quarta-feira, março 02, 2005

O tabagismo

Todos os que fumam querem parar de fazê-lo, pela saúde, pelo dinheiro, pela pressão social e porque estão fartos desta toxicodependência socialmente tolerada.
O Estado, para não ser rotulado de hipócrita como autor de prolífera legislação anti-tabaco e gordo tributador do tabagismo, criou nos seus serviços de saúde consultas de auxílio para todos os que querem largar o vício. Ainda lá não fui mas já conversei com quem conhece a sua operacionalidade. É assim:
Na primeira consulta, feito o historial de hábitos de consumo e revisto na rama o de saúde do interessado, segue-se a positiva e inevitável conversa indutora e profiláctica com o 'doente', um quarto de hora de psicologia convencional que passa pelas frases feitas de "se chegou até aqui é porque realmente quer largar", "é necessária força de vontade e você têm-a", "tem uma idade perigosa em riscos coronários", etc.
Óptimo, e nova consulta daqui a três semanas, a agenda assim o dita. Nem uma semana duram as boas intenções, e na espera para o atendimento na consulta seguinte até há um cigarrito que é sorvido, envergonhadamente, à porta dos serviços médicos. Segue-se a confissão do fracasso da vontade, a sugestão de que um auxílio químico talvez permita esbater a carência de nicotinas e quejandos que o corpo reclama na abstinência fracassada.
"Sim, claro, há produtos no mercado que auxiliam o 'desmame', embora a vontade do próprio seja fundamental"; "Sim, indico-lhe um"; "Não, não é comparticipado".
Na farmácia e após contas feitas até à data da próxima consulta - um mês, a agenda dita..., há conclusões desinteressantes para o orçamento do Estado: mais que a abusiva percentagem que deixará o erário de todos de recolher nesse período, maço a maço, prego a prego, mais que isso irá para as contas bancárias das farmácias e dos laboratórios, dos congressos em Pequim ou nas Canárias, com contrapartida de colecta estatal imprevisível pois o imposto deixa de ser pago pelo Zé Fumante e à cabeça, passando para a larga peneira do IRC.
"um maço de Gauloises, por favor" (e merda para tanto cinismo e hipocrisia, já agora - diz um que irá conhecer a morte prematura, taxada em vida como luxo por um Estado que deveria, agradecido, pagar o caixão aos fumadores)

1 Comments:

Blogger th said...

ENA TANTOS...
A frase que mais me irrita é essa da "força de vontade". Só não explicam qual vontade...a de fumar???
Uma que deixou de fumar quase "de graça"...lol th

quarta-feira, março 02, 2005 5:16:00 da tarde  

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