escadas, onde perigosos ventos sob ela penetram e, em dramáticas vezes, fazem capotar os carros cuidadosamente recortados ao papel onde nasceram para a glória
Agora o Ferrari P4 vai destacado quase dois livros e meio, atrás um Porsche que foi prejudicado certamente pelo traço que tremeu ao desenhar a roda de trás e fê-la mais ‘quadrada’ que o aconselhável, e é penalizado pelo dedo do seu insatisfeito criador que o tschova, impelindo-o mais displicente e moderado que ao projectar aqueles que o gosto pela obra elegeu como favoritos, os mais bonitos e naturalmente especiais. Mas nas curvas desenhadas geometricamente, alinhadas com os calhamaços dos livros do pai que se espreitam em segredo à procura de palavras proibidas, - fascinantes! vão agora lado a lado o Ferrari e um sem origem genética conhecida em enciclopédias e anais, pois de inspiração livre foi a sua lavra, o nº 7, linhas esguias e traçadas como as do carro de corrida perfeito, o mais bonito do mundo e fatal para os derrotados adversários. A emoção sobe e entram na recta final, a meta à vista (mais três empurrões e estão lá… ou dois chegam? qual ganhará?), o apelo da consciência tenta tornar os dedos justos no dosear igual da força motriz, projectando os carros de papel pelo chão, voando para a glória que as paredes do corredor contemplam, mudas testemunhas e complacentes cúmplices.
(Quem ganhará? quarenta anos depois tenho em mim que ganhou o ‘7’, ganhei este texto, ganhei-me a mim próprio; ganhou o ‘7’ – traço-brinquedo feito com amor, quer nas linhas ora nas letras, sempre eu, puto-mufana)
"Foda-se"
Gamada ao blogue "Da Malhangalene com humor" do AnÃbal Marques ('th3 m4sk' de nickname), uma deliciosa crónica de Millôr Fernandes sobre as propriedades profilácticas e paliativas do uso do português vernáculo. A ler com um sorriso e sem preconceitos, pois, efectivamente, há algo de muito saudável no soltar dum "foda-se" na hora e momento certos.
Do mesmo bloguista há o foto-blogue Tributo à cidade de Maputo onde, em imagens de sua autoria - ao que sei é um fanático da boa e velha fotografia... a cidade das acácias é retratada. A que acrescenta algumas curiosas fotos da mesma nos seus princÃpios, também inÃcios do finado século. Visita nostálgica, também a fazer sem preconceitos.
quinta-feira, março 24, 2005
Abstenção postal
(postal, de posts)
É correcto dar uma explicação pois não sou só eu que aqui leio sempre o mesmo jornal atrasado.
O primeiro e o segundo dias passam-se com o sentimento de culpa de nada ter escrito-publicado, mas em boa verdade vos conto que senti-me como se estivesse estendido numa praia dos algarves, deliciosamente ocioso e sem vontade nenhuma de sacudir a areia. Férias, quem não gosta desta palavra...
E também o trabalho, que tem picos, e tenho em mãos um deles para 'normalizar'.
Pouco tenho escrito, portanto, mesmo extra-blogue. Ontem foi um dia marcadamente 'literário' e a sua ementa foi assim: como entrada uns cogumelos salteados que estavam muito agradáveis, depois uma dobrada que, embora apetitosa e de condimentos cuidados, apaladada, revelou-se como farta e devolvi mais de metade da generosa dose. O meu companheiro na degustação foi este senhor, nome do jornalismo construÃdo pela qualidade e que eu não conhecia pessoalmente. Da obra literária destacam-se dois tÃtulos: "A sombra dos dias", por mim lido em 1981 e que me sobrevive na memória como um espantoso grito de direito à identidade - ainda por cima bem escrito. E o muito falado mas ainda não lido (falta que será sanada a muito curto prazo) Os leões não dormem esta noite", cuja génese ontem conheci pela boca dele, autor. É uma história curiosa, talvez um dia o meu relato dela surja noutra conversa pois nada tem de confidencial e é daqueles bocadinhos de conversa com que se constrói o prazer de ir ao café para dois dedos de conversa.
Bem, a dobrada teve aplauso e, pela tarde e noite as consequências devidas, nos doces faleceu em glória uma trouxa de ovos, eu, e ele levou de vencida uma mousse de chocolate.
O dia 'literário' teve continuação numa tarde que o despiu de copo, faca e garfo, pois só ao final dela - no local e e com a companhia que aqui denuncio, voltei aos prazeres de mesa, na sua lÃquida versão face à hora e à boa companhia. Pois a tarde foi passada em bem disposta conversa com o artista plástico moçambicano LÃvio de Morais mas confinados à (ainda) possÃvel 'sede' do novo "centro cultural luso-moçambicano", já em fase muito adiantada de legalização e empenhadÃssimo em promover coisas boas, como, espero e quero também para tal contribuir, de algumas muito em breve se ouvirá falar.
E - claro! não só 'aviei' duas diuréticas pints, meio litro cada, com ela no tal acima linkado, com as palavras gostosamente intermináveis acerca de escritos, blogues, livros, toda esta tralha que nos faz gostar de cá andar, e continuou ao jantar que, regado a cevadas nacionais, combateu e por mim sem glória um caril de gambas à moda nepalesa. Apresento como argumento a dobrada para pouco ter depenicado, mas o que eu queria mesmo era conversa e, dessa, vim de barriga mais nobremente cheia que com a tal falada feijoada.
Pois a surpresa está guardada para o fim: a páginas tantas do caril de bichinhos, não muito espesso, de aroma discreto mas com a lÃngua satisfeita e sendo os ditos de textura e sabor correctos, junta-se a nós esta senhora bloguista, tendo-se, então, a mesa alargado para outras capelinhas que com elas corri até à s tantas e até a razão vencer a vontade de eternizar estes sabores de amizade, que se adensam pela distãncia que os torna materialmente tão parcos em relação à vontade de os viver.
Termino o lençol com algumas actualizações de links, matéria onde o meu desleixo tem atingido nomes que não se dizem.
O João Tunes já mora na casa nova ao tempo suficiente para ter forrado as paredes com o habitual bom gosto e boa escrita, acutilância e oportunidade, mas ainda não fiz a actualização do link.
Tal como o da nova morada da horta do jpt, fatiota nova que se deseja com o mesmo bom corte da anterior, divulgadora infatigável de informação cultural moçambicana, com o bónus de acutilantes comentários sociais e históricos e o ónus da cara e das loas ao Manuel Fernandes.
Há um outro que tenho de mencionar - e termino já: o blogue Buba. Já está à tempo demais um mail meu lá pendurado pois o bloguista escreve pouco, interregnos que se prolongam e poucas alteraçõas trazem à montra. Mas com recheio rico e, da primeira vez que o visitei, dei por mim a catar o baú, página a página. E a gostar do que li, para além do que discordei e de que o mail publicado dá fé.
sábado, março 19, 2005
sexta-feira, março 18, 2005
Muita parra e pouca uva
No jornal dos cafés li a análise a um inquérito sobre o grau de felicidade dos portugueses quanto à sua vida sexual.
Como mangusso, interessei-me mais pelas respostas deles do que pelas delas, pois é claro que as perfomances da concorrência interessam-me muito menos que as das pitas...
Eis que verifico, - surpreso! que os 'aviões' aperaltados e de rabo alçado da linha, as 'tias', são levadas a má nota de desempenho pelos seus parceiros de refrega naturais, mangussos do eleitorado PSD e PP (já na "área da esquerda" a malta anda a acordar muito bem disposta...) Ora, quem olha para elas, 'pitinhas-tias' - e elas tudo fazem para que se olhe para elas..., é levado ao engano e, pelos vistos e plesbicitado, elas não têm veros argumentos para tais ilusões, em arena.
Portanto aqui deixo um apelo para contribuição ao esbatimento das diferenças (ainda) existentes nas classes sociais: apliquem-se, estudem, esforcem-se. Falem com a vossa mulher-a-dias ou com a vossa cabeleireira, se necessário alterem o vosso voto polÃtico. A mangussagem agradece.
Angústias dum 'opinion maker'
Ontem, na sua coluna no Público, JPP perora à vara larga contra os jornalistas que, ora, ignoram o seu blogue e os seus escritos, quando, antes e na comédia santanista, os seus "early morning blogs" eram citados e rezados.
DaÃ, estende-se nas lamúrias de amante desconfiada e clama de tribuna que ao 'primeiro' Sócrates está a ser concedido um estado de graça que ao 'primeiro' Santana nunca foi concedido. Só quem não viveu em Portugal no último ano e não é leitor do seu blogue lhe poderá conceder a dúvida na razão do protesto... Depois faz alguns fliques-flaques e, a meio da bÃlis, lá confessa que a insÃdia jornalÃstica é alimentada pelos mesmos interesses e paixões pela polÃtica que, a ele e ao seu blogue, também nunca estiveram ausentes e (lhe) aumentaram audiências.
Falece de razões em ambos as queixas.
Começando por esta última convenhamos que as situações em nada são de decalque rápido. Sócrates vem de duas eleições que ganha maioritáriamente, partidária e nacional, e Santana emergiu 'primeiro' numa sucessão polémica, fracturante internamente (o 'baú' do seu Abrupto confirma-o) e muito principalmente na matriz nacional. Num muitos confiaram e ainda não há sérios sinais para deixar de crer, noutro a desconfiança grassou ainda antes das primeiras boutades, que se revelaram, infelizmente para o partido e para o paÃs, fecundas e perenes. E o jornalismo é, principalmente, eco da sociedade...
Agora vamos ao blogue e à s citações. Que dizer, e como dizê-lo sem ofender quem tão susceptÃvel ao eco se mostra?
Comecemos por um exemplo, mera divagação em volta do meu quintal e das minhas próprias contas... eu escrevo sobre a 'Morena', minha musa regional e para todos vós anónima, e tenho, nesse dia, "x" leitores ao meu blogue; mas reclamo contra o 'Spam' que a todas as caixas de correio aflige, ou deslizo a pena sobre 'um baile no Alto-Maé' de que 'todos' nos recordamos com um sorriso nostálgico, e à queles "x" juntam-se "y" e "z"... Extravaso em paralelo para as minhas minúsculas audiências a angustiante falência de citações de que JPP se queixa, com o nexo que daà for possÃvel extrair.
Mais lata e esclarecedora é a audiência jornalÃstica. Uma reportagem sobre um derby futebolÃstico tem sempre mais leitores que outra sobre uma descoberta cientÃfica, dando estes de barato a real importância dum passageiro resultado desportivo em confronto com uma inovação com potenciais benesses para toda a humanidade. É assim, e até acho que é imutável, pese a injustiça implÃcita nestas audiências que privilegiam o secundário em detrimento do fundamental.
JPP resmunga em excesso e roça o ciúme de amante preterida mas não tem razão, ao contrário de tantas vezes em que aquela lhe tem assistido e, dela, houve eco por todas estas praças.
Eco que naturalmente voltará quando aquela regressar, o que veementemente se deseja e pacientemente se espera.
terça-feira, março 15, 2005
Vidas reais
A mente conhece paixões que vão além do vÃcio e tornam-se doença, desequilibrando o acto viril de viver num mundo acordado para padrões, fardas, máscaras, brutal e implacável globalização para os seus dissidentes.
Desde os seus tempos de pitinha e quando ele era um trintão da moda, Ãcone duma imagem de revolta à sociedade e sacerdote do “sex, drugs and rock & rollâ€�, desde esses tempos de adolescente que ela tem uma paixão pelo cantor, o homem do ‘Satisfaction’ e da lÃngua de fora, o bêbado e drogado e mulherengo mas também o artista que pensamos um dia encarnar, versão delas, pitas, e deles, mangussos.
Os anos passam e na tal realidade atrás falada como de acto viril de viver, olhos bem abertos e ‘numa de real’, há mais derrotas que o suportável por quem cresceu acreditando em sonhos, vivendo-os nas longas noites após uma ida ao tapete. Os anos passam por ela e ela quer continuar a ser eterna pitinha, ela vive à força o seu sonho, penetra nele dizendo com voz clara e enérgica “- estou aqui, quero jogarâ€�. Pois dele, sonho, há tantos anos que aguarda à porta pela sua ternura, que nela chora por mantê-la aberta e só vê saÃrem as ilusões e entrarem algumas realidades amargas. A paixão vence, vence-a, domina-a, e ela penetra no mundo do sonho, cruza a porta e abandona os equilÃbrios do tal acto viril de viver.
Pequenos sinais, um apreciar dum humor e duma ironia tão subtis que leva a que represente o seu drama e todos nós, então, então e ainda, com ela rimos da comédia que tão bem representa. Depois, e ainda antes da fase dos aeroportos que percorria de mala numa mão e o filho noutra, e a todos perguntava se o avião ‘dele’ já tinha chegado para a levar, das mensagens em código que estranhos lhe trazem, há um concerto em Vigo e ela mergulha de vez nesse sonho tão lindo e onde volta a ser pitinha, pede a lista de documentos para se casar e obtém-nos, e faz convites para a festa, delira esfusiante com as notÃcias nas tv’s e nas revistas de supermercado em que “a texana dum raioâ€� perde a paciência com as infidelidades da velha carcaça, sexagenário que continua a portar-se como se tivesse dezoito anos e toda uma virilidade a provar. Ele está livre para ela, ele chama-a e ela não hesita mais.
Funcionária de carreira, escreve a cartinha a dizer adeus e prescinde de tudo pois vai ser muito rica, vai à embaixada dos states requerer vistos para ela e para o filhote, cinco anitos, e cujo pai não é, definitivamente, gémeo do outro embora também seja músico.
Para despistar a famÃlia e ganhar o tempo sem suspeita que lhe permitirá chegar à mansão dele e tocar a campainha ao resto da sua vida como sempre a sonhara, compra bilhetes de comboio para a Euro Disney, Paris, e toda a estratégia aborta por dedo denunciador do petiz que telefona aos avós dando conta da viagem iminente. Veio depois um mês que foi horrÃvel, e eu fui lá visitá-la, ao hospital psiquiátrico. O seu desespero para tentar de lá sair disputando todos os centÃmetros duma realidade em que julgava já ter penetrado e todos lhe queriam tirar, amigos, enfermeiros, famÃlia, médicos, tudo estranhos que lhe saqueiam o seu sonho mais lindo e que teve ao alcance da mão… as caras e as atitudes, as palavras, das outras reclusas-doentes, aquele ambiente gélido onde o real é o que nós quisermos que seja pois é negro o das portas fechadas à chave e dos comprimidos e das injecções que tornam os olhos pesados, extinguem a fala e deixam o linguarejar que assusta quem não o sabe pronunciar. Houve mais momentos maus que vieram depois, espaçados no tempo, doridos para quem percebeu via oral e intravenosa que lhe roubaram, definitivamente, a fé no sonho de ser eternamente pitinha e casar com o seu prÃncipe encantado, único sucedâneo admissÃvel e remate perfeito à quele romance de amor sonhado que viveu quase duas décadas. Nesses anos as rugas dele tornaram-se perfeitas e charmosas, as suas infidelidades meros sinais de que ele aguardava por ela, e ninguém é completamente perfeito.
Vidas reais. Teve diagnóstico de bi-polar, afinal aceitação académica dos momentos em que a nossa bússola da paixão aponta ao céu e sussurra-nos que podemos voar.
Desde os seus tempos de pitinha e quando ele era um trintão da moda, Ãcone duma imagem de revolta à sociedade e sacerdote do “sex, drugs and rock & rollâ€�, desde esses tempos de adolescente que ela tem uma paixão pelo cantor, o homem do ‘Satisfaction’ e da lÃngua de fora, o bêbado e drogado e mulherengo mas também o artista que pensamos um dia encarnar, versão delas, pitas, e deles, mangussos.
Os anos passam e na tal realidade atrás falada como de acto viril de viver, olhos bem abertos e ‘numa de real’, há mais derrotas que o suportável por quem cresceu acreditando em sonhos, vivendo-os nas longas noites após uma ida ao tapete. Os anos passam por ela e ela quer continuar a ser eterna pitinha, ela vive à força o seu sonho, penetra nele dizendo com voz clara e enérgica “- estou aqui, quero jogarâ€�. Pois dele, sonho, há tantos anos que aguarda à porta pela sua ternura, que nela chora por mantê-la aberta e só vê saÃrem as ilusões e entrarem algumas realidades amargas. A paixão vence, vence-a, domina-a, e ela penetra no mundo do sonho, cruza a porta e abandona os equilÃbrios do tal acto viril de viver.
Pequenos sinais, um apreciar dum humor e duma ironia tão subtis que leva a que represente o seu drama e todos nós, então, então e ainda, com ela rimos da comédia que tão bem representa. Depois, e ainda antes da fase dos aeroportos que percorria de mala numa mão e o filho noutra, e a todos perguntava se o avião ‘dele’ já tinha chegado para a levar, das mensagens em código que estranhos lhe trazem, há um concerto em Vigo e ela mergulha de vez nesse sonho tão lindo e onde volta a ser pitinha, pede a lista de documentos para se casar e obtém-nos, e faz convites para a festa, delira esfusiante com as notÃcias nas tv’s e nas revistas de supermercado em que “a texana dum raioâ€� perde a paciência com as infidelidades da velha carcaça, sexagenário que continua a portar-se como se tivesse dezoito anos e toda uma virilidade a provar. Ele está livre para ela, ele chama-a e ela não hesita mais.
Funcionária de carreira, escreve a cartinha a dizer adeus e prescinde de tudo pois vai ser muito rica, vai à embaixada dos states requerer vistos para ela e para o filhote, cinco anitos, e cujo pai não é, definitivamente, gémeo do outro embora também seja músico.
Para despistar a famÃlia e ganhar o tempo sem suspeita que lhe permitirá chegar à mansão dele e tocar a campainha ao resto da sua vida como sempre a sonhara, compra bilhetes de comboio para a Euro Disney, Paris, e toda a estratégia aborta por dedo denunciador do petiz que telefona aos avós dando conta da viagem iminente. Veio depois um mês que foi horrÃvel, e eu fui lá visitá-la, ao hospital psiquiátrico. O seu desespero para tentar de lá sair disputando todos os centÃmetros duma realidade em que julgava já ter penetrado e todos lhe queriam tirar, amigos, enfermeiros, famÃlia, médicos, tudo estranhos que lhe saqueiam o seu sonho mais lindo e que teve ao alcance da mão… as caras e as atitudes, as palavras, das outras reclusas-doentes, aquele ambiente gélido onde o real é o que nós quisermos que seja pois é negro o das portas fechadas à chave e dos comprimidos e das injecções que tornam os olhos pesados, extinguem a fala e deixam o linguarejar que assusta quem não o sabe pronunciar. Houve mais momentos maus que vieram depois, espaçados no tempo, doridos para quem percebeu via oral e intravenosa que lhe roubaram, definitivamente, a fé no sonho de ser eternamente pitinha e casar com o seu prÃncipe encantado, único sucedâneo admissÃvel e remate perfeito à quele romance de amor sonhado que viveu quase duas décadas. Nesses anos as rugas dele tornaram-se perfeitas e charmosas, as suas infidelidades meros sinais de que ele aguardava por ela, e ninguém é completamente perfeito.
Vidas reais. Teve diagnóstico de bi-polar, afinal aceitação académica dos momentos em que a nossa bússola da paixão aponta ao céu e sussurra-nos que podemos voar.
segunda-feira, março 14, 2005
Morena
Os cabelos, longos e rebeldes como se sonham os cabelos, soltos em ondulado que acaricia o seu corpo e que me faz despertar - um despertar estúpidamente feliz, ao vê-la no café da manhã.
Morena. Um rosto bonito, agradável nos anos que nele esculpiram traços de verdade, e a cosmética enganadora não vai além dum traço suave nos lábios, que eu imagino sorrirem quando me dizem um discreto olá.
Há nela toques de desalinho irreverente, sedutor, uma ganga de vida que lhe fica bem e a mim bem me cai quando a olho e admiro a suavidade do ondulante do moreno dos seus cabelos. Há este encontro de algumas manhãs, café de bairro, há estes minutos bonitos de sentir-me viver.
Morena, vizinha morena, doce que complementa o amargo das manhãs cafeínadas.
quarta-feira, março 09, 2005
As pitinhas
Desenganem-se os que esperam ler confidências luxuriantes, histórias de amores clandestinos e encalorados. As pitinhas, para mim que demorei a crescer na convivência com elas, as pitinhas sempre foram umas deusas, inatingÃveis, mas o seu culto era-me tão necessário como, sei lá…, um suficiente a matemática ou trinta escudos para um fim-de-semana, meia dúzia de bolos de creme na mesa ou uma manhã de sábado na praia do Miramar.
Por instinto e dedução das conversas que o ar traz, e pelas leituras empolgantes que se faziam aliadas ao pouco que se ia observando no comportamento dos ‘mais velhos’, claro que desde a idade própria me apercebi que das pitinhas viriam doces contÃnuos, mel cujo sabor todos gabavam e endeusavam, e à minha modesta parte dediquei sonhos e fantasias, derramei lágrimas e fiz poemas. Dediquei paixões à s pitinhas que me consumiam em vergonha com as suas risadinhas denunciadoras, morria de felicidade nos sonhos que alimentava e nos versos chorados que lhes fazia.
No culto das pitinhas havia os mitos que alimentavam esses sonhos pré-eróticos – e uso o pré pois falo dum tempo em que acreditava que a máxima felicidade seria alcançada no dia em que acariciasse uma perna de veludo, uma festa num seio, um beijo e uma carÃcia no cabelo… a minha juvenil sexualidade era alimentada com esses sonhos e cada hipótese dum fortuito toque num braço de tais ninfas, pitinhas, uma mão que fosse, o corpo inacessÃvel e tão prometedor de tudo o que se ignora como é o duma pitinha para um puto que cresce, cada esperança assim alimentada era em mim mote para devaneios Ãntimos em que me via tão feliz com a ‘minha namorada’ que os dias mais não eram que meros cenários dos episódios que construÃam e alimentavam essas paixões, as minhas com as pitinhas.
Sabem o que estou a recordar com esta escrita, e faz-me sorrir com a inocência malandra que já tive e, naturalmente, perdi neste percurso de viver? Estou a lembrar-me das praias do Miramar e do Dragão, apinhadas ao fim-de-semana, e das brincadeiras que fazÃamos na água, da inocente busca de erotismo nalgumas… em especial recordo-me das batalhas que se travavam dentro de água, por pares, elas encavalitadas aos nossos ombros e tentando derrubar-se mutuamente, ocasião magna para ferrar-se mão trémula e sem censura nem protesto nas pernas das pitinhas… é parvo, não é? mas é o que estou a recordar… do troque que parecia de seda, do vulcão de emoções que sentia e tudo fazia por disfarçar…
Para rematar o post poderia escrever que “cresci e as pitinhas também, e tudo mudouâ€�. Mas não, não terminou. Afinal continuo o mesmo puto tÃmido que adora as pitinhas e suspira por mÃticos amores perfeitos, pelo idÃlico do toque de seda do seu olhar. Continuo um puto e só desejo que as pitinhas do meu tempo assim me continuem a ver, pois os meus olhos e suspiros ainda é por elas que brilham e soam, pela suavidade com que me fazem sonhar. Ora sem poemas chorados, é certo, mas com a mesma irreverência malandra e também inocente com que lhes espreitava as pernas nas escadas do liceu, e com o coração tão apertado como quando as segurava nas mais deliciosas batalhas navais de que há memória nos anais.
Por instinto e dedução das conversas que o ar traz, e pelas leituras empolgantes que se faziam aliadas ao pouco que se ia observando no comportamento dos ‘mais velhos’, claro que desde a idade própria me apercebi que das pitinhas viriam doces contÃnuos, mel cujo sabor todos gabavam e endeusavam, e à minha modesta parte dediquei sonhos e fantasias, derramei lágrimas e fiz poemas. Dediquei paixões à s pitinhas que me consumiam em vergonha com as suas risadinhas denunciadoras, morria de felicidade nos sonhos que alimentava e nos versos chorados que lhes fazia.
No culto das pitinhas havia os mitos que alimentavam esses sonhos pré-eróticos – e uso o pré pois falo dum tempo em que acreditava que a máxima felicidade seria alcançada no dia em que acariciasse uma perna de veludo, uma festa num seio, um beijo e uma carÃcia no cabelo… a minha juvenil sexualidade era alimentada com esses sonhos e cada hipótese dum fortuito toque num braço de tais ninfas, pitinhas, uma mão que fosse, o corpo inacessÃvel e tão prometedor de tudo o que se ignora como é o duma pitinha para um puto que cresce, cada esperança assim alimentada era em mim mote para devaneios Ãntimos em que me via tão feliz com a ‘minha namorada’ que os dias mais não eram que meros cenários dos episódios que construÃam e alimentavam essas paixões, as minhas com as pitinhas.
Sabem o que estou a recordar com esta escrita, e faz-me sorrir com a inocência malandra que já tive e, naturalmente, perdi neste percurso de viver? Estou a lembrar-me das praias do Miramar e do Dragão, apinhadas ao fim-de-semana, e das brincadeiras que fazÃamos na água, da inocente busca de erotismo nalgumas… em especial recordo-me das batalhas que se travavam dentro de água, por pares, elas encavalitadas aos nossos ombros e tentando derrubar-se mutuamente, ocasião magna para ferrar-se mão trémula e sem censura nem protesto nas pernas das pitinhas… é parvo, não é? mas é o que estou a recordar… do troque que parecia de seda, do vulcão de emoções que sentia e tudo fazia por disfarçar…
Para rematar o post poderia escrever que “cresci e as pitinhas também, e tudo mudouâ€�. Mas não, não terminou. Afinal continuo o mesmo puto tÃmido que adora as pitinhas e suspira por mÃticos amores perfeitos, pelo idÃlico do toque de seda do seu olhar. Continuo um puto e só desejo que as pitinhas do meu tempo assim me continuem a ver, pois os meus olhos e suspiros ainda é por elas que brilham e soam, pela suavidade com que me fazem sonhar. Ora sem poemas chorados, é certo, mas com a mesma irreverência malandra e também inocente com que lhes espreitava as pernas nas escadas do liceu, e com o coração tão apertado como quando as segurava nas mais deliciosas batalhas navais de que há memória nos anais.
Restaurante Chinês
Uma indica a mesa e entrega a ementa, outra aceita o pedido e há uma terceira que traz a bebida. O restaurante chinês, e eu a escrevê-las sem olhar para elas, tentando furtar-me à vigÃlia que não me permite coçar o cocuruto ou dar um suspiro sem que uma venha a correr com a ementa.
E para além desta corte de servidoras “- quantos são? tlês?â€�, “-quele aloz chao-chao?â€� há vantagens em ir ao restaurante chinês? Há e várias. Uma televisão que se é inevitável não tem som e à qual me furto escondendo-me num canto da sala, a suave e diferente música que soa, cheia de tlin-tlins e outros requebros chineses no som que me fazem suspeitar ser uma modinha pimba daqueles lados, afinal condizente com o plástico da decoração kitch que todos os restaurantes chineses exibem. Mas é uma mudança audÃvel que me agrada, o relativo sossego na sala que, exemplo, me permite estar a escrevê-la entre pratos.
Nos meus velhos e jovens tempos, porque a colónia chinesa em Moçambique era bem significativa e visÃvel no pequeno comércio, era ainda novo quando fui iniciado nestas inovações gastronómicas, neste olhar à mesa e de garfo para uma cultura tão diferente da que fazia a rotina habitual, sendo que após ter ganho as asas da alforria financeira os restaurantes chineses eram bastantes frequentes no meu roteiro. Desde o velhinho que existia numa rua que desaguava na Praça Mac-Mahon, quase à esquina com a mesma e restaurante modesto com factura a condizer, até ao requintado da Av. António Enes onde nós, os trabalhadores administrativos do sindicato dos estivadores, fazÃamos o nosso almoço mensal no dia do santo ordenado. E, como curiosidade, recordo-me de ter ido muito poucas vezes ao celebérrimo restaurante Macau, da baixa da cidade.
Houve um perÃodo e que durou mais de um mês no qual várias vezes à semana jantava no ‘chinês’ que estava na antiga cervejaria Ponto Final, numa esquina da Av. Pinheiro Chagas e a meio caminho entre o Alto Maé e a Polana. Na altura, já a viver sozinho há talvez um ano ou mais, almoçava diariamente na pastelaria dos meus pais, a Veneza no Malhangalene, e o jantar era ao sabor de impulsos, apetites que deixava crescerem enquanto a motorizada rolava aguçando vontades. Outras vezes improvisava um ovo estrelado e umas fatias fritas de corned beef enlatado, outras vezes esquecia-me de jantar e disso não me ralava. Mas fui comensal aplicado desse restaurante chinês pelos olhos amendoados da moça chinesa que me atendia e aos quais sorria, e dela e deles também alguns desses carinhos recebia.
Sempre fui ferrenho dos amores platónicos e com atracção pelo original, o gosto pelo toque exótico nas emoções é uma constante. Aqueles olhos, irónicos e divertidos, amigáveis e de bonitos traços orientais, atraÃam-me sempre que as lecas me permitiam seguir o impulso que me conduzia à mesa do restaurante chinês, ao mar de sonhos exóticos que naqueles olhos teimava em sonhar e que intimamente me deliciavam. Não, não estava apaixonado desta vez. Tratava-se tão só dum curso intensivo de gastronomia oriental, servido por uma pitinha a cujos olhos dedicava suspiros entre a sopa wan-tan e o chau-min, ou era (mais) uma paixão secreta dum romântico precoce e ainda hoje inveterado? A tanto não chegou, mas imaginem o quão feliz me sentia quando a via manobrar entre as colegas para ser ela, sempre, quem me atendia…
Terminei. A refeição e o post. Houve uma que trouxe a banana pa-si (sou fã) e o café. Sei, - já sei…, que a conta será ainda outra a trazer-ma. Olho-as nos olhos e busco sinal daqueles outros que a memória das coisas bonitas invoca e não os vejo. Talvez porque já não há paixão nos meus, só saudade. Dum tempo em que acreditava num Éden que lia nuns olhos amendoados, perfeitos, um tempo em que não sentia vergonha por me apaixonar mas sim de o declarar.
Tenho é saudades de mim e da beleza dos amores platónicos, eis como termino o meu post escrito no restaurante chinês de Almeirim.
E para além desta corte de servidoras “- quantos são? tlês?â€�, “-quele aloz chao-chao?â€� há vantagens em ir ao restaurante chinês? Há e várias. Uma televisão que se é inevitável não tem som e à qual me furto escondendo-me num canto da sala, a suave e diferente música que soa, cheia de tlin-tlins e outros requebros chineses no som que me fazem suspeitar ser uma modinha pimba daqueles lados, afinal condizente com o plástico da decoração kitch que todos os restaurantes chineses exibem. Mas é uma mudança audÃvel que me agrada, o relativo sossego na sala que, exemplo, me permite estar a escrevê-la entre pratos.
Nos meus velhos e jovens tempos, porque a colónia chinesa em Moçambique era bem significativa e visÃvel no pequeno comércio, era ainda novo quando fui iniciado nestas inovações gastronómicas, neste olhar à mesa e de garfo para uma cultura tão diferente da que fazia a rotina habitual, sendo que após ter ganho as asas da alforria financeira os restaurantes chineses eram bastantes frequentes no meu roteiro. Desde o velhinho que existia numa rua que desaguava na Praça Mac-Mahon, quase à esquina com a mesma e restaurante modesto com factura a condizer, até ao requintado da Av. António Enes onde nós, os trabalhadores administrativos do sindicato dos estivadores, fazÃamos o nosso almoço mensal no dia do santo ordenado. E, como curiosidade, recordo-me de ter ido muito poucas vezes ao celebérrimo restaurante Macau, da baixa da cidade.
Houve um perÃodo e que durou mais de um mês no qual várias vezes à semana jantava no ‘chinês’ que estava na antiga cervejaria Ponto Final, numa esquina da Av. Pinheiro Chagas e a meio caminho entre o Alto Maé e a Polana. Na altura, já a viver sozinho há talvez um ano ou mais, almoçava diariamente na pastelaria dos meus pais, a Veneza no Malhangalene, e o jantar era ao sabor de impulsos, apetites que deixava crescerem enquanto a motorizada rolava aguçando vontades. Outras vezes improvisava um ovo estrelado e umas fatias fritas de corned beef enlatado, outras vezes esquecia-me de jantar e disso não me ralava. Mas fui comensal aplicado desse restaurante chinês pelos olhos amendoados da moça chinesa que me atendia e aos quais sorria, e dela e deles também alguns desses carinhos recebia.
Sempre fui ferrenho dos amores platónicos e com atracção pelo original, o gosto pelo toque exótico nas emoções é uma constante. Aqueles olhos, irónicos e divertidos, amigáveis e de bonitos traços orientais, atraÃam-me sempre que as lecas me permitiam seguir o impulso que me conduzia à mesa do restaurante chinês, ao mar de sonhos exóticos que naqueles olhos teimava em sonhar e que intimamente me deliciavam. Não, não estava apaixonado desta vez. Tratava-se tão só dum curso intensivo de gastronomia oriental, servido por uma pitinha a cujos olhos dedicava suspiros entre a sopa wan-tan e o chau-min, ou era (mais) uma paixão secreta dum romântico precoce e ainda hoje inveterado? A tanto não chegou, mas imaginem o quão feliz me sentia quando a via manobrar entre as colegas para ser ela, sempre, quem me atendia…
Terminei. A refeição e o post. Houve uma que trouxe a banana pa-si (sou fã) e o café. Sei, - já sei…, que a conta será ainda outra a trazer-ma. Olho-as nos olhos e busco sinal daqueles outros que a memória das coisas bonitas invoca e não os vejo. Talvez porque já não há paixão nos meus, só saudade. Dum tempo em que acreditava num Éden que lia nuns olhos amendoados, perfeitos, um tempo em que não sentia vergonha por me apaixonar mas sim de o declarar.
Tenho é saudades de mim e da beleza dos amores platónicos, eis como termino o meu post escrito no restaurante chinês de Almeirim.
A vida sexual de Bin Laden
Já há algum tempo que ando em volta dum romance gastrónomo-erótico, o “Eva�.
Nos primeiros episódios lá se misturam uns vinhos com uns acepipes, os mamilos da Eva vão-se eriçando e a história flúi entre travessas de sugestões à mesa para aguçar o paladar, e o leitor, em aprazÃvel salivar, vai desfolhando o imaginário erótico estimulado pelos prazeres de faca, garfo e copo de pé alto.
Até que, lá para o quarto capÃtulo, o Bin Laden aparece e tem uma erecção, dá meia dúzia de tiros em duas infiéis devassas e semi nuas que faziam o aquecimento para uma noite de ardores na casa de banho feminina dum conhecido restaurante de Lisboa. AÃ, todos os que leram estes esboços do ‘Eva’ resmungam que não, que não poderá ser assim e que a vida sexual do Bin Laden é mal vinda à história erótica da ‘Eva’.
Com franqueza! Eu ouço as crÃticas e até pensei em mudar o tipo do turbante por um Mussolini reencarnado, suprimir a personalidade ou por um motorista da Carris a fazer esse serviço à causa divina. Mas não dá, acreditem. Nada me convence que o Bin Laden não tem direito a uma vida sexual, se secreta e com pormenores picantes para capa de tablóide ainda melhor – e cá estou eu para rechear pormenores. Mas o meu público, infiel e embirrento, púdico até mais não dizer quando se trata de sexo politicamente incorrecto, esses zelosos observadores das pernas e pensamentos da Eva embirram com o dito proscrito e as confissões dos seus prazeres secretos.
Eis o dilema que o meu ‘Eva’ vive ainda antes de o elenco emigrar em massa para Xinavane e para calores indutores a prazeres de carne mais exóticos, cariladas a abrilhantar tardes olÃmpicas na cama e na mesa. Eva, Eva, a que pensamentos esta mulher me conduz…
Nos primeiros episódios lá se misturam uns vinhos com uns acepipes, os mamilos da Eva vão-se eriçando e a história flúi entre travessas de sugestões à mesa para aguçar o paladar, e o leitor, em aprazÃvel salivar, vai desfolhando o imaginário erótico estimulado pelos prazeres de faca, garfo e copo de pé alto.
Até que, lá para o quarto capÃtulo, o Bin Laden aparece e tem uma erecção, dá meia dúzia de tiros em duas infiéis devassas e semi nuas que faziam o aquecimento para uma noite de ardores na casa de banho feminina dum conhecido restaurante de Lisboa. AÃ, todos os que leram estes esboços do ‘Eva’ resmungam que não, que não poderá ser assim e que a vida sexual do Bin Laden é mal vinda à história erótica da ‘Eva’.
Com franqueza! Eu ouço as crÃticas e até pensei em mudar o tipo do turbante por um Mussolini reencarnado, suprimir a personalidade ou por um motorista da Carris a fazer esse serviço à causa divina. Mas não dá, acreditem. Nada me convence que o Bin Laden não tem direito a uma vida sexual, se secreta e com pormenores picantes para capa de tablóide ainda melhor – e cá estou eu para rechear pormenores. Mas o meu público, infiel e embirrento, púdico até mais não dizer quando se trata de sexo politicamente incorrecto, esses zelosos observadores das pernas e pensamentos da Eva embirram com o dito proscrito e as confissões dos seus prazeres secretos.
Eis o dilema que o meu ‘Eva’ vive ainda antes de o elenco emigrar em massa para Xinavane e para calores indutores a prazeres de carne mais exóticos, cariladas a abrilhantar tardes olÃmpicas na cama e na mesa. Eva, Eva, a que pensamentos esta mulher me conduz…
Escravatura - 2
Aqui ("Grupo Lourenço Marques/Maputo", outro grupo de discussão MSN de temática luso-moçambicana e constituÃda por membros da diáspora gerada em tsunami pela independência de Moçambique sobre a comunidade de nacionalidade portuguesa lá residente, a discussão sobre o tema da escravatura encoberta que se praticava sob a forma de 'contratos para o rand' está mais aberta, com participações mais activas que trazem leituras alternativas à quela que aliçei.
Aconselho a leitura a quem se interessar pelo tema, e a participação activa nestes Grupos requer prévia inscrição, lá acessÃvel e com fáceis instruções.
A guerra dos fanatismos
Pelo canal 2 apanho mais a imagem que o som da reportagem, mas percebo o essencial.
Que se ficou a conhecer um dos acordos do recente encontro Putin - W.Bush. Luz verde e costas quentes para a mão ligeira e o tiro fácil. Receio o troco que foi concedido a quem tem tantos aviões e 'marines', satélites e mÃsseis.
Acordo que serve a ambos, que se cumprimentam e entre si acordam como donos e senhorios, juÃzes e executores, visionários dotados de musculado fanatismo messiânico à escada das suas visões da parcela de mundo que as suas botas pisam como seu quintal, logradouro imperial.
Não vivemos fatia de história feliz e os nossos dias sairão maltratados na escrita que deles um dia, outros, darão conta.
A minha vaidade
O Miguel, do À Sombra dos Palmares, publicou o meu "Mafalala".
Mais que agradado e contente fiquei envaidecido pela escolha. Mero post-in numa galeria onde as palavras são perenes e especiais, e cantam ao serem sentidas, nestes momentos em que o vento - a selecção natural do tempo que torna perecÃvel o que o é..., ainda não o fez afundar-se em galeria que melhor conhece e merece, neste intervalo em que a cola resiste, agora, sinto-me vaidosamente feliz.
terça-feira, março 08, 2005
Venda de escravos
Aqui, no MOH (grupo de discussão MSN chamado "Moçambique, Ontem & Hoje"), escrevi sobre a palavra que me soou quando vi as imagens que a Chuinga leu no Cª de Moçambique.
A clicagem para a leitura do seu post àquelas , é viagem que sempre aconselharia; mesmo antes de ter percebido nas imagens que nem um analfabeto deixará de nelas ler o que eu, técnicamente ex-colono e descendente de esclavagistas, conseguira. Escravatura, traduzida para português de colónia sob a libertinagem da legal palavra de 'contrato'.
domingo, março 06, 2005
Bonito salto!
NotÃcia tirada do site do jornal "Record", sendo os destaques de minha lavra:
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ATLETA PORTUGUESA GARANTE T�TULO
Europeus pista coberta: Organização atribui ouro a Naide Gomes
A atleta portuguesa Naide Gomes viu hoje ser-lhe atribuÃda a medalha de ouro da competição de salto em comprimento dos Europeus de pista coberta de Madrid, de acordo com a decisão do júri, que acordou ainda atribuir duas medalhas de bronze. Segundo a agência France Press (AFP), que citou fonte da organização do evento, Naide Gomes ficou com a medalha de ouro, após um salto a 6,70 metros, a grega Stiliani Pilatou sagrou-se vice-campeã (6,64), enquanto a romena Adina Anton (6,59) e a alemã Bianca Kappler, que ficará sem melhor marca oficialmente, vão receber ambas a medalha de bronze.
A decisão do júri da prova de salto em comprimento surgiu na sequência das próprias declarações da saltadora germânica no final da prova, em que Kappler admitia não merecer o tÃtulo de campeã da Europa, atribuindo a sua marca (6,96) a um erro de inserção.
No final da prova, em que era atribuÃdo o tÃtulo à alemã, surgiram inúmeros protestos por parte da comitiva portuguesa e das outras delegações presentes, tendo o júri admitido o erro. Inicialmente, ficou decidido repetir o salto da saltadora germânica no inÃcio da tarde de hoje, mas Kappler recusou-se a saltar, alegando que a falta de concorrência ia prejudicar a sua prova. Com a recusa da germânica em saltar, a organização teve de tomar uma decisão, optando por atribuir a medalha de ouro a Gomes e duas medalhas de bronze. Decisão justa para todos.
O júri de apelo, constituÃdo pelo cipriota Antonios Dracos - rendeu o português Jorge Salcedo -, pela austrÃaca Erika Strasser e pelo croata Frano Leko, considerou que a decisão de atribuir duas medalhas de bronze "é da maior equidade para as competidoras e para o espÃrito da competição". Os responsáveis dos Europeus de Madrid consideraram, depois de analisar o recurso da Alemanha, que o equipamento de medição estava operacional e que, pela análise ao vÃdeo da prova, a medição não foi correcta. De acordo com o comunicado emitido hoje, o júri de apelo lamenta não dispor dos meios para estabelecer uma medição correcta, tendo ainda destacado o comportamento e o espÃrito desportivo da atleta germânica. No documento, o júri considera que seria incorrecto privar qualquer uma das atletas de uma medalha e que Kappler, com o salto, teria muito provavelmente conquistado uma medalha, pelo que decidiu atribuir uma medalha de bronze à saltadora alemã.
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Bonita a atitude da Kappler. Invulgar, infelizmente, e por isso ainda mais bonita.
Nem que eu fosse alemão e não português, aplaudia sempre. Para mim e com esta atitude a Kappler ganhou outro ouro, o que reveste a medalha da credibilidade de carácter na selva de invejas e egos, hipocrisias e mentiras, em que o desporto profissional está transformado.
sábado, março 05, 2005
...
Até porque espicaçado por um comentário que a Chuinguita deixou ao post anterior, se calhar deveria estar a escrever sobre o valor especÃfico duma papada mas não estou. Porque queria dizer que quando a qualidade é escassa para a obra a fazer, há que procurar pessoas aptas a fazer um serviço, e não um serviço que sirva à s pessoas.
Mas não é sobre nada do XVII Governo (II de engenheiros) que vou falar. É sobre este este silêncio que me rodeia, tantas vezes sonhado mas opressivo que é, estranho e pertubante porque acentua a solidão. A Webina foi visitar o pai que anda com problemas de saúde e eu fiquei com a Webita, pois tem espectáculos hoje e amanhã na Expo Criança, intalações do CNEMA em Santarém. O desta tarde é a primeira apresentação a seguir à sua estreia, o 'Espanta Pardais' que aqui referi há uma semana atrás, e por isso só vou ver a amanhã o 'Olha Olha' que foi estreado em Dezembro e só vi mais uma vez.
Este silêncio que vigora e onde escrevo é excessivo e sinto-me mal com ele. Medo. É isso. Medo de um dia me sentir assim, só e longe da famÃlia.
Bem, com este estado de espÃrito acho que só voltarei à net para a próxima semana. Este serão penso fazer uma jogatana de Monopólio daquelas para memorial. Vou levar a miúda à falência, tragédia essa que será inédita pois ela costuma levar-me à certa mas, como diz o povo, há sempre o dia que chega e as contas acertam-se todas :-)
Se o serão for propÃcio a estender-se por mais longe ainda tentarei ver o GP que, penso será à s três da madrugada. O Tiago Monteiro está com febre, lê-se no jornal de hoje. Eis a explicação para o susto que tive quanto li os tempos do primeiro treino e vi-o a quase um segundo do colega, o indiano com um nome esquisito. É que, pelo currÃculo dele, ainda é mais piloto-pagante que o Tiago (tem o grupo Tata, um colosso), e mesmo no seu paÃs não era considerado piloto de excepção. Agora, claro está, não vale a pena perguntar a um indiano se ele é bom ou não pois, sendo o primeiro lá da zona a ascender ao topo deve ser um novo Fittipaldi para a malta vrum-vrum e mesmo para os que não têm o paladar assim apurado.
Ah..., e quero contar-vos uma coisa e já termino: ontem recebi as primeiras provas do livro para uma última correcção. Quando olhei para o envelope e vi de onde vinha soube logo o que trazia, mas quando o rasguei e os dedos correram pela carta confirmatória, o contrato já assinado pelo editor e, muito principalmente, as minhas folhas de sonhos e esperanças que por aqui coleccionei num ano, aà houve uma puta duma lágrima que se soltou.
Para dar vazão à minha alegria nessa noite escrevi um mail ao editor, e quase que saÃa um romance, salteado nos temas mas coisa aà para umas quatro folhas A4, escritas de cima a baixo. Acho que ele, em próximo contrato para o qual eu já estou a trabalhar (tenho um 'Demmis' e uma 'Eva' já adiantados) porá cláusula que inibirá ao Contratante Autor o acesso à caixa de correio do Contratante Editor!
E assim me despeço. Acreditam que ainda não vi um único segundo de televisão, hoje? Nem com o novo governo nem com a queda do antigo e as desventuras profissionais dos seus tristes figurantes. Comprei o 'Expresso' e li as gordas, amanhã no café da Expo Criança e antes do espectáculo da Carla é que vou olhar melhor para a coligada ementa que nos foi mui democráticamente servida. Nunca vi flor mais ambÃgua que a rosa...
Adeus, a Carla acabou de chegar. Até segunda ou terça-feira, muito provavelmente.
quarta-feira, março 02, 2005
Test-drive
Tendo a Escort recolhido a curros por falta de combatividade viária e para descobrir soluções para mistérios mecânicos inadiáveis, eis que por providência terrena vejo-me empossado em máquina modernaça e de mecânica para mim inovadora, provavelmente com o dobro da quilometragem que a mui querida e semper fidelis Escort, mas com luxos tecnológicos que muito me impressionaram.
Desde já destaco uma direcção assistida que caiu que nem ginjas no meu gosto, idade e preguiça, e um extraordinário comando electrónico de abertura das portas incorporado no chaveiro, maravilha que me deliciou a testar. Para além disto e que já não é pouco, embora da mesma fornada etária da minha irredutÃvel bolsadora de óleo, o carro que o João Carapinha entregou a estas sábias mãos ainda lhes trouxe uma quase estreia, um motor da tão falada tecnologia diesel, modernismo de que já tinha ouvido falar em como proliferava a eito pelas ruas e estradas, mas que, algo relutante como sou em acolitar inovações tecnológicas que ainda considero insuficientemente testadas, ainda não tinha tirado prumo e peso para além dumas voltas com a vetusta 504 dum dos meus mecânicos militantes.
Mas antes das impressões de condução à máquina em causa (um Citroen ZX, não sei se conhecem), um pequeno resumo de como a jóia me veio cair em mãos – em boa hora pois soara o gongo para uma inadiável operação cirúrgica de alto risco às entranhas e juntas da dita e amada Escort, petit nom “Mulliner�.
O João, embora o negue com estranha veemência, é colega do José Castelo-Branco, é um marchand. Nem de arte sacra nem de Picassos ou Goyas, não é especializado nas cenas marÃtimas de Turner ou nas simetrias cromáticas de Vieira da Silva. De facto e de jure ele vende-os a todos e pelo mesmo reduzido preço, sem discriminar estilos ou fiar-se em cotações de galerias. Para ele um Van Gogh é tão consagrado para iluminar um recanto da sala do cliente como um Hooper, um Chichorro, um sei lá quem desde que o cheque tenha provisão suficiente.
Como em tudo, não há segredo no negócio. Algures em Barcelona o João tem um associado, o Pablo que é basco e bom rapaz e tem mão firme para o pincel. O computador traça na tela as linhas marginais e o Pablo e um brasuca que também está vocacionado para as artes plásticas entretêm-se a encher os contornos com sábias misturas de tons que reproduzem em bom rigor e à vista desarmada uns girassóis do Van Gogh mais depressa que o Mestre corta uma orelha.
Para viabilizar o negócio destas reproduções (assim são comercializadas, nada de más interpretações), as sessões de trabalho artÃstico são temáticas conforme a carteira de encomendas que o Carapinha e outros Joões por essa Europa fora e-mailam para Barcelona. Assim, se na terça-feira à noite enfileiram-se uma dúzia de 'Marilyn's' do Andy Wahrol, já na quarta não existem pruridos estéticos em esgalhar outra dúzia de Kokhoskas, Picassos, haja clientes que até Malangatanas de lá saiem… Mas o Pablo e o amigo brasileiro não se entusiasmam a assinar e é com orgulho legitimamente igual ao dos Mestres que rabiscam o seu verdadeiro nome baptismal, nada de embustes ao cliente ou falsificações ao espólio artÃstico mundial que enche os seus infindáveis catálogos.
Eu suspeito – não lhe digam por favor…, que, se em vez dos cinquenta euros habituais se oferecerem outros tantos ou mais alguns, o Pablo fechará um olho e estender-se-á no rabisco, e acrescentará o apelido mais famoso das artes plásticas... mas é mera suspeita falha de consistência, e por certa filha da euforia humorÃstica que tive ao reencontrar o João, trinta e tal anos depois, convertido de hippy em marchand de arte… E os factos nem a tal induzem pois tenho em meu poder e graciosamente oferecido um lindÃssimo Brotero com assinatura basca.
Ora bem, feito o marchand-intróito e voltando ao test-drive, como o Carapinha foi combater a crise das vendas para as ilhas e por semana e meia, face à s minhas conhecidas e anunciadas dificuldades de locomoção, à nossa amizade, e, por certo, à sua curiosidade sobre que impressões de condução resultariam da minha mudança dum ‘Mulliner’ para a sua bomba tecnológica, coisa modernaça e a diesel locomovida e que restaria abandonada durante o exÃlio ilhéu, eis que na terça-feira levei-o ao aeroporto com meia tonelada de telas e um saquito com uma muda de roupa, tendo recebido durante a viagem vasto e pormenorizado manual de instruções de utilização e cuidados a ter.
À porta da garagem aérea disse-lhe “bái-báiâ€� e ala para a estrada aquilatar qualidades apregoadas e o peso intrÃnseco da novidade em mãos. Embora seja embaraçadora verdade que enganei-me quatro vezes no caminho até apanhar vias conhecidas, de tais agruras não posso inculpar a viatura pelo que a tais pormenores deixo cair o meu envergonhado silêncio e apelo à vossa compreensiva cumplicidade para não me soltarem a pena a tais factos, pois a lÃngua foi monologamente brejeira enquanto durou tal desnorte viário. Daqui a dez dias vou apressar-me a fazer contas da Via Verde com o João, antes que a factura chegue e ele se admire em como, para ir de Lisboa ao Ribatejo, tenha de ir a Loures duas vezes ou, um ‘até’ envergonhado…, à AE para Leiria.
Com tais voltas e impropérios a noite caiu mansamente sobre o desagradável ruÃdo do motor diesel, e a iluminação do testado pareceu-me eficaz. Se as placas sinalizadoras não me foram legÃveis q.b., há culpas em cartório "brisesco" e não no das lâmpadas e alcance das mesmas. Sei lá eu para onde vai a A8 ou a B15 ou o raio que os parta... custava-lhes assim tanto escreverem 'Almeirim'?
Desde já destaco uma direcção assistida que caiu que nem ginjas no meu gosto, idade e preguiça, e um extraordinário comando electrónico de abertura das portas incorporado no chaveiro, maravilha que me deliciou a testar. Para além disto e que já não é pouco, embora da mesma fornada etária da minha irredutÃvel bolsadora de óleo, o carro que o João Carapinha entregou a estas sábias mãos ainda lhes trouxe uma quase estreia, um motor da tão falada tecnologia diesel, modernismo de que já tinha ouvido falar em como proliferava a eito pelas ruas e estradas, mas que, algo relutante como sou em acolitar inovações tecnológicas que ainda considero insuficientemente testadas, ainda não tinha tirado prumo e peso para além dumas voltas com a vetusta 504 dum dos meus mecânicos militantes.
Mas antes das impressões de condução à máquina em causa (um Citroen ZX, não sei se conhecem), um pequeno resumo de como a jóia me veio cair em mãos – em boa hora pois soara o gongo para uma inadiável operação cirúrgica de alto risco às entranhas e juntas da dita e amada Escort, petit nom “Mulliner�.
O João, embora o negue com estranha veemência, é colega do José Castelo-Branco, é um marchand. Nem de arte sacra nem de Picassos ou Goyas, não é especializado nas cenas marÃtimas de Turner ou nas simetrias cromáticas de Vieira da Silva. De facto e de jure ele vende-os a todos e pelo mesmo reduzido preço, sem discriminar estilos ou fiar-se em cotações de galerias. Para ele um Van Gogh é tão consagrado para iluminar um recanto da sala do cliente como um Hooper, um Chichorro, um sei lá quem desde que o cheque tenha provisão suficiente.
Como em tudo, não há segredo no negócio. Algures em Barcelona o João tem um associado, o Pablo que é basco e bom rapaz e tem mão firme para o pincel. O computador traça na tela as linhas marginais e o Pablo e um brasuca que também está vocacionado para as artes plásticas entretêm-se a encher os contornos com sábias misturas de tons que reproduzem em bom rigor e à vista desarmada uns girassóis do Van Gogh mais depressa que o Mestre corta uma orelha.
Para viabilizar o negócio destas reproduções (assim são comercializadas, nada de más interpretações), as sessões de trabalho artÃstico são temáticas conforme a carteira de encomendas que o Carapinha e outros Joões por essa Europa fora e-mailam para Barcelona. Assim, se na terça-feira à noite enfileiram-se uma dúzia de 'Marilyn's' do Andy Wahrol, já na quarta não existem pruridos estéticos em esgalhar outra dúzia de Kokhoskas, Picassos, haja clientes que até Malangatanas de lá saiem… Mas o Pablo e o amigo brasileiro não se entusiasmam a assinar e é com orgulho legitimamente igual ao dos Mestres que rabiscam o seu verdadeiro nome baptismal, nada de embustes ao cliente ou falsificações ao espólio artÃstico mundial que enche os seus infindáveis catálogos.
Eu suspeito – não lhe digam por favor…, que, se em vez dos cinquenta euros habituais se oferecerem outros tantos ou mais alguns, o Pablo fechará um olho e estender-se-á no rabisco, e acrescentará o apelido mais famoso das artes plásticas... mas é mera suspeita falha de consistência, e por certa filha da euforia humorÃstica que tive ao reencontrar o João, trinta e tal anos depois, convertido de hippy em marchand de arte… E os factos nem a tal induzem pois tenho em meu poder e graciosamente oferecido um lindÃssimo Brotero com assinatura basca.
Ora bem, feito o marchand-intróito e voltando ao test-drive, como o Carapinha foi combater a crise das vendas para as ilhas e por semana e meia, face à s minhas conhecidas e anunciadas dificuldades de locomoção, à nossa amizade, e, por certo, à sua curiosidade sobre que impressões de condução resultariam da minha mudança dum ‘Mulliner’ para a sua bomba tecnológica, coisa modernaça e a diesel locomovida e que restaria abandonada durante o exÃlio ilhéu, eis que na terça-feira levei-o ao aeroporto com meia tonelada de telas e um saquito com uma muda de roupa, tendo recebido durante a viagem vasto e pormenorizado manual de instruções de utilização e cuidados a ter.
À porta da garagem aérea disse-lhe “bái-báiâ€� e ala para a estrada aquilatar qualidades apregoadas e o peso intrÃnseco da novidade em mãos. Embora seja embaraçadora verdade que enganei-me quatro vezes no caminho até apanhar vias conhecidas, de tais agruras não posso inculpar a viatura pelo que a tais pormenores deixo cair o meu envergonhado silêncio e apelo à vossa compreensiva cumplicidade para não me soltarem a pena a tais factos, pois a lÃngua foi monologamente brejeira enquanto durou tal desnorte viário. Daqui a dez dias vou apressar-me a fazer contas da Via Verde com o João, antes que a factura chegue e ele se admire em como, para ir de Lisboa ao Ribatejo, tenha de ir a Loures duas vezes ou, um ‘até’ envergonhado…, à AE para Leiria.
Com tais voltas e impropérios a noite caiu mansamente sobre o desagradável ruÃdo do motor diesel, e a iluminação do testado pareceu-me eficaz. Se as placas sinalizadoras não me foram legÃveis q.b., há culpas em cartório "brisesco" e não no das lâmpadas e alcance das mesmas. Sei lá eu para onde vai a A8 ou a B15 ou o raio que os parta... custava-lhes assim tanto escreverem 'Almeirim'?
Um satisfaz nada relutante neste campo, iluminação, que já me estende para um feliz à parte que não posso esquivar-me a relatar: aquando da apreensiva transmissão de volante, o João, sorriso amarelo e tom preocupado, referiu que a iluminação do tablier nem sempre funcionava, cisma que - confidenciei para os botões que me abrigavam deste frio inclemente, eu atribuÃa mais a taras e manias próprias dum carro que tem um condutor marchand de réplicas do que a verdadeira avaria; em feliz realidade, na citada noite e desvarios rodoviários, o tablier iluminou-se qual árvore de natal, coisa que muito me agradou na solidão das insondáveis vias verdes que trilhei.
O motor diesel cumpre a sua função de forma pachorrenta e constante, sem oscilações de rotações acentuadas, e até permitiu que, em descida, ultrapassasse os dois camiões que me achincalharam na subida antecessora. Se não é um ‘Mulliner’, também tem vergonha na cara e, em descida, puxa de brios insuspeitos.
Quanto a conforto a opinião é positiva mas com naturais reservas: reconheço que saà da aventura rodoviária com as cruzes e os ossos do rabo mais bem tratados do que resultaria de tal saga na Escort, mas não me admiro muito pois há razões tecnológicas para aliçar a esse capitulo. É que - avisou-me preocupadamente o João Carapinha, o carro sub júdice tem um dos amortecedores de trás avariado… aos tais botões que impedem que a minha carne e ossos congelem confidenciei que a internada, a minha Escort-Mulliner, já de há muito que não dá utilidade a tais acessórios com as naturais consequências para o meu humor e conforto… portanto, nesse capÃtulo, outorgo-lhe um prudente satisfaz.
O seu equipamento pareceu-me completo e suficiente. Como a Escort, tem um espelho interior e dois exteriores, um rádio que trabalha mal e – luxo dos luxos…, um isqueiro operacional. Efectivamente há boas-novas na indústria automóvel e delas aqui deixo o meu testemunho.
Hoje o test-drive foi urbano pois tive de me deslocar na cidade para fazer pequenas maldades (boas novas telefónicas apontam como data de entrega da rejuvenescida Escort a próxima sexta-feira, o mais tardar). No âmbito de uma utilização exclusivamente urbana a sua direcção assistida é uma mais-valia de ouro, tendo abdicado de procurar espaços aptos a camiões TIR para parquear e, com sorriso rasgado de haste a haste dos meus óculos curiosos, até consegui estacionar o Citroen ZX num lugar deixado vago por uma Ford Transit dum rapaz cigano que mora aqui perto e eu conheço, e que, uma vez… essa conto depois, agora vou brincar com o telecomando electrónico das portas.
Fim do test-drive.
1 - Por razões óbvias os nomes de personagens referidos são ficcionados;
2 - Este post é dedicado aos irmãos Morgan, pais do carro com o mesmo nome e Ãcone duma indústria automóvel quixotesca que desapareceu; como exemplo classificativo, refiro que, embora a marca tenha surgido em finais do séc. XIX, só lá para os anos trinta do finado ‘vinte’ é que os manos se convenceram da bondade da solução de quatro rodas para um automóvel.
De facto o Morgan Three Whells só nessa altura deu lugar ao Four-Four que dura até à actualidade, quase intacto em soluções e design; com a particularidade de o seu chassis continuar a ser construÃdo em madeira de alta qualidade e resistência, pois entenderão os técnicos da casa que ainda será cedo para uma mudança tão radical como será a para a idade do metal.
É verdade que o neto dum dos fundadores e actual patrão da marca, certamente já farto de ser gozado pelos seus colegas industriais do ramo aquando dos fins de tarde que eu imagino que partilharão nos club’s londrinos, no inÃcio do actual século decidiu modernizar a gama e acrescentar-lhe produto novo, moderno, com chassis high-tech, em alumÃnio moldado.
É o Aero 8, produto que se quis tão inovador que se assemelha a cruzamento bastardo dum ‘batmóvel’ com um dos clássicos Morgan… Mas lá pela casa não há preocupações com modas que são sempre olhadas como volúveis e passageiras, dado esperar-se uma vida útil ao neófito igual à do seu vetusto antecessor.
Longa vida aos sonhadores!
O motor diesel cumpre a sua função de forma pachorrenta e constante, sem oscilações de rotações acentuadas, e até permitiu que, em descida, ultrapassasse os dois camiões que me achincalharam na subida antecessora. Se não é um ‘Mulliner’, também tem vergonha na cara e, em descida, puxa de brios insuspeitos.
Quanto a conforto a opinião é positiva mas com naturais reservas: reconheço que saà da aventura rodoviária com as cruzes e os ossos do rabo mais bem tratados do que resultaria de tal saga na Escort, mas não me admiro muito pois há razões tecnológicas para aliçar a esse capitulo. É que - avisou-me preocupadamente o João Carapinha, o carro sub júdice tem um dos amortecedores de trás avariado… aos tais botões que impedem que a minha carne e ossos congelem confidenciei que a internada, a minha Escort-Mulliner, já de há muito que não dá utilidade a tais acessórios com as naturais consequências para o meu humor e conforto… portanto, nesse capÃtulo, outorgo-lhe um prudente satisfaz.
O seu equipamento pareceu-me completo e suficiente. Como a Escort, tem um espelho interior e dois exteriores, um rádio que trabalha mal e – luxo dos luxos…, um isqueiro operacional. Efectivamente há boas-novas na indústria automóvel e delas aqui deixo o meu testemunho.
Hoje o test-drive foi urbano pois tive de me deslocar na cidade para fazer pequenas maldades (boas novas telefónicas apontam como data de entrega da rejuvenescida Escort a próxima sexta-feira, o mais tardar). No âmbito de uma utilização exclusivamente urbana a sua direcção assistida é uma mais-valia de ouro, tendo abdicado de procurar espaços aptos a camiões TIR para parquear e, com sorriso rasgado de haste a haste dos meus óculos curiosos, até consegui estacionar o Citroen ZX num lugar deixado vago por uma Ford Transit dum rapaz cigano que mora aqui perto e eu conheço, e que, uma vez… essa conto depois, agora vou brincar com o telecomando electrónico das portas.
Fim do test-drive.
1 - Por razões óbvias os nomes de personagens referidos são ficcionados;
2 - Este post é dedicado aos irmãos Morgan, pais do carro com o mesmo nome e Ãcone duma indústria automóvel quixotesca que desapareceu; como exemplo classificativo, refiro que, embora a marca tenha surgido em finais do séc. XIX, só lá para os anos trinta do finado ‘vinte’ é que os manos se convenceram da bondade da solução de quatro rodas para um automóvel.
De facto o Morgan Three Whells só nessa altura deu lugar ao Four-Four que dura até à actualidade, quase intacto em soluções e design; com a particularidade de o seu chassis continuar a ser construÃdo em madeira de alta qualidade e resistência, pois entenderão os técnicos da casa que ainda será cedo para uma mudança tão radical como será a para a idade do metal.
É verdade que o neto dum dos fundadores e actual patrão da marca, certamente já farto de ser gozado pelos seus colegas industriais do ramo aquando dos fins de tarde que eu imagino que partilharão nos club’s londrinos, no inÃcio do actual século decidiu modernizar a gama e acrescentar-lhe produto novo, moderno, com chassis high-tech, em alumÃnio moldado.
É o Aero 8, produto que se quis tão inovador que se assemelha a cruzamento bastardo dum ‘batmóvel’ com um dos clássicos Morgan… Mas lá pela casa não há preocupações com modas que são sempre olhadas como volúveis e passageiras, dado esperar-se uma vida útil ao neófito igual à do seu vetusto antecessor.
Longa vida aos sonhadores!
O tabagismo
Todos os que fumam querem parar de fazê-lo, pela saúde, pelo dinheiro, pela pressão social e porque estão fartos desta toxicodependência socialmente tolerada.
O Estado, para não ser rotulado de hipócrita como autor de prolÃfera legislação anti-tabaco e gordo tributador do tabagismo, criou nos seus serviços de saúde consultas de auxÃlio para todos os que querem largar o vÃcio. Ainda lá não fui mas já conversei com quem conhece a sua operacionalidade. É assim:
Na primeira consulta, feito o historial de hábitos de consumo e revisto na rama o de saúde do interessado, segue-se a positiva e inevitável conversa indutora e profiláctica com o 'doente', um quarto de hora de psicologia convencional que passa pelas frases feitas de "se chegou até aqui é porque realmente quer largar", "é necessária força de vontade e você têm-a", "tem uma idade perigosa em riscos coronários", etc.
Óptimo, e nova consulta daqui a três semanas, a agenda assim o dita. Nem uma semana duram as boas intenções, e na espera para o atendimento na consulta seguinte até há um cigarrito que é sorvido, envergonhadamente, à porta dos serviços médicos. Segue-se a confissão do fracasso da vontade, a sugestão de que um auxÃlio quÃmico talvez permita esbater a carência de nicotinas e quejandos que o corpo reclama na abstinência fracassada.
"Sim, claro, há produtos no mercado que auxiliam o 'desmame', embora a vontade do próprio seja fundamental"; "Sim, indico-lhe um"; "Não, não é comparticipado".
Na farmácia e após contas feitas até à data da próxima consulta - um mês, a agenda dita..., há conclusões desinteressantes para o orçamento do Estado: mais que a abusiva percentagem que deixará o erário de todos de recolher nesse perÃodo, maço a maço, prego a prego, mais que isso irá para as contas bancárias das farmácias e dos laboratórios, dos congressos em Pequim ou nas Canárias, com contrapartida de colecta estatal imprevisÃvel pois o imposto deixa de ser pago pelo Zé Fumante e à cabeça, passando para a larga peneira do IRC.
"um maço de Gauloises, por favor" (e merda para tanto cinismo e hipocrisia, já agora - diz um que irá conhecer a morte prematura, taxada em vida como luxo por um Estado que deveria, agradecido, pagar o caixão aos fumadores)
Perguntas aos cavaquistas, aos guterristas, aos...
Quantos milhões foram gastos em AE e quantos foram gastos em caminhos de ferro?
Porque é que, vias de comunicação, o paÃs foi 'modernizado' tendo por objectivo exclusivo favorecer a locomoção automóvel e não as alternativas?
Sendo a Alemanha, exemplo, um modelo a perseguir em tanta coisa e nas AE também, porque é que o mapa daquele paÃs está coberto por uma malha fina ferroviária que permite, exemplo, um turismo ferroviário que em Portugal não existe, assim tornando o carro pessoal (poluidor, caro e estatÃsticamente assassino) indispensável ao cidadão, seja no seu dia-a-dia laboral como nos tempos livres?
Agradeço respostas para o meu e-mail, coluna da esquerda e ao cimo, sem 'spam' polÃtico por favor.
Fazer o certo
Projecto de diploma legal, à atenção dos novos ministros das pastas pertinentes:
1º - Como equipamento indispensável para a obtenção da licença de habitabilidade, todos os novos edifÃcios habitacionais terão de possuir equipamento para aproveitamento da energia solar;
2º - Para os edifÃcios construÃdos a partir de (exemplo) 1 de Janeiro de 1960 é fixado o prazo de cinco anos para instalação deste equipamento;
3º - Das verbas arrecadas pelo OE no âmbito do Imposto sobre CombustÃveis será afectada a percentagem de (exemplo) 0,5% para suporte estatal de metade da despesa com a aplicação do disposto no artigo 2º.
Não me parece descabido e há que começar a poupar energia em atitudes concretas e não em mais toneladas de papel de estudos, cujo fim pouco variável é serem arquivadas - claro que após os competentes honorários pagos*...
* esta sugestão é de borla
Poluição ambiental
Enquanto um amigo trata dos seus negócios numa terra que só conheço de passagem, procuro forma de 'queimar' entre meia e uma hora.
Sem critério em experiência formado, olho com agrado uma pastelaria de aspecto agradável, cuidado, e com poucas mesas ocupadas. Ideal para uma leitura de jornal, quem sabe um postezito jeitoso...
Lá dentro e pendurada do tecto está a Marina Mota aos berros, e a empregada (dona?), ao balcão, olha-a embevecida, surda ao conforto dos clientes.
Bebi uma bica e saÃ, e escrevo este post encostado a uma coluna do prédio fronteiro mais uma vez triste crente que estes desiquilÃbrios comportamentais da nossa sociedade são insanáveis enquanto as pessoas (se) ensurdecerem para não terem a chatisse de pensar.
A arquitectura de interiores é realmente um problema nacional.
Exéquias televisivas
Ontem assisti ao ensaio geral televisivo (RTP 1, serão das tantas às tantas).
Nem que só padecesse de um dente cariado, se aquela reportagem tratasse de mim, convencia-me de que tinha um tumor na boca e trataria de me suicidar para não defraudar o realizador do meu enterro antecipado.