domingo, março 27, 2005

Ainda sobre o presidente Guebuza

Num Grupo de discussão MSN que é a "minha primeira casa virtual" o meu post 'Presidente Guebuza' teve eco, e o António Maria Gouvêa Lemos (moçambicano em diáspora alpina e mano do ZP do Sem Técnica onde, nos últimos posts, homenageia o pai, jornalista de verve apurada e coluna direita) respondeu-me assim:
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Caro Gil

Separando-se o poder de destruição desses erros, que todos nós cometemos na vida, ("que jogue a primeira pedra quem...."). Concordo contigo que quem tem valor, são os seres (raros) que possuem a dignidade de admitir e assumir a responsabilidade por erros cometidos.
Os tempos mudam, como a situação geo-política mundial mudou, e talvez uma forma do senhor Presidente de Moçambique, Armando Emílio Guebuza, se redimir de erros de um mundo político passado, estaria agora como presidente.
Abandonando a política do não ver, ouvir, ou falar, que nem aqueles 3 macaquinhos. Engajando-de dentro da política internacional africana, em favor do respeito aos direitos humanos, garantidos na constituição nacional do país que o elegeu.

Combatendo da ponta norte do continente, ao Cabo da Boa Esperança no sul; a corrupção, o clientelismo, o racismo em todos os "vértices e ângulos" possiveis, as formas patriarcais de sociedades que em nome de religiões e culturas ancestrais, impedem entre outras coisas, o direito ao livre arbítrio do cidadão, ou que as mulheres assumam o seu papel numa sociedade progressista no ínicio de mais um século de obscurantismo. Lutando pela abolição da censura, escravatura, etc,etc.

Ou seja, que tome em mãos os temas que muitos negam existir, em nome de uma boa vizinhança ou parceria econômica. ( Políticagem não só praticada em �frica. Veja-se como a Europa está "babando" com a China, e fingindo não ver o que todos sabemos.)

Como exemplo de verticalidade Senhor Presidente, poderia nos mostrar ao afastar-se políticamente e em público, do seu "presidente vizinho", Mr Mugabe.
Este que depois de uma época aurea e lúcida, aonde o Zimbawe foi exemplo de indepência africana, acabou tomado por um "neopotismo" africano, que possui a mesma arrogância típica dos grandes ditadores da História Humana.
Afaste-se daquele que tem sufocado os direitos mais elementares do seu povo, e prepara agora mais uma farsa para um mundo incrédulo de uma �frica estável, que lhe dará o nome; de eleições livres. (Enquanto nas suas masmorras e valas comuns, tal como nos tempos coloniais, apodrecem ou jazem os Homens e Mulheres que tiveram a coragem de "verbalizar" e desejar uma simples ideia.

Mostre Sr Gebuza, não ser presidente da passividade, de consentir, calando-se... E que o passado existe para se aprender no presente, a se constrir um futuro melhor.

N'komo !
Antonio Maria
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o meu comentário-resposta:
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Concordo com o que dizes, mas esbarro numa frase - e já lá voltei e o tropeção é igual:

... que todos nós cometemos na vida, ("que jogue a primeira pedra quem....").

É específico demais para ser possível deitar-lhe o manto do adágio, a desculpabilização pelo tempo. São decisões políticas de topo onde os erros não podem ser comparáveis aos dos que obececem a leis ou são delas vítimas; há que haver, necessáriamente, justificação por elas ou, na sua insuficiência de que toda a gente mais que suspeita, acredita, aí carece-se dum simples - mas sincero! pedido de perdão, nem que apenas implícito num discurso mais lato, uma entrevista de fundo daquelas que todos os novos presidentes dão, um livro de memórias, algo que se saiba que um dos responsáveis pelo radicais erros havidos, ora figura de mais alto topo, o faz. É disso que falo, será que estou a sonhar demais, a exigir o impossível, a humildade de confessar erros, o pedido de perdão pelas tantas e tão graves consequências que esses erros trouxeram a pessoas, famílias?

É aqui que há uma pedra que incomoda o meu profundo acreditar no futuro. E é uma das mais incómodas, das tais que caiem do carácter quando ele está quebradiço.
No resto, reafirmo a terminar, concordo com a tua análise.

Um abraço