quarta-feira, abril 20, 2005

A propósito do "habemus"

Estou farto do deita abaixo gratuito, do clubismo ideológico, desculpas rotas e máscaras de mau gosto para caracteres maus. Faccioso, falso, maldizente e de má índole pois não acredito que os seus autores não saibam, ao praticá-lo, o quão boçal é a sua atitude, pornográfica, injusta, brejeira no insulto fácil.

Li Hitler, Debord, Lenine, até os inenarráveis Kim Il-Sung e Enver Hoxha. E Samora Machel, Salazar e Otelo, Maiakovsky, Bakunine e Bertolt Brecht, Marcuse e David Cooper, Reich, Tourainne, toda essa tralha infindável que todos lemos com acertos pontuais aos nomes. Alguma coisa aprendi, meio-meio entre o que me ensinaram e o que deles li e reprovei, e assim também aprendi. Aprendi também a respeitar. Quando escrevo sobre um acontecimento social ou político, ou nele reflicto, guio-me pelo muito aprendido mas entrincheirado por princípios que exigem argumentos muito fortes para serem ultrapassados É esse o outro livro que tenho sempre aberto, até porque sou eu que o escrevo. Hoje pouco leio pois cansam-me as leituras de fôlego, que já não tenho. As páginas demoram demais a ser viradas pois sopeso as palavras com mais rigor, já não me sinto numa aula e não tenho ídolos. Leio a minha blogosfera e dois jornais generalistas.

Isto tudo para dizer que o insulto porco (post de André Esteves, "Não se esqueçam do saquinho", de 19 de Abril) mete-me asco, e não lhe vejo qualquer justificação ideológica, filosófica, e aterroriza-me a ideia da sua praxis (não dialéctica) se, eventualmente, assim for considerado. Para ele não vejo qualquer atenuante, ainda para mais quando a discussão deveria incidir sobre a instituição/estado/modelo/cargo e não resvalar para o chinelo sujo do insulto personalizado. Ainda para mais a tresandar a xenófobo e mais qualquer coisa cujo cheiro ainda não distingui bem - mas que está lá e cheira muito mal.

Segunda parte do post, lembrado por este primeiro.

Tenho dois "amigos" na blogosfera, daqueles em que a empatia com as escritas foi-se perpetuando e desejamo-la mútua, mas sem qualquer tipo de conhecimento que ultrapasse a má palavra 'virtual'. Ambos polemistas natos e bem equipados, e naquela fase em que a génese ideológica é importante nas avaliações. E desculpem lá as deduções, melhor: convençam este cabeça-dura armado em net-psi que está enganado:

Um, o João Tunes (Bota Acima 1, 2, Água Lisa 1 e 2, o homem escreve para caramba!) pela-se por uma polémica acesa e eu, sei lá como e com que ginásticas e chiquelinas, tenho-me safo à sua artilharia bem oleada e com a benesse dum longo estágio que a minha fisga nunca teve.

Outro, o jpt do actual Ma-Schamba, antes e ao mesmo tempo do Maschamba, e doutro terreno de que perdi o link (tanta caderneta predial...), tem maus fígados e, como tem acessos de rigor ideológico, canaliza e exacerba os fanatismos para a camisola clubista, em desequilíbrio tal que se suspeita ser forçado para que nada deles reste nas outras leituras e avaliações, assim o sonhará, sei lá se o consegue ou conseguirá.

São ambos minha leitura indispensável e, deste ano e tal em que somos vizinhos e todos os dias 'conversamos' lendo(-nos) sobre o "mundo ou a terrinha, um livro ou um filme, pitas ou futebol", por isto tudo vamo-nos conhecendo e, daí, a minha referência à amizade que adiantei previamente como o sentimento adequado. Já sei que o jpt com tal não concorda, e calculo que o João estabeleça dúvidas, ambos em relação à valia de sentimentos nascidos e mantidos via Internet, sem o 'cheiro' dos corpos. Como imaginar apetitosa uma receita pela sua leitura mas recear que, no prato, seja repugnante ou parecida com nada, vulgar. Mas eu acredito que seria natural amigo de tantos autores que li, e pelo que deles li e com que me identifiquei, que não hesito em manter igual critério na blogosfera, em concreto os citados. Admiro mais a escrita que a oralidade, e o bom que ela me traga suplanta-me sem esforço eventuais tiques pessoais que o corpo da mente tenha.

Não me levem a mal esta conversa tão pública e personalizada. É pretexto para divagar palavrinhas sobre tantas coisas, e porque não falar dos amigos, até para mais se estão presentes? Afinal este café é pequenino e a reduzida freguesia é toda boa gente, caras do dia-a-dia, bica e jornal diário de cada um pois todos nos lemos uns aos outros. As vossas caixas de comentários são por certo esplanadas com mais frequência que este cantinho de bica-e-bolo em pé, miradela aos títulos.

A ligação com o "habemus":

Ontem o jpt soltou meia dúzia de palavras com vontade de berrar mil, e assim soavam. Tanto que depois as escreveu, duplicou, senti um 'mau momento', como depois me corrigi após tê-las chamado de 'mau feitio'. Na descarga duplicada de adrenalina acumulada, caixa dos comentários, ele referiu exemplos para a sua azia, nem fui lê-los pois acredito na fidelidade das menções. Mas há o eco, e não sou surdo, felizmente. Ouço gritaria em excesso, stress, quando leio meia dúzia de palavras leio lábios mordidos.
Antes, aqui, já lera maus humores que me pareceram descabidos. Ontem, caso citado, vi um vulcão prestes a implodir se não houvesse 'descarga' - como houve na caixa de comentários, e tudo por causa da histeria bloguística com o novo Papa. E penso para mim: o que ele diria (e escreveria?) se tivesse visto a alarvidade que serviu de princípio/tema a este post alençoado... que se passa, jpt? não há um exagero nessas reacções às 'banais' palermices e pavoneios alheios? como poderá o mundo sobreviver se desligarmos o nosso computador ou quando fechamos os olhos?

Post esse que o João hoje ecoou, sem palavras suas mas ecoou, ao duplicar a imagem do cão embora com suporte palavroso distinto do post em que centrei baterias. O que, está mesmo a ver-se, desagradou-me e, lá, na caixa de comentários dele e na do post em causa, assim o manifestei como o faria se a conversa fosse em volta de mesa de café. A tal "diferença" que garante às leituras diárias serem um prazer foi arranhada, e o arranhão doeu-me na pele como se eu próprio o tivesse feito, borrada.

Enquanto escrevia ia-me recordando de qualquer coisa que tinha lido algures e parecia-me citação oportuna, segui o faro e dei com ela que transcrevo para terminar.

"...Nós apenas organizamos o detonador; a livre explosão deverá subtrair-se-nos para sempre, e subtrair-se também a qualquer outro controle."

(in nº 8 da revista 'Internacional Situacionista', 1963, conforme pág. 11 do livro "Antologia - Internacional Situacionista", editora Antígona, tradução de 1997 duma edição holandesa de 1970)

Se este post vier a dar 'bronca' não sei como me vou ater nela. Como disse atrás - e insisto no repetir para que fique claro, não tenho vocação ou jeito polemista, sendo que as receio e aquele nasce do reconhecimento das minhas dúvidas pessoais, limitações, impreparações, afinal brutal carências que me fazem sempre o ouvinte mais atento e calado da sala. E peço desculpa por ter levantado o dedo para falar.

Aproveito a boleia deste metro-e-meio de tecido para dar conta da situação do meu zombie-blogue: os textos anteriores são irrecuperáveis por meios normais, têm de ser consertados um a um e à mão. Portanto fi-lo até ao texto da minha filha Carla, "O Natal da Vanda", o resto fica para a aposentação. Enfim, partir uma perna é mais doloroso.

13 Comments:

Blogger th said...

Quando eu digo: "Agora virou à esquerda...lol", quero mesmo dizer que a tua escrita É do lado esq. do blog...lol.
Agora tens que ver os links deste post que clicados vão todos dar aqui, ao Xicuembo...não tá certo, pá...lol
Puxão de orelhas hoje para ele...
th

quarta-feira, abril 20, 2005 11:59:00 da tarde  
Blogger Carlos Gil said...

já consertei os links, Theo... se seria de mim sem a tua vigilância?
Beijito

quinta-feira, abril 21, 2005 12:10:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Há momentos menos felizes. Um post que coloquei intitulado Sobre um ?Pastor Alemão? recebeu críticas. Uma delas, a do Carlos Gil, foi particularmente contundente na sua frontalidade. Reflecti e reconheci que as críticas têm fundamento. Erros cometem-se. Persistir no erro reconhecido é teimosia. Decidi retirar o post. Agradeço a exigência dos visitantes atentos. João Tunes

quinta-feira, abril 21, 2005 1:07:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Eu cá estou felicíssima, pois pelo motor de busca consigo aceder ao teu blog!, muf'

quinta-feira, abril 21, 2005 2:11:00 da tarde  
Blogger Carlos Gil said...

Para minha grande confusão não consigo 'postar'. Tentarei resolver, mas ainda não sei como...

sexta-feira, abril 22, 2005 12:48:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Consegui descobrir a forma de mandar um mail ao sistema, já não é mau. É fim de semana, aqui ou na China, e eu tenho um post que quero mesmo meter... terei de esperar até segunda-feira? Espero que não, mas estou de teclado atado. Em último caso meto-o aqui, na caixa de comentários! (Carlos Gil, agora sem ser reconhecido como utilizador blogger, mesmo na caixa de comentários...)

sexta-feira, abril 22, 2005 8:57:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ainda nada de novo. é a máquina a ler-me, ela não aceita programas e acções eutanásia.exe
Tenho uma opção e vou praticá-la esta noite, ela foi construída por engenheiros com formação burocrática. Web, com apoio técnico de Honorato Belchior, invst. reformado

sábado, abril 23, 2005 6:06:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Agraço que visitem este linK, está lá um post novo, último deste blogue. Obrigado a todos os que me acompanharam neste e no primeiro Xicuembo. Carlos Gil
http://xicuembo.blogspot.com/

sábado, abril 23, 2005 7:01:00 da tarde  
Blogger None said...

Escrevendo cada vez melhor, Gil, parabéns. Que problemas tens com o Blogger? Comigo dá-se bem e cá estou ao dispôr para resolver dificuldades.

domingo, abril 24, 2005 10:17:00 da manhã  
Blogger Carlos Gil said...

é esta a nova morada do blogue, este 'avariou' definitivamente, inépcia funcional minha que não pretendo que avarie, por inépcia comportamental, os links que recebi e não quero perder. (o sistema já me reconhece como o utilizador 'carlos Gil', mas pela filiação ao novo blogue; neste, continuamos inconciliáveis)

domingo, abril 24, 2005 2:16:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pela 2ª vez comento e espero que apareça apenas um comentário!
Este post fez-me ir buscar à estante "A Velhice do Padre Eterno". Como temos a memória curta!
L.

domingo, abril 24, 2005 3:13:00 da tarde  
Blogger Carlos Gil said...

L, a coisa está preta: tenho poucos usernames e passwords ainda menos, e nenhuma das combinações dá. Utilizei tudo o que aconselham, depois accionei o pedido de ajuda online. Mandaram-me um circular, inglês técnico e uma dúzia de links para outras circulares. O blog revoltou-se por saber que ia dar-lhe o post final. Deixou de me reconhecer como o escrevinhador, não me deixa entrar; restam as cixas de comentários. Descobri um blog que tinha criado neste sistema e de que já não me recordava (primeiro post de Maio '04, depois um ano parado) e é que montei a tenda. Assim já me reconhece como utilizador Blogger e assino como ?carlos Gil', mas antes acincalhou-me como anónimo em minha própria casa e tudo. Ainda matuto se não lhe deve chegar um fósforo, pela impertin~encia!! (lol) Um beijo e latitas!!! Já é o dia, e a Clara faz anos! Ah, e uma das pitinhas da Tareca também!!

segunda-feira, abril 25, 2005 1:06:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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quinta-feira, março 01, 2007 10:26:00 da tarde  

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