segunda-feira, março 28, 2005

Os ricos e os pobres

Há esta mania de catalogar, dividir, armazenar dados para adaptação do discurso, a esquiva de cintura em que todo o português genuíno é rei. E a primeira é aquele brilho nos olhos quando se avalia a densidade específica da carteira do próximo, o sentimentozinho do ‘és rico’ ou ‘és pobre’, - e hesito se a busca é feita em demanda de ameaça ou pela amanha da solidariedade.

Que vitória seria afastar essa primitiva avaliação, esquisita quanto baste quando não há pobre que não jogue no €uro Milhões e dos ricos já não digo o mesmo… e tanta atenção que passaria a ser dedicada a tanto de importante que há em cada um, cada pessoa, individuo único e cada um cheio de experiências únicas, pessoas únicas.

As gerações têm responsabilidades, de legado, além da boa administração do recebido - mas aí a conversa é outra pois é herança cada vez mais pesada e uma classificação de zelosa já é medalha que não está, infelizmente, ao alcance de todos. A forma de relacionamento individual nos povos, eternos amontoados que crescem e crescem, cada vez mais estranhos entre si nas suas pontas - e também falo dos ‘ricos’ e dos ‘pobres’, a vidinha de cada um, o formigueiro que todos percorremos e onde nos misturamos, estas formas básicas de comunicação carecem dum estímulo para darem o saltito que, ciclicamente, faz bem às sociedades e melhora tudo, começando em cada um, e no caso era o riscar do livrinho mental de apontamentos essa absurda tendência em cheirar o dinheiro, o potencial para catá-lo, nariz contraído em educado repúdio mas o tal brilhozinho nos olhos.

Até pelo desperdício de recursos que poderiam ter melhor uso, como sorrir naturalmente ou resmungar sem estar condicionado ao “não magoar, sei lá se…�, toda essa parafernália de desculpas para iniciar-se um relacionamento já com chapas de matrícula, a dividir ainda pela cor dos bancos, ou pelas jantes. Arrastando a ideia nas quatro rodas, parecerá negócios de carro usado em stand bem iluminado este medir de pulso alheio, não na louvável intenção lusa de saber da saúde de toda a família mas na pose de fiscal a avaliar a percentagem que enquadra e taxa, buscando denúncias dos em letra de lei fiscal chamados como sinais ostensivos da dita, tudo nas proporções adequadas a quem olha para o carro antes de olhar para a pessoa.

Alguma coisa de grave se passa neste histórico confronto de classes em que os críticos não buscam o profundo e ficam extasiados no visual, no verniz, à procura de pequenos sinais de futilidade pela ostentação, de excessos que possam criticar e, intimamente, equacionarem mil e uma formas mais úteis de gastá-lo, oh!, do brilhozinho bater à janela ocular encandeando quem for a passar, e pior ficará quando o verão chegar e com ele os óculos escuros. Que legado evolutivo deixamos? Gelo, para quem vem duma geração que tanto sonhou melhorar-se, uma revolução em cada um, eis que a nossa herança é fardo para quem, de nós nascidos, quiser melhorar o viver entre os sempiternos ‘ricos’ e ‘pobres’, o tal carimbo que vem no apertar de mãos, nesta futilidade da minha pilinha ser ou não maior que a tua.

E até acho que é acto escrituradamente condenado nas religiões de mais fiéis. Não é abusivo entender que depende de nós, cada um, este primeiro passo para acabar com a primeira de todas as divisões que se estabelecem, fútil perante a importância de tantas que, ora, são ignoradas porque olha-se para o rabo dela mas a seguir para os sapatos, no vice-versa são elas de olho no carro até antes de admirarem bem o arcaboiço do animal, o potencial de macho. Etc, etc, mais meia dúzia de argumentos parvamente reais como este, e pensem na delícia que seria, dos dorsais e das nádegas, passarmos olho interessado para outros olhos onde é tão desagradável depois ver o brilho avaliador, estridente, clandestinamente insolente no amargo da futilidade da sua existência, mera doença propagada de que todos se queixam mas com vacina conhecida para dores mínimas, e da qual ignora-se usar. Se o argumento é excessivamente rebuscado façam a adaptação. Eu, devasso confesso, não exluo 'aquele' tema de nenhumas das minhas alegrias ou preocupações. Nunca. E aí sou rico de 'top ten' - até ando de 'Mulliner'...

1 Comments:

Blogger th said...

E depois há os que parecem isto e aquilo e não são.
E que dizer dos novos ricos e dos NOVOS POBRES?
Eu deixei de classificar, ouço o meu corpo, a minha intuição...kiss
th

terça-feira, março 29, 2005 12:28:00 da tarde  

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