quarta-feira, março 09, 2005

A vida sexual de Bin Laden

Já há algum tempo que ando em volta dum romance gastrónomo-erótico, o “Eva�.
Nos primeiros episódios lá se misturam uns vinhos com uns acepipes, os mamilos da Eva vão-se eriçando e a história flúi entre travessas de sugestões à mesa para aguçar o paladar, e o leitor, em aprazível salivar, vai desfolhando o imaginário erótico estimulado pelos prazeres de faca, garfo e copo de pé alto.

Até que, lá para o quarto capítulo, o Bin Laden aparece e tem uma erecção, dá meia dúzia de tiros em duas infiéis devassas e semi nuas que faziam o aquecimento para uma noite de ardores na casa de banho feminina dum conhecido restaurante de Lisboa. Aí, todos os que leram estes esboços do ‘Eva’ resmungam que não, que não poderá ser assim e que a vida sexual do Bin Laden é mal vinda à história erótica da ‘Eva’.

Com franqueza! Eu ouço as críticas e até pensei em mudar o tipo do turbante por um Mussolini reencarnado, suprimir a personalidade ou por um motorista da Carris a fazer esse serviço à causa divina. Mas não dá, acreditem. Nada me convence que o Bin Laden não tem direito a uma vida sexual, se secreta e com pormenores picantes para capa de tablóide ainda melhor – e cá estou eu para rechear pormenores. Mas o meu público, infiel e embirrento, púdico até mais não dizer quando se trata de sexo politicamente incorrecto, esses zelosos observadores das pernas e pensamentos da Eva embirram com o dito proscrito e as confissões dos seus prazeres secretos.

Eis o dilema que o meu ‘Eva’ vive ainda antes de o elenco emigrar em massa para Xinavane e para calores indutores a prazeres de carne mais exóticos, cariladas a abrilhantar tardes olímpicas na cama e na mesa. Eva, Eva, a que pensamentos esta mulher me conduz…