terça-feira, novembro 30, 2004

O milagre

Desculpem o silêncio mas foi A Bem da Nação.
Fui a Fátima a pé mas valeu a pena. O pedido foi atendido.

sábado, novembro 27, 2004

Bolo de Aniversário

Eelko Van Mulder, um blog que não descobri há muito tempo mas que venho acompanhando com interesse, divide o seu 1º aniversário entre hoje e amanhã.
Na dúvida e antes que se acabe o bolo eu dou os parabéns já hoje.

sexta-feira, novembro 26, 2004

A escola de condução

Eu passava muito tempo entretido com coisas de nada mas que me pareciam liberdades inacreditáveis, alforrias conquistadas pelo crescer e que se manifestavam em mais e mais liberdade.

Quando consegui que o meu pai me emprestasse o carro numa ou noutra noite de fim-de-semana (proeza que só foi possível munido duma “licença de condução ao lado de encartado� que uma escola de condução me deu na inscrição e onde nunca mais pus os pés), aí, por exemplo, gostava de ir para as estradas novas que desciam para a marginal, zona antes do Hotel Polana, estacionar o carro e ficar a olhar a baía, o mar e os barcos, o Sol ou a Lua, ficar só dentro do carro com os meus pensamentos que não divergiam da felicidade de estar a conquistar o meu lugar no mundo e isso ser-me muito agradável.

Uma vez ou outra, e porque já trabalhava e pelo menos os primeiros dias do mês eram feitos de bolso cheio, cheguei a escusar-me a jantar em casa e comprar um frango assado e ir comê-lo lá para essas ruas e o mesmo cenário, solitário na independência ainda insegura, solitário na ilusão de que era independente.
Ali ficava, comia as pernas e o resto sobrava no saco para dar a um cão que visse, por vezes que não foram poucas a seguir fazia um cigarro de suruma e mergulhava nos sonhos próprios da idade em que nos preocupamos com o universo e os seus mistérios, a essência da vida inteligente, e assim me debatia com os medos que a vida adulta que já dobrava a esquina exibia. Ansiava por crescer e esses frangos não encartados e cigarros clandestinos eram um suavizar do processo, mecanismo de defesa contra o tanto que há sempre para acusar “aos adultos� sobre o legado que nos deixam e onde estamos em processo biológico de ingressar.

Assim cresci, a gastar o tempo em ninharias e a olhar o mar e a Lua, só com licença de independência ao lado de encartado. Um carro anónimo numa rua deserta, o prazer dum frango assado e o fascínio do proibido. Tudo banalidades, mas a escola de condução era no Malhangalene, perto do Jardim Dª Berta, lado oposto da avenida, e provavelmente algum de vocês passou por mim estacionado, lugar e modos descritos, enquanto eu desfiava um osso de perna de frango e olhava sonhadoramente o horizonte.

net-Aforismo

É para ti, tu sabes.
Era uma vez uma coisa chamada net que põe em comunicação aquilo de nós que nunca contaríamos, que nos ocupa o pensamento mas não dizemos de viva voz. Porque nos sentiríamos contristados em desnudarmo-nos assim. Quando isso costuma acontecer já nos desnudamos mútuamente em versão literal e, normalmente, ao entusiasmo biológico inicial sobreio um amargo de boca, a monótona desilusão.
Depois esta coisa chamada net, todos desnudados e bons rapazes, desliza do virtual para onde todos os sonhos são encaminhados em ralo que raramente deixa passar mais que pedaços de realidade - e todos nós a conhecemos. Vem o reverso da medalha, as letras pequenas do contrato.
Vem a mão que segura a caneta, vem o corpo todo atrás com a celulite ou a falta de dentes, vem a idade e vêm as marcas da vida.
E o antes, que se prolonga em letras que já não correspondem ao embalo onírico anterior, ao tempo em que os príncipes e as princesas existiam e todos cavalgávamos cavalos brancos a caminho do paraíso? Esse antes mergulha na subalternidade ou mantém-se como valor de equação, face não visível mas de cuja porta conhecemos o segredo e gostamos de abrir, penetrando noutros mundos, castelos, de mão dada? O antes sobrevive, continua?
Era uma vez uma coisa chamada net e que pôs as pessoas a falarem umas com as outras. Eis o mais positivo. O resto leva-se à conta das consequências da humanidade que todos nós, muito felizmente, sentimos e partilhamos.
É para ti, um beijo virtual que saberás que não inibirei de dar no real. E isto é a net que me permite dizê-lo em praça pública sem que alguém tenha de baixar os olhos de embaraço.
É para ti e interpreta suavemente - é a net.

A ansiedade

Como disse no velho Xicuembo no post de 15 de Setembro, "Letras & Sonhos" com as folhas físicas seguiram a esperança, embarcou um sonho e construíram-se inícios de outros.
O tempo passa e a ansiedade também passa por diversos estágios - absurda porque só sou alguém por senti-la.
O tempo vai passando e eu vou aprendendo que há escarpas de realidade e são lentas de vencer, mas também aprendo que são saborosas na riqueza emocional que retornam.
O tempo passa mas o sonho primevo continua, ávido de ultrapassar esse trago de realidade que é vê-lo passando, colete e laço, tempo que se escoa enquanto o sonho flutua, umas vezes altaneiro outras bordejando perigosamente copas sequazes de o aprisionarem.
O tempo passa e o meu blogue cresce. Ganhei ao tempo mas falta-me domar a ansiedade.

O peso específico

Tenho 49 anos e há 36 que vivo em Portugal, antes a “metrópole�, os últimos 29 e meio ininterruptos.

Nos últimos tempos dediquei especial atenção aos treze da diferença – também diferentes porque passados no tempo do crescimento, físico e para o mundo adulto.
Mas como estou há três décadas neste canto é de coerência devida relativizar e ajustar. “De facto� – e vai passar a ser “de jure� – preocupam-me mais os dislates governamentais cá do burgo que a sucessão presidencial em Moçambique – de que só realço a pluralidade formal e a renúncia voluntária ao poder por um dirigente africano longe da pressão armada. Positivo, face ao que conhecemos, pouco habitual e de louvar mas mesmo assim relativizado perante a alegria que me daria ver o meu país encarreirar por vias de bitola mais prudente, avisada quanto à obrigação social de formar as gerações que sucedem.

Na verdade estou mais preocupado com o sentir nacional (de que comungo) de não haver governo credível e respeitável, competente, do que se é Afonso Dlakhama ou Armando Guebuza que ganharão a presidência de Moçambique. Se eu fosse formalmente moçambicano duvido que votasse em algum destes. Só que é cá que voto e devo respeitar o exercício desse direito, preocupando-me quando o faço.

Com isto quis dizer que estou – quero! reduzir os fenómenos sensoriais à sua dimensão, e aceitar em consciência que um texto/post sobre a realidade nacional é-me mais importante que uma hipotética vida no ‘se…’

Com isto quero dizer que tenho as minhas contas quase certas com o passado, quero dizer que cresci.

"Os Inimputáveis - 2"

Caro Jacinto:
Só confundo porque não consigo ultrapassar a confusão que se estabelece entre a teoria e a praxis. A realidade. Só isso.
Em caso de dúvida costumo recorrer ao aforismo "dura lex sed lex". Excepto para os inimputáveis, claro.
Boa praxis - é a minha luta; a ideologia vem por arrasto, não por moldagem.

Os salmos de Pedro & Paulo

Quem acredita que uma mula velha da política como o Santana perdoe ao Paulinho a ameaça ao que se passava em Barcelos? A política também é construída por amores e rancores pessoais, e disto estas duas tristes figuras não estão livres – principalmente elas…

Outra pergunta: a próxima faca do Paulinho será em que costas? Freitas do Amaral? a quem ele nunca perdoou as verdades que assumiu de viva voz? Cavaco? o mais presidenciável dos presidenciáveis e que nutre um desprezo visível pelo que PP’s representam? Paulinho, como predador de pequeno porte, voraz mas menor na escala alimentar, precisa de imolações periódicas, primeiro sangue que outros derramam mas de que ele sobrevive. Se as vítimas não acendem o fósforo ele tem sempre um isqueiro á mão. Quem se sucederá?

Ou no acerto de contas com o compincha Pedro a ele ficará reservado o ataque aos últimos seis meses do triste reinado de Sampaio, quando o fantasma da ‘bomba atómica’ estiver extinto?

Como é pouco interessante ver o banquete da política à portuguesa para quem gosta da carne bem passada. Além de filme ‘noir’ pelo argumento, há vampirismo do primeiro ao último prato.

quinta-feira, novembro 25, 2004

Mufana - II

... e, já agora, leiam este. Eu já o conhecia mas voltei a lê-lo com uma emoção especial, aquela do "...é isso!", pois está lá tudo . Esta mufana...
;-)

Mufana

Como eu viajei com ela, lendo-a, sentindo tantas aventuras respiradas nas palavras.
Os teus olhos vêm o mesmo sonho que eu, Isabella.

Vestido-Leopardo

Desde que vi na televisão o talão do pagamento com o cartão de crédito do Maestro - já lá vai um ano ou quase, que me interrogo... E hoje voltou a dúvida, que me persegue sem tréguas, talvez pelo receio de estar a perder alguma coisa de muito interessante na minha vida íntima.
O que é um vestido-leopardo? E ele usa-lo-á ou é para outrem vestir e ele despir? A ser assim, dá 'pica' e eleva a batuta a notas das tais que fazem soar carrilhões em quartos de hotel - preferentemente Veneza ou local de beleza igual? São as pintas, a textura ou o descobrir do conteúdo sob tão exótica pele, acto gloriosamente dirigido por pulso inspirado?
Aguardo um comunicado do TIC de Lisboa informando-me(-nos) sobre esta candente dúvida. Seria terrível se a minha felicidade sexual fosse prejudicada por pormenores burocráticos tais como o segredo de justiça. O enigma do vestido-leopardo deve ser divulgado, o País que saliva com os shows mediáticos merece levar para a sua alcova o segredo do vestido-leopardo. Há por aqui muitas feras que ficarão eternamente agradecidas se a banda começar a afinar a música que nos interessa ouvir e sentir.
O cartão de crédito? Peanuts, eu quero é saber do vestido.

quarta-feira, novembro 24, 2004

No pasáran!

Do tempo em que o sonho numa Europa unida era outro, dum tempo em que sonhar teve uma componente real forte, empenhada, militantemente empenhada em acreditar-se que outro mundo nascia. Tempos que não vivi mas que respeito muito, são a memória dos meus genes culturais também.
Uma canção revolucionária de Bertolt Brecht:
.....................................................................................
La canción del Frente Unido

Y como ser humano
el hombre lo que quiere es su pan
Las habladurías le bastan ya
Porque éstas nada le dan
Pues: un, dos, tres; Pues: un, dos, tres.
Compañero, en tu lugar!
Porque eres del pueblo afíliate ya
En el Frente Popular.

And just because he’s human
He doesn’t like a pistol to his head
He wants no servants under him
And no boss over his head
So left, two, three! So, left, two, three!
To the work that we must do.
March on in the workers’united front
For you are a worker, too.

Tu es un ouvrier-oui!
Viens avec nous, ami, n’ai pas peur!
Nous allons vers la grande union.
De tous les vrais travailleurs!
Marchons au pas, marchons au pas,
Camarades, vers notre front!
Range-toi dans le front de tous les ouvriers
Avec tous tes frères étrangers.

Si tens gana no ho dubtis
vine amb nosaltres amic, sense por
cansat de paraules el que vols és pa
Anem cap a la gran unió
Doncs: un, dos, tres. I un, dos, tres.
Cap al front marxem obrers
a lluitar junts per un futur millor
amb els companys estrangers
amb els companys estrangers
amb els companys estrangers.
......................................................................
Este poema vai com dedicatória do copysta. Para quem fez esta pesquisa enorme e reavivou a nossa memória numa altura em que as nossas revoluções são referendadas e um remanso falso circula no ar, por vezes em suspiros que não alarmam o rebanho entretido a sobreviver.
Vê-se que é tema que lhe é querido ( e aqui declara-o) mas o trabalho que teve em recarregar memórias e sincronizar toda a informação não foi, por certo, coisa de passatempo. Depois juntou-lhe a sua prosa, e ofereceu-nos este documento, em 27 posts e uns pózinhos.
Há dias atrás disse 'obrigado João', hoje que andei por lá entretido a ler e a aprender não me repito: digo que voltarei muitas mais vezes. Para aprender, para poder eu um dia também gravar genes, para que haja sempre vozes que digam: no pasáran !

terça-feira, novembro 23, 2004

Moçambique, SIDA e esperança de vida

Notícias tristes, aqui, confirmando no terreno e em versão mais pessimista aquilo que a central de informação aqui diz, seca nos números pois não se trata dum blog .
Não quero pensar no que será daqui a 20 anos, quando não houver mais que resíduos da geração mais velha, quando faltar a almofada social dos pais e tios, quando ter 50 ou 60 anos for uma raridade e a sociedade ressentir-se de mais esse desiquilíbrio.

segunda-feira, novembro 22, 2004

A Biblioteca de Alexandria

Estão aqui mais 27 razões justificativas em como urge um arquivo dos nossos tempos que preserve a memória que os blogues um dia representarão.
Milhões de razões que se fazem ouvir em todo o mundo merecem um respeito proporcional ao fenómeno social e cultural que a blogosfera movimenta num tempo em que os jovens lidam com o Google com um interesse que nunca vi por enciclopédias. O
João Tunes , com o seu trabalho sobre a Guerra Civil Espanhola, o franquismo e as suas cumplicidades, deu-me mais 27 razões para que fizesse 'Copy', abrisse o Word e cola-se, Nova Pasta e intitular.
Os servidores apagarem-se dum momento para o outro seria razão de momentos de insanidade que não ocultariam a nova tragédia de Alexandria que era a perda destes registos.
Para além do post "mais um" que se esgota no passageiro que é, há trabalhos individuais que são revelados e obrigam à colocação de novas prateleiras nas estantes do disco rígido, obras e álbuns que se vão aninhando e passam a tão familiares e companheiros como os seus parentes de estante em madeira. Documentos. É disto que se trata, e
aqui está a prova.

Especial

Suavidade, alguém que está em paz com o seu percurso. Um caminhar que é relatado com letras de tranquilidade e muito, muito carinho. Que as palavras revelam, na tranquila forma como se relata uma vida.

Somos quase conterrâneos, pois ela nasceu em Mocuba mas cresceu em LM, eu nasci em Lisboa mas corri as mesmas ruas africanas que a Madalena. É também por ter sido possível eu ter sido amigo de gente assim que eu tenho orgulho em ser um Laurentino.

Os inimputáveis

O arresto é uma providência cautelar e requer-se ao tribunal quando o presumível credor tenha justificado receio de perder a garantia patrimonial do seu pretenso crédito. Claro que, para ter eficácia, nesta fase que podemos chamá-la de preliminar – o contraditório só será cumprido na acção declarativa ‘principal’ que terá de ser discutida com todos os prazos e direitos para ambas as partes – o presumido devedor não é ouvido e ao requerente incumbe o ónus de fazer prova sumária ante o juiz do processo do tal “justo receio de perda de…�, assim como da sua convicção em como existe o crédito.
Ou seja e trocado por miúdos, “A� tem de convencer o juiz de que o crédito existe e a decretar o arresto sobre bens de “B�, e este só é notificado da decisão final. Tudo correcto, pois se assim não fosse ainda havia mais carros e casas em nome de cunhados e de amigos do peito e ninguém pagava nada a ninguém.

Acontece que “A� supõe-se credor de “B� numa quantia a rondar os 20.000 contos mais uns pozinhos de juros, e “B�, sendo construtor civil, tem um prédio em fase final de construção com, digamos, 20 fracções autónomas, todas já individualizadas pela constituição da propriedade horizontal. Coisa portanto para valer meio milhão de contos, mais tostão menos tostão. Embora alguns apartamentos já estejam prometidos vender, ainda não há nenhuma escritura feita e em consequência o registo predial das 20 fracções autónomas ainda está em nome do construtor, “B�.

“A�, convicto da sua razão e da relutância de “B� em satisfazer a sua pretensão, contrata um advogado para fazer valer os seus direitos, e o causídico não é de modas “- é dos rijos!� e requer na tal providência cautelar que o prédio todo seja arrestado. Acontece que os argumentos de “A� convencem o juiz a dar provimento à providência requerida e este, pessoa certamente que nunca comprou um apartamento, não lê jornais e nunca lhe passou pelas mãos um documento onde constasse o valor corrente dum apartamento, após ouvir atentamente as testemunhas e analisar os documentos do “A� em quais este escuda a sua pretensão a que “B� lhe pague os tais 20.000 contos, ordena o arresto requerido tal como o brilhante causídico o requerera: pela totalidade do prédio.

Daí a dias “B� é notificado da decisão em como não pode realizar negócios jurídicos com o prédio (20 apartamentos e lojas…) que passou a funcionar como garantia para “A� receber os pretendidos 20.000 contos se o tribunal, ao fim dos anos normais que uma acção declarativa demora a percorrer todas as secretárias e corredores, lhe der razão. Por acaso “B� até insiste em como ele é que é credor de “A�, e acredita piamente que a justiça lhe dará razão. Mas, no entretanto, e embora tenha recebido sinalização de alguns promitentes-compradores e assinado contratos de promessa de venda, não pode honrar esses compromissos fazendo as escrituras, com o dinheiro recebido não pode amortizar o crédito bancário que fez para construir o prédio e os juros almoçam e jantam diariamente com ele. “B� sente-se alvo duma dupla injustiça que o poderá conduzir a curto prazo à falência.

“B�, na acção ‘principal’ – a tal onde vai discutir-se se a dívida de 20.000 contos existe ou não, vai defender-se com a sua razão e as suas provas que a alicerçam, mas tem o problema do arresto decretado sobre a totalidade do prédio, tem a hipoteca que fez ao banco para amortizar, e tem uma mão cheia de compradores de apartamentos irritados e a exigir que se faça a escritura prometida ameaçando com pedidos de indemnização. “B� considera, - e com razão, que o arresto decretado é excessivo em relação ao crédito que pretende assegurar, e que dois ou três apartamentos arrestados seriam suficientes para cumprir esse objectivo. Assim vai recorrer da decisão do juiz que não sabe o valor de 20 apartamentos embora tenha nas suas mãos uma certidão predial que mostra que, para a construção do prédio i.e. 20 apartamentos e lojas, a banca financiou 380.000 contos.

Claro que “B� ganhará o recurso, quando a decisão superior vier daqui a meses que nunca são poucos, pois a medida decretada pelo juiz é claramente excessiva e estavam nas suas mãos os documentos que o demonstravam, assim como a alternativa lógica para que “A� não perdesse a desejada garantia patrimonial. E ganhará ou perderá a tal acção ‘principal’, a dos 20.000 contos mais os pozinhos, daqui a meia mão de anos – fora os dos sempre possíveis recursos.

Claro que “B�, hoje, tem dois caminhos: ou insiste na sua razão e tem as portas da falência abertas de par em par, ou parte coxo para um acordo com “A� ignorando a sua convicção de que nada lhe deve e pelo contrário tem a receber, mas conseguindo a desistência do arresto sobre as 20 fracções e honrando os seus compromissos com terceiros.

Claro que “B� está lixado, foi lixado, e devia exigir responsabilidades. A quem? Não a “A� que acredita ser credor e só o tribunal lhe poderá tirar a razão, não ao brilhante causídico “- dos rijos!� de “A�, que é homem para em necessidade de mudar um pneu furado desmontar o motor, e que só requereu, não ordenou o arresto; talvez ao meritíssimo juiz que decreta sem ler, ou que lendo não entende pois desconhece o valor dum apartamento novo...

Mas este é inimputável, uma vaca sagrada que está acima das obrigações de responsabilização pelas suas acções danosas, da leviandade com que decide num processo onde o contraditório não estava, então, assegurado ao requerido, “B�.

Claro que “B� é imputável e disso o irão recordar os credores e os acordados compradores dos apartamentos. Claro que “B� está por isso lixado, mas o meritíssimo que o lixou é inimputável e está-se perfeitamente nas tintas para isso.

domingo, novembro 21, 2004

Belém...! Belém...!

Que se lixe o mau olhado que já dei ao abrir a boca antes dos jogos, mas olhem para esta tabela e digam-me: se o Belenenses ganhar amanhã à Académica, já viram como fica a classificação? Continuará "tudo" a ser possível pois até chegar à estação é preciso é não perder o comboio...

1 - FC Porto - 22
2 - Benfica - 22
3 - V. Setúbal - 20
4 - Boavista - 20
5 - Marítimo - 19
6 - Sp. Braga - 19
7 - Sporting - 18
8 - Belenenses - 14
9 - Rio Ave - 14
10 - U. Leiria - 14
11 - Estoril - 12
12 - Nacional - 12
13 - Penafiel - 11
14 - V. Guimarães - 10
15 - Beira-Mar - 10
16 - Académica - 10
17 - Gil Vicente - 8
18 - Moreirense - 8
Com um começo tão animado, já nem me recordava...
NOTA MUITO IMPORTANTE: Esta tabela está feita SEM o resultado do jogo adiado para segunda-feira e a que me refiro, em Coimbra. A ser a desejada vitória azul, ninguém troca de lugares mas ficamos com 17 pontos e ainda faltam as crises natalícias, com o compra/vende que parte muita equipa ao meio.

Ler...

... e gostar, gostar muito. Sem nenhum comentário, só o gostar dum texto que sente-se vir dum peito.

um bug

Há dois mundos, o da net e o outro. Há dois géneros de pessoas, as que o entendem e as que não.
Há um fosso, haja programas fortes para que lá não caiam drives que são importantes.
Há estas horas que já não se contam e este olhar pensativo lendo, lendo, lendo, cerrando cortinas para além desta cadeira, lendo, silenciando.
São assim fins de dia, são assim as horas que não consigo deixar de estar aqui e ali - tantos de vocês...
Eis o bug. Esse software é nosso e somos aprendizes nos remendos que acarreta para que o silêncio não caia, pesado, sobre dias que nunca mais seriam como estas longas, longas horas de olhar pensativo, e nas quais a densidade de palavras ao metro quadrado é largamente superior à que possa ser entendível no ruído de fundo que soa quando não estou na minha cadeira.
Eis o bug, e o seu html, embora juvenil, tem pormenores que nem num 'Preview' revela.

sábado, novembro 20, 2004

Quando o mar bate nas rochas - os anos difíceis III

1976 foi o ano de transição, da integração numa nova realidade e palco de tantas experiências marcantes… aos condimentos já anunciados somava-se a inconsciência de ser novo e acreditar que todos os problemas são superáveis. Sim, esta faceta de encarar o quotidiano não é só positiva pois há ocasiões em que cuidados precavidos não são demais e só golpes de sorte permitem que daí a três décadas haja testemunho escrito.
Esse verão foi em parte passado na Ericeira onde o João Belo, o Toni e já não sei mais quem habitavam uma moradia com obras inacabadas, daquelas que se vêm há tempo demais sem reboco e sem dinheiro para o fazer. Obra abandonada. Aí, com a habitual população residente flutuante nestas situações, também eu um dia aportei e a presença foi-se arrastando ao sabor dos dias e do mar que eram agradáveis, praias gélidas mas manto de areia em moldura marítima que estabelecia uma ponte ao passado recente, memórias que então sedimentavam para sempre. Um luxo, abrilhantado pela novidade que era viver da venda de artesanato ao turismo, os de mãos mais inábeis como eu em volta dos colares e pulseiras de missangas, outros mais experientes fabricando sacos em couro cosidos à mão, já na altura objecto caro mesmo no comércio marginal que fazíamos nas lojas viradas para o turismo de verão. A natureza sorria e também era pródiga nos frutos que nos oferecia. Era um prazer percorrer as praias com um saco que se enchia de berbigão, meia dúzia de tomates e de cebolas para dentro da panela e muito pão para ensopar – eis o almoço de estio ideal, e barato.
Na praia, a densidade de toalhas e apetrechos habitual levava-nos a procurarmos a zona mais afastada, já junto às rochas e onde a maré baixa permitia aceder a uma praia mais pequena e isolada a olhares curiosos com os hábitos tabagistas alheios. Mas nem esta escapava à enchente que rouba a privacidade e muitas vezes aventurávamo-nos a explorar a zona das rochas sob as escarpas, onde as ondas rebentavam e a água beijava mansamente pequenas línguas de areia que as marés descobriam.
Talvez a uns sete quilómetros por estrada está a Foz do Lisandro, local que já tinha visitado uma vez e que pouco mais era, à altura, que um restaurante de paria, abarracado, para os seus poucos frequentadores. Ali, na praia da Ericeira, olhando para a margem rochosa das escarpas e para a espuma que se formava ao longe quando as ondas rebentavam, quase que se podia dizer com segurança “estou a ver a praia do Lisandro, é já ali� e acreditar-se que o caminho saltando de rocha em rocha far-se-ia sem dificuldade insuperável, atalho acessível e curto. Um dia, eu e outro que penso ser o Toni fomo-nos aventurando pelas rochas à procura dum local inédito e sossegado para gozarmos a natureza longe do bulício turístico e, a rochas tantas, interrogamo-nos sobre se não seria melhor seguirmos até à Foz do Lisando – para cá vínhamos à boleia. É que a praia da Ericeira já ficava lá para trás um bom bocado, quase sem estar à vista, e ainda não tínhamos descoberto uma nesga de areia entre aquelas paredes que se precipitavam sobre nós, inacessíveis, e o mar para além das rochas era forte demais para iniciativas natatórias principalmente para quem, como eu, tem ascendência de prego e de ferradura.
Assim fomos avançando, saltando de pedra em pedra e entreajudando-nos, por vezes mergulhando até ao peito para conseguir alcançar o ponto fixo seguinte.
A experiência é extraordinária e merece ser narrada. O mar, crescendo nas suas marés que cada vez mais obrigavam a pausas de percurso onde nos agarrávamo-nos às rochas para aguentar o impacto das ondas que insistam ciclicamente em arrastar-nos contra os ameaçadores contornos afiados como lâminas da imensa parede de pedra que destruía qualquer esperança de escapatória por escalada. O impacto das ondas e a sua espuma que nos inunda na rebentação, que se começa a prever quando o receio cresce tão depressa como a água que, antes bordejando joelhos quando a maré avança, ora com ela alta já tornando invisíveis a miríade de pontos de apoio que percorrera-mos, ameaçava impedir-nos qualquer regresso à praiazinha da Ericeira. As escarpas, claro, eram impossíveis de escalar e qualquer ajuda seria impossível. A única solução parece ser prosseguir, pois então já não há certezas de nada e um quase pânico instalou-se em nós. A água insiste em desalojar-nos das rochas que, molhadas pelas ondas, revelam-se escorregadias na camada gordurosa que se denuncia, cobrindo-as, fazendo-nos hesitar antes de largarmos a precária segurança duma e, compassadamente com o movimento das ondas que se abatem ameaçadoras, fortes, tentar alcançar uma nova base de apoio, sempre mais longe numa fuga para a frente que se mostrava como a única esperança a ter, rumo à Foz do Lisandro – sem exagero neste caso a salvação, pois ambos já receávamos pelo fim da aventura e disso não fazíamos entre nós silêncio.
A mudança de marés, nem sequer liminarmente prevista pela inconsciência da falsa coragem da juventude, ameaçava de forma grave o verão de 76, na Ericeira, e nós sentíamo-nos pequenos demais perante a força da água que lutava com vigor em arrancar-nos dos frágeis poisos e arrastar-nos para os remoinhos que se formavam quando a água refluía após embater com estrépito na imponência do muro de pedra que se erguia à nossa esquerda. Houve momento em que vimos lá no cimo das escarpas pessoas que apontavam para nós e pareciam gritar, mas nada ouvíamos para além dos nossos medos e da forte língua do mar quando vocifera reclamando a expulsão dos estranhos que ousam violar a monotonia da sua eterna luta contra a terra que o limita em fronteiras que a sua milenar persistência vai corroendo.
Não tenho ideias sobre a duração temporal até chegarmos – salvos! à já nossa Terra Prometida, e a foz do Lisandro por certo foi na altura a visão mais encantadora que tive(mos), mesmo que a sua minúscula praia seja uma desilusão para conceitos estivais. Para nós, que desesperamos vezes sem conta em a atingir, foi na altura tudo, nesta ampla afirmação incluo a vida.
Pouco mais há a referir da minha estadia na Ericeira com excepção da peculiar viagem de regresso a Lisboa, mas essa terá as chamadas honras de merecer post à parte deste, pois merece ser narrada com exclusividade. Até breve.

sexta-feira, novembro 19, 2004

:-))

(a concordar com a expressão: uma imagem vale mais que...)

Uff...!!!!

?????

SOCORRO! ENCOLHI O BLOGUE!!!

Agradecimento & divagações natalícias

A exibição das minhas fraquezas nestas modernices do HTML que a mudança de poiso me trouxe fez aparecerem apoios e disponibilidades aos quais estou grato e a que não hesitarei em recorrer quando a 'bronca' for das tais que não consiga resolver a solo. A todos o meu obrigado.
Estou em fase de poucas aventuras e a ganhar embalagem para pegar o blogue de caras, pelo que poucas mexidas quero fazer desde que descobri como as letras dos posts se encolhem - essa era a minha maior preocupação. Quero arrumar a malta dos links sentando-os em cadeiras confortáveis, pipocas, umas almofadas para os que me aturam mais vezes nas espiadelas diárias e ao lado de quem também eu quero sentar-me calma e confortávelmente para lê-los. Para além disso penso em arranjar um cantinho fixo para rodar periódicamente fotografias e muito espero dessa possibilidade pois tenho em arquivo algumas bem bonitas, de diversos temas. Por aí - pelo que já andei a espreitar, parece que há dois problemas e que são: no Blogger, para tal, tem de se instalar outro programa, autónomo do de manutenção do blogue. E o tamanho das fotos está limitado a 'pixels', seja isso o que for mas mesa larga e farta não tem ares de ser, o que vai excluir muita boa foto que copiei em espírito de grandeza perante a possibilidade de escolha, ou seja pela resolução mais ampla que era permitida.
Tento ser fiel à minha obrigação individual de tentar ultrapassar as dificuldades sózinho, e perante a constatação de que os meus curtos príncipios de Peter foram atingidos, aí, não hesito em mendigar ajuda, tarefa que deixou de o ser com tantos amigos a ofereceram o que não tenho, i.e. conhecimentos informáticos que ultrapassem o escreve e posta, gama fotos e lança olhares espantados para as inatingíveis maravilhas que eles nos dão - a quem sabe HTML e quejandos. Portanto, quando a curiosidade desastrada atingir foro de problema por mim insolúvel é certíssimo que o Luciano e o Jass, a Theo, a Madalena (que belíssimas fotos tens no teu blogue!), a Maria Branco, a Sybilla e até a Teresa Delagoa - que sabe o mesmo de HTLM que eu..., todos eles receberão mails de desesperada descrição do problema, relatório das nabices que me lembrar de ter feito até por o blogue em chinês ou a parecer-se perigosamente com folheto metido em caixa de correio.
Mas eu tenho um segredo e vou partilhá-lo: esta menina, a Yurei-san, tem um blogue que é o que vocês vêm; uma orgia de bom gosto e equilíbrio, um festival de cor mesmo para aqueles que - como eu, têm discomatopsia. Não sei os nomes correctos das cores que por lá vejo e até adianto que estou-me nas tintas (bom trocadilho...) para tal. Pois elas casam-se bem entre si e no seu resultado aos meus olhos. Ora, daí à ilacção de que quem consegue em igual template um resultado tal é boa conselheira vai um pequeno passo que ela logo deu e eu aceitei ávidamente. É a sua paciência e mais que certa risota que me tem acompanhado nestas temerárias aventuras agátêémeélistas e, - confesso! eu estou a ficar entusiasmado com o resultado e ela ainda não se queixou de abuso ou monopólio de tempo. O que, face à proximidade do Natal augura um futuro ao Xicuembo algo embaraçoso. Será que, levado pelo entusiasmo neófito e de basbaque ante a montra de coisas boas proibidas, e pelo irreverente espírito de noviça rebelde que a pitinha da linha tem, este blogue ainda vai ter um Pai Natal a abrir o link, com luzinhas a piscar e anjinhos a voar? Tipo árvore de Natal pré-recessão?
Enfim, blogar é uma aventura...

quinta-feira, novembro 18, 2004

Um dólar...

A Ford vendeu a equipe de F.1 Jaguar aos austríacos da Red Bull por... um dólar.
Mas há precedentes: nos anos 90's a BMW desfez-se do sorvedouro de dinheiro e esperanças da Rover ao vendê-la a um grupo de directores por... uma libra, embora reservasse para si a marca 'Mini' e vendesse por algo bem mais sonante a 'Land-Rover' à Ford.
Nos 80's Bernard Tapie comprou a Adidas por um simbólico franco, antes de ser preso e desconfiar-se que nem esse tinha sido honestamente ganho.
Etc, etc.
Já neste século - restringindo-me só ao mundo automóvel, há mais "negócios da China" que camuflam desastres financeiros e revelam-se mais tarde, tantas vezes, dores de cabeça do tamanho de milhões aos ávidos compradores dos saldos.
A GM investiu milhões que pareciam infindáveis aos hiper-falidos da FIAT até que alguém disse " - chega!" e deixou como bónus a utilização ao preço da uva mijona de algumas das suas plataformas. Por exemplo, o novo Punto terá sob a sua lata toda a arquitectura do Corsa, e satisfeitos estão os italianos pois nem dinheiro nem arte tinham para fazer igual ou parecido.
No Japão e vizinhos a Daimler-Chrysler (Mercedes-Benz para os não aficionados) abandonou à sua triste sorte o imobilismo da Mitsubishi, que não tem um único veículo competitivo há uma década para além do especialíssimo Lancer EVO, assim como largou de mão a grotesca SsangYoung da Coreia, um dia ré desse atentado estético que foi o mostrengo Musso.
A mesma Mercedes ainda paga a factura da "fusão" com a americana Chrysler, casamento sob um regime de bens onde só ela passa cheques para rejuvenescer uma gama arcaica onde as únicas estrelas visíveis ao olho nu do comprador eram, à altura, o colossal Viper e a sua prima RAM. Hoje levantam a cabeça com o Crossfire (chassi e mecânica da anterior geração do alemão SLK) e o bonito 300C que brevemente por cá se verá ao gosto da moda, gasóleo.
Mas voltando aos japoneses... a sorte grande saiu à falida Nissan quando a Renault tomou a maioria do seu capital e mandou para lá Ghosn endireitar a casa, i.e. mandar para o lixo metade dos produtos em produção. Ainda não vi grandes avanços de design apelativo mas também é verdade que tenho gostos exigentes e estou traumatizado por décadas de insultos estéticos com origem oriental. Mas os números são parecidos com o algodão e não enganam, e o fantasma do encerramento de fábricas e venda ao desbarato dos salvados está já longe do horizonte da antiga Datsun. Mais "um dólar", desta vez parece que bem gasto.
A Subaru ainda existe? para além da máquina de acelerar Impreza WRC que mais tem que valha "um dólar"?
Na Coreia (sul, claro; lá em cima andam a pé) foi o que se sabe e bem há pouco tempo: os carros de lata com marca de electrodomésticos baratuchos foram todos aos saldos, Kia, Daewoo, etc, só não fecharam justamente portas porque houve almas caridosas que deram o 'tal dólar' e o governo local abriu mão de muitos milhões dos ditos.
Não fica por aqui o rosário - que não é exaustivo pois seria tão maçador como o "Natal nos Hospitais", e vamos aos que aspiram a que alguém lhes dê a tal nota pelos elefantes brancos que criaram.
Na VAG (grupo Volkswagen) vai muita coisa de mal a pior e até recrutaram para chefe máximo o alemão da Mercedes que pôs as contas no sítio na filial americana Chrysler. A missão é óbvia e andam pelos jornais comuns as notícias dos acordos com os sindicatos para evitarem-se encerramentos de fábricas e dezenas de milhar de despedimentos.
Nestas há uma que é em muito responsável pelo descalabro das contas: a novíssima e hiper high-tech do infeliz Phaeton, um investimento astronómico que se revelou um 'flop' comercial: dos 80.000 anunciados oficialmente como previsão de vendas para o ano passado venderam-se 16.000, e os parques estão lotados de unidades que estão a ser escoadas para o terceiro-mundo e ao tal preço de saldo camuflado em benesses na aquisição de segunda viatura, revisões integralmente gratuitas por cinco anos, super valorização de retomas, etc, etc. É que pagar o preço dum Classe S ou dum A8 ou Série 7 e receber um Passat 'grande'... muitos poucos o farão.
Ainda na VAG, na Bugatti continua o mistério, continuam os milhões a voar e as cabeças a rolar, e o Veyron nem vê-lo... Agora dizem que há 50 compradores sinalizados para o tal milhão de euros a unidade, mas isso não é sucesso e não paga o desenvolvimento do carro. São os coleccionadores e admira é a escassez de encomendas. Como é sabido e já é palco de anedotas, a sua aerodinâmica foi mal projectada e a besta é instável acima dos 380 km/h, portanto longe dos prometidos "mais de 400". Além de que os 1001 cv não têm ar suficiente para respirarem, falando-se em surdina na redução para banais 850 cv... os advogados dos tais 'gloriosos 50' sorriem e vão dando retoques às minutas das petições indemnizatórias por venda de produto não conforme ao contratualmente prometido... é assim que se multiplicam milhões e, lá nos gabinetes de topo em Wolfsburg, muitos devem olhar ansiosamente os telefones à espera duma proposta de... um dólar.
São assim as notas dum samba de um dólar só. O desespero em passar a batata quente antes que as mãos, de tão queimadas, não possam continuar a governar o lume dum fogão que tantos e tão bonitos petiscos cozinhou...
Porque há muitas estórias de insucessos que valem milhões infindáveis na indústria automóvel, e não só a do mítico Edsel da Ford, anos 50's. Só mais uma para terminar:
Olhemos a Renault, para não cansarmos a vista para muito mais além dos Pirinéus. Aquela bota da tropa do VelSatis é vendida a alguém? Se sim, quanto é que se recebe para levar-se para casa o que passará a ser o carro mais feio do bairro? Outro: o Avantime é tão avant, tão avant, que aujourd'hui ninguém o vê.
E calo-me, já resmunguei. Hoje não bato no Chris Bangle, não me apetece. Esse não vale um dólar meu.

quarta-feira, novembro 17, 2004

Problemas de alfaiate

Não vou falar de mim nem de Moçambique, não vou insistir nas tricas da pequena política nacional e nem sequer me aproximo dos carros. Vou falar no blog.
Nota-se que não estou aclimatado aos novos ares - mas isso é (tem, tem de...) passageiro, há que vestir-me (-lo) em condições. O velho Xicuembo, para além das razões sentimentais e que são fortes por tantos bons motivos, tinha um visual que, mais que agradável, era mais próprio do que desejo que o 'meu' blog seja. Mais intimista, menos título de escaparate.
Neste novo ainda não consegui familiarizar-me com o 'template' para dar ao seu visual um toque pessoal, uma arrumação. Por exemplo diminuir o tamanho dos caracteres pois as palavras parecem gritadas, não conversadas. Lá irei, com tempo, paciência e ajudas amigas, e espera-se que também pacientes com o meu analfabetismo em agátêémeéle.
É o caso dos casamentos de conveniência. Desipotecados os bens e ao volante do carro novo, chega-se à conclusão que tudo isso é vão pois falta o amor, sal e doce da felicidade, porta do carinho que nos faz ronronar de alegria de viver, e sem ele "batatas"... Vêem? o recurso ao lugar-comum, a falta de intimidade com as palavras, a rédea que nos arrasta para o laconismo quando o desejo é libertar o tanto que em silêncio se pensa.
Que raio! preciso de uma bloga e não de um blog, carece esta relação que partilha ainda tão poucas intimidades duma sessão de sexo puro e duro, - como soe dizer-se..., daquelas em que transfiguramos os sonhos num rugir animal saciador de apelos deliciosamente primitivos? Uma 'queca' em que nos nossos corpos desliza um Murganheira bruto, em direcção a lábios ávidos de carícias, do taste do carinho? Não, não vou por aí pois, embora com os móveis fora do sítio e as portas escancaradas deixando ver a miséria das paredes nuas de quadros, ainda não chegou o "Xicuembo" a tanto (embora há poucos dias atrás tenha dado uma...)
Há pouco estive meia-hora a compor o post-lençol anterior. Muito desse tempo foi gasto na cópia de links (o que sucederia com qualquer servidor) e não duvido que na composição do post em HTML tive abissais vantagens em relação ao 'Sapo'; isto sem recordar os vários textos que perdi por não ter feito prudente cópia, alguns que tentei recriar depois mas perdidos da chama que rompe da primeira vez, quando as letras voam ao ritmo certo de dedos que sintonizaram com a porta que se abre só em momentos especiais - eu chamo-lhes mágicos. No batráquio demorava mais, muito mais, e só quando ele estivesse pelos ajustes em deixar-me tentar.
Mas... maldito mas! falta-me um beijo, uma carícia, eu não sou uma puta que se despe assim. Tenho de viver a corte com o novo blog, seduzi-lo e ele seduzir-me. Dar-lhe carinho, para ele me revelar o seu 'template' e eu beijá-lo com suavidade, possuíndo-o em ousados <'s, brincalhões <> que vão descobrindo intimidades - e não tarda estou apelidado de maníaco sexual na variante da htmlfilia.
Daí que termine com o inevitável aviso: "a gerência não se responsabiliza pelo futuro próximo, face ao caos do presente". Falo do blog, não da vida.

Blogs com cheiro moçambicano

Lembrei-me de fazer um apanhado dos blogues (que conheço) com um cheiro moçambicano. E lembrei-me porque o Ma-schamba, hoje, denunciou mais um link desta espécie (como é que ele os descobre??). Aqui vai portanto a minha lista, e quem souber de mais que os indique, o que antecipadamente agradeço:
  • Claro que o mais famoso (justamente) é o Ma-schamba do jpt, um sportinguista que nas cálidas águas do Ã�ndico sonha o impossível mas da realidade dá-nos uma visão muito aconselhável.
  • Também sedeado nesses abençoados ares há o Mr. Dutton goes to Mozambique dum americano, John Dutton, que, pelo que percebo, integra uma ONG dedicada ao apoio humanitário. Está em inglês e como sou um nabo nele fluente nem sempre há paciência para fazer mais que uma leitura transversal.
  • O Crónicas Semanais, de Luis David, faz jus ao nome e, semanalmente, reproduz crónicas publicadas no jornal local "Savana".
  • Ultimamente tenho acompanhado o blogue Passada, uma 'tuga' ainda incógnita que em Maputo oscila nas suas escritas entre os frescos locais e as pinceladas sobre a sua/nossa santa terrinha.
  • O O País da Marrabenta perdeu o pio em Julho e ainda não recuperou. Ainda o espreito de vez em quando, mas cada vez mais sem esperanças de que recupere... O XitiZap lá vai lutando por causas ambientais onde, acredito, elas não devem ser das primeiras preocupações de governantes mais preocupados com o acréscimo no PIB que as mega-fábricas trarão do que com os malefícios que as levam para o terceiro-mundo.
Estes, que eu conheça, são os com produção 'feita lá'. Por cá:
Dedicados às fotos que preenchem a nostalgia dos que nunca esquecem os anos africanos, temos:
  • Nos chamados "fotolog" há o inevitável Cherba's Fotolog. Boas fotos, há ali muita qualidade embora com produção muito irregular.
  • Não é um "fotolog" mas sim uma trip visual o Yurei-san da noviça do Frei no convento da linha, a querida Ro. Ser sensível, suave na escrita que reflecte a suavidade dos seus sentimentos e com imagens de escolha mais que acertada - feliz. Uma orgia de cor, uma maravilha de pitinha.
  • Por vezes com posts sobre Moçambique há o Moving to Africa e o Abstracplain, assim como o MozCam, todos em língua inglesa. Ainda em inglês, estou por perceber se o Maputo region serve para mais que sujeitar os residentes de Copenhaga a crises climatéricamente induzidas pela comparação entre a sua temperatura e a de Maputo... onde é que estão os posts?
Mas vamos aos poetas:
Ora bem, eis o grosso da coluna onde estão muitos dos meus favoritos pois as suas letras são de qualidade:
  • Primeiro de todos o meu muito querido Chuinga da Teresa Delagoa/IO, já dona de posts de culto e de quem aguardo sempre mais, mais... ;-)
  • Da Luísa H., Maryluh, o Blogueios de vez em quando lembra-se da gente e lá põe um post... vá lá, Luísinha, a vida não são só aviões! Outro que infelizmente 'posta' com muita irregularidade é o Joca Soares do O canto do Xirico. É pena pois tem um óptimo gosto estético e, quando para tal tem tempo ou disposição, brinda-nos com excelentes posts.
  • O António San do re-Corrente... foi-me revelado há pouco tempo mas já ganhou lugar especial. Um blog que reflecte muita beleza além de visão crítica deste outro mundo que existe para além da web. Do caro macua Fernando Gil, senhor de vários blogues, realço dois: o Moçambique para todos e o 25 de Abril - o antes e o depois. Bons blogues, uma visão própria sobre o processo de descolonização moçambicana e a sua leitura é inevitável para preencher-se o leque das opiniões dos intervenientes nesse pedaço de história que marcou a vida de pessoas concretas - nós.
  • Agora do Jaime, o excelente ForEver Pemba 3, um blogue com muita documentação histórica e uma lista de links que é uma viagem que se aconselha. Porém, neste capítulo da documentação histórica sobre Moçambique há um que se destaca: o injustamente pouco citado Companhia de Moçambique. Se um dia houver vontades e meios para preservar doutra forma a memória bloguística nacional, que o "Cª de Moç." seja dos primeiros!
  • O Espaço El Mulato morreu antes do Natal de 2003, mas ainda existem por lá pretextos para visitas de leitura. Quanto ao Cantinho das Boas Maneiras da doce Michele Didier, a Miiii, também anda anémico... que se passa Miii? Um cantinho tão bonito como o teu e tão pouco produtivo...
  • Ah... pois é, há ainda o Random precision do Luís Rodrigues, ao que sei nado e criado nas margens da Delagoa Bay. Um bom blogue mas onde não se vêem especiais referências a Moçambique. Porém o seu link íntimo existe, e portanto o seu lugar nesta listagem é devido, justo.

Falta falar de dois (+ um) que têm de me merecer referência pois embora não sejam de moçambicanos no sentido tradicional ou vulgarizado no pós-independência, não raro por lá se lêm palavras (acertadas) acerca desse país, do seu 'antes' e também do seu 'depois':

  • Falo do João Tunes e do seu último blogue de referência o Ã�gua Lisa, que sucedeu ao inesquecível Bota Acima 2, o qual já era filho do Bota Acima 1. Um trio que é um póquer de ases junto com o Alentejanando do compadre Isidoro de Machede. Este, para além da verve apurada é um comilão insaciável e de bom gosto, além de apreciador dos prazeres líquidos que as uvas nos dão. Os seus posts, por vezes, roçam encantadoramente a perfeição...

  • Não fecho o post sem referir um caso especial, duma moçambicana por adopção. A Theo nunca foi a Moçambique e duvido que pense em lá ir. Mas também não exagero se avançar que muitos dos seus amigos são moçambicanos que vivem intensamente essa ligação sentimental com Ã�frica e, por isso, ela é moçambicana "honoris causa". Definitivamente, merecidamente. Moçambique ou qualquer outro país só tem a ganhar em ter uma cidadã como ela, ser especial abençoada com dons especiais onde avulta uma simbiose de ternura e vontade de vencer. O seu blog é o A Sebenta, a mais recente das minhas visitas de encantamento.
Perdão para quem esqueci. Como sabem não é intencional, é inabilidade mnemónica ou funcional.
NOTA DO DIA 18: Face às reclamações (justas) acho que consegui acertar os links... eu bem avisei que sou um nabo. E, Madalena, o teu link também não funciona... please, acerta isso tu também, para eu aqui fazer a devida correcção, ok?

terça-feira, novembro 16, 2004

Snif...

Tenho saudades do Sapo... não me queixo deste, mas aquele é a ex-namorada à porta de quem continuamos a passar, distraídos, sonhadores...

segunda-feira, novembro 15, 2004

O Samuel conheceu o Eusébio

O Samuel queria conhecer o Eusébio e conheceu-o. Eu sei que é verdade pois entrei na sala quando a TV o mostrou. Aliás, já estava a mostrá-lo e assim continuou quando saí.
No écran a legenda não enganava, para que a baba saísse em jorros e o temido zapping não acontecesse: o Samuel era a criança mutilada, e o miúdo, tímido como qualquer criança o é quando sujeito àqueles holofotes indiscretos e intimidantes, dizia a tudo 'sim', envergonhado.
Eu disse não, que já chega de mutilações, e saí da sala regressando à minha ilha de sanidade virtual.

domingo, novembro 14, 2004

Futebol profissional


Algumas perguntas:

Porque é que a Inglaterra, que tem uma taxa de analfabetismo e de iliteracia menor que as nossas, pátria do futebol, etc - etc onde se incluem as multidões das mais apaixonadas, tem semanários desportivos e nós temos diários?

Será que é no próximo defeso que o Beto vai para o Real Madrid?

Afinal o que vale o futebol português quando comparado pelos topos de ligas? Se fossem organizados campeonatos sectoriais para inventar €uros, por exemplo Portugal-Espanha-França, (os mais próximos geograficamente), após a formação política inicial de participantes quantos dos nossos ‘tops’ sobreviveriam a duas ou três épocas, para além do campeão nacional que teria de ter a sua inscrição garantida?

É o mesmo sentimento que mantém Pinto da Costa no F.C. do Porto há sei lá quantos anos, o que reelege A.J. Jardim e Ferreira Torres em múltiplos preocupantemente excessivos? O desejo de ‘ganhar’ a qualquer preço, mesmo que esse passe pelo embaraço?

O que leva tantos a odiar Mourinho e que é também o seu segredo, é a falta de complexos no exercício competente da sua profissão? Vergonha disfarçada de inveja perante o sucesso, que não vem dos €uro Milhões mas sim da competência profissional?

Daqui a 150 anos JVP ainda vai continuar a afirmar que deu flores a um desconhecido, em vez do murro que o desgraçado sentiu?

O ‘outsourcing’ para os lugares de dirigente não seria benéfico?

Quantos jogos houve este ano no Estádio Algarve, findo o Euro? Vende-se ao Abramovich para treinos de verão, com o Paulo China a explorar os bares?

E por falar em estádios… quantos já têm o ‘pilim’ em pré-contencioso? Quando chegar a altura, para além das penhoras às “casas-de-banho� não as haverá aos bens dos irresponsáveis que foram atrás da treta dos construtores civis, dos bancos e dos parolos que querem ser sempre os donos da maior casa do bairro?

Quando é que os árbitros passam a profissionais num desporto que pinga oficialmente para todos os outros o suficiente para dele viverem em exclusivo, matando assim à nascença eventual tentativa de desculpa moral para ‘empréstimos’ e ‘favores’?

Lá no fundo, lá mesmo no fundo de si, quantos dos que gritam e insultam, que se transfiguram, gostam mesmo de futebol para além de ‘eles’ ganharem e ‘os outros’ perderem?

Afinal, que raio de deus é este que aliena tantos? O seu lado mais negro, que se escapa mascarado de clubismo em overdose?

Belém...! Belém...!

Mantive-me calado que nem um rato, confesso até que só hoje fui ver o resultado.
Três secos! Só é pena aquele moço do Gabão que tem nome parecido com produto à venda no Intermarché não ter marcado um golito... não faz mal, fica para de amanhã a oito!

O que me traz à seguinte reflexão: se os dirigentes se calassem mais, os seus clubes não dariam mais vezes "três secos"?

sábado, novembro 13, 2004

Acordar tarde...

Telefonei para o Coliseu pois achei que era uma óptima forma para entreter a tarde de sábado irmos ver o Cats. Azar. Não só hoje é a última exibição como - naturalmente! está esgotadíssimo...

Como alternativa possível (e seguindo recomendação da Bela e do Camané) há o Festival do Chocolate em Óbidos, local sempre agradável e que não me canso de visitar. Mas quem já por lá andou, e a meio da semana, diz que mal se podia circular...

Poesia moçambicana

"Poema para um negro"

O que me prende é o que te prende:
largo horizonte de outros passados,
raízes fundas presas ao chão
e um mar tão largo.

Palavras soltas num vento agreste,
caminhos rudes determinados,
sombras e sonhos sem condição
e um céu tão vasto.

Meus passos breves não deixam rasto.
Teus passos fundos, fundos estão.
Mas entre o mar e o céu e os nossos passos,
a nossa humanidade é o mesmo laço
irmão.

Glória de Sant'Ana

gamado aqui



Justa apreensão

Aos 12 anos aprendia francês. Aos 49 ando em volta do HTML...
O que é que a velhice ainda me reservará?

NOTA que pretende ser a tempo, antes que leve com uma chibata:
Eu avisei quem não me conhece das minhas inabilidades funcionais.
Exactamente no último parágrafo do primeiro post desta nova capa do Xicuembo, aí mesmo no fundo desta página... estamos todos cheios de sorte em ainda não aparecer impresso em latim ;-) pois até o raio do Frei aqui dá sugestões desde que descobriu que uma noviça do Convento da Linha tinha habilidades insuspeitas e, virtualmente, movimentava por aqui o rato.
Isso fá-lo suar que nem um perdido no receio de que a pobre moça -segundo me contou, inadvertidamente abri-se páginas de web sites que estão destinadas à sua profunda reflexão mística sobre o pecado e o arrependimento... enfim vamos ver se não sou ainda excomungado por não conseguir xicuembar o meu template!

sexta-feira, novembro 12, 2004

A cópula

As mãos percorrem os corpos quais extensões de alma que quer possuir dando-se, acariciando e sentindo o desejo que cresce e domina a racionalidade, apertando carnes e egos, beijando com os dedos o seu gémeo de luxúria.

Os corpos colados, ávidos de fusão, os olhos embaciados pelo desejo, as bocas procurando-se e sugando-se, animais, no desespero de se saborearem em ânsia de mais prazer. Soberanos e selvagens, húmidos da seiva de entrega, os sexos vibram na antecipação que se prolonga em mil carícias, em ternuras e sussurros de desejo, na alegria da descoberta do prazer.

As línguas lambem e sentem, sequiosas e irrequietas, provam os fluidos dos corpos que possuem em amplexo apaixonado, e que se entregam nesta dança de música única e passo sincopado pelos sentidos despertos na procura de mais prazer, sempre mais prazer, Graal eterno da partilha do jogo amoroso.

Olhos fixos e ardendo no desejo que os faz brilhar, o ritual eterno celebra-se e ela recebe-o e ele penetra-a, eles comungam as sensações e lambem em murmúrios o abandono mental que a cópula traz, invadindo-os dum prazer irracional, primitivo, delicioso, autoritário na posse e no abandono, olvidando tudo que esteja para além dos seus corpos que se fundem em gritos surdos de paixão.

Animalescamente agitam-se, roçam-se, entregues à mecânica da sapiente busca do desejado clímax beijam-se em todos os seus centímetros que clamam por mais e mais, mais posse, mais entrega, mais cópula deliciosamente selvagem, primado do corpo-animal.

Na intimidade explodem linhas de prazer que cerram mãos que se entrelaçam, retesam músculos e soltam esgares animais, e eles fundem-se no longo beijo dos sexos saciados que acalma o frenesim dos corpos, descarga master dos desejos animais que a humanidade persegue irracionalmente.

Os seus fluidos, os seus cheiros, o cio que os envolve e domina a atmosfera subalternizando tudo o mais ao momento mágico que se precipita no longo grito que a alma e o corpo soltam, seres arqueados e tensos na posse mútua que depois resvala no abandono saciado, no doce cansaço que a realização corporal dá.

A névoa que toldou cérebros esvai-se, e nos olhos semi-cerrados há uma chama de ternura e uma gratidão muda, os lábios molhados entreabrem-se e num sorriso simples soltam-se as palavras de amor nascidas no abandono ao eterno desejo animal que o corpo reclama para celebrar o prazer da entrega pela mais completa intimidade, a copulada.

Adenda ao post anterior

Na viagem de regresso vim calmamente no CL 65 da AMG. Nascia o Sol quando vi Santarém, e vim tomar o pequeno-almoço a padaria-pastelaria madrugadora.
À porta, o CL prateado reconheceu ruas e prédios, talvez caras, e os seus doze cilindros calaram-se fazendo soar os quatro da discreta e banal Escort.
Foi familiarmente que olhei para a casa, guardei os carros na garagem, entrei e liguei o computador.

quinta-feira, novembro 11, 2004

O Prius

Há imensos anos que embirro com os carros japoneses por três razões que sempre tornei públicas, hoje estendidas a coreanos e, infelizmente, a muito curto prazo aos chineses:
a) Conjunturais, pois vejo a economia japonesa como sanguessuga dos mercados onde se implanta;
b) Tecnológicas, dado que continuam a ser óptimos operários, meticulosos, mas incapazes de criar algo de verdadeiramente novo e contentam-se em manter-se no gabinete de baixo, sem capacidade de inovar embora pareçam um aviário a parir meios de transporte;
c) Finalmente as estéticas, visto os seus produtos oscilarem entre a agressão visual ou uns pães-sem-sal nascidos para não terem um risco que os diferencie da multidão circulante, faltando-lhes equilíbrio e ousadia habilmente combinados.

No passado houve excepções e no meu museu ideal estão o Toyota 2000 GT, o Honda S 800 e o 240 Z da Datsun, cada um muito especial por razões distintas. Paralelamente mas sem destaque, lá para os cantos duma nave secundária do museu, coloco o 1600 SSS e o Cosmos 110 S, Datsun e Mazda, assim como uma multidão de mini-carros citadinos que iniciaram época: O Honda N 360 e 600, o Fronte da Suzuki, Cony, Daihatsu 360, etc, etc. O Mazda Cosmos era tão ‘kitsch’ que até chegava a ser bonito com o seu aspecto pré-espacial e ousava na (importada…) tecnologia Wankel, e o ‘triésse’ foi um ganhador que nos difíceis ralis africanos foi rei, muito por culpa do casal sul-africano Van Berger. Durante muito tempo, e antes de perceber que quando conduzo o carro só eu é que posso mandar no volante, acreditei que eles eram o casal perfeito, com a vida perfeita.

De então para cá – e não me venham com argumentos como o volume de vendas pois quantidade nunca foi sinónimo de qualidade e a robustez física não é sinal de inteligência, desde esses anos 60 e princípios de 70’s, dizia, as fábricas lá da zona têm exportado horrores visuais como os Kia e outros com nome e mérito de electrodoméstico, ou cinzentismos chamados de Corolla, Colt, e muitas outras latas bem acabadas e reluzentes cujos apelidos dão pelos impronunciáveis GSXI, VTXX, SSXL, XLSS, ZX-R, etc, infeliz etc. O panorama de vez em quando apresenta pequenas nuances que fazem-me abrir um olho, como o NSX da Honda ou o novo 3 e o RX-8 da Mazda, mas nada por aí além…

Sobre os Infiniti (Nissan), Lexus (Toyota) e Acura (Honda) feitos nos e para os USA continuo a preferir o equivalente europeu que eles combatem segmento a segmento. Mentalidades de poupadinho nas revisões, num país onde um tipo com uma vida mediana troca de carro novo cada cinco anos sem que isso lhe perturbe a vida, é argumento que me cai mal quando por mais ou por menos umas centenas de euros pode-se ter “the real thing�.

E porquê o Toyota Prius, essa bola de râguebi mais feio que a mãe que o fez? Essa cópia high-tech e mal desenhada de um monovolume de pequeno-burguês com 3 filhos e a sua fidelíssima, a sogra e o cachorro? O motor, ou melhor os seus dois motores.

O Prius é um dos pouquíssimos carros que circulam com tecnologia híbrida, um motor convencional e um eléctrico, que se apoiam mutuamente nas suas insuficiências. Os carros totalmente eléctricos ainda são uma miragem longe dos campos de golfe, e a motorização “limpa� para o ambiente e a carteira será a inevitável próxima revolução industrial do sector. Como sempre, as novidades não vieram do Sol embandeirado, neste caso a motivação veio da Califórnia que já há uns bons anitos atrás aprovou legislação estadual que avisava os fabricantes em como no seu importante mercado e daí por um prazo confortável só seriam autorizadas vendas de marcas cuja produção contemplasse pelo menos 10% de veículos ‘limpos’. Embora a intenção fosse abandonada e a legislação revogada pois conduziria as fábricas norte-americanas a um buraco financeiro maior que aquele onde navegam, os japoneses, que sempre olharam ambiciosamente para o enorme mercado automóvel dos ‘states’, levaram-na a sério e foram os que mais passos certos deram no bom sentido, de que o Prius e uma versão do Civic são exemplos práticos.

Em circulação citadina funciona o motor eléctrico, sem gases e sem ruído, nuns respeitáveis oitenta cavalos mais que suficientes para o pára-arranca da cidade, e só quando a potência se revela insuficiente é que o motor convencionalmente movido a gasolina liga-se automaticamente, mais setenta e alguns cavalos para ajudar. Embora a autonomia da motorização eléctrica pareça pequena – meros duzentos e poucos quilómetros, aqui é que reside o engraçado e prático do Prius: não é necessário recarregar-lhe as baterias pois estas estão constantemente a catar energia aos movimentos naturais do carro. Por exemplo, quando a travagem é accionada há uma energia gerada que é aproveitada, quando o motor de explosão funciona alimenta também as baterias, etc.

Como resultado, e em circulação mista, não é preciso ser um ás da poupança para fazer médias inferiores a cinco litros, metade do que um carro daquele peso e potência conjunta gasta normalmente, com o correspondente benefício ambiental e de poupança à carteira.

A Honda tem uma versão do Civic híbrida mas com mais incómodos de utilizador e menos potencialidades, e a divisão americana da Toyota, citada Lexus, tem um SUV do tamanho dum Range-Rover, mas cheio de cromados, com o mesmo sistema do Prius. Fala-se que a próxima geração do “S� da Mercedes-Benz irá comercializar uma versão híbrida, mas é um segmento exótico e mais do agrado de presidentes de clubes de futebol ou empresárias de Arraiolos que de bloguistas já com garagem feita e farta. GM, BMW, VAG, fazem estudos sobre estudos mas ainda não têm produto comercializável que apresente a fidelidade que, desta vez e fazendo jus ao seu cognome de bons operários, os japoneses apresentam.

Porém, olho para aquela carapaça de tartaruga pós-modernista do Prius e penso no que o bom gosto dum designer da escola europeia faria com aquela base de trabalho… porque é que não se há-de fabricar o belo, abandonando-se o exótico atamancado, a vulgaridade disfarçada em linhas pseudamente futuristas? Quando será que os japoneses fabricam um carro que marque a diferença na paisagem pela positiva, e não seja motivo de risota nos salões e de esfregar de mãos em stands que aspiram a hiper-mercados?

Assim vou manter-me fiel à Escort, a quem ontem mudei velas e está pronta para mais uns garbosos milhares de quilómetros poluidores. Mal por mal, feio por feio, prefiro-a a ela que, ainda no último fim-de-semana, transformou-se em garboso Arnage até Alverca e, na CREL cujo piso não me inspira nenhuma confiança, foi substituído por um Enzo que me levou em segurança e em beleza até um dos poucos locais onde me sinto bem, com "a minha gente".

Arafat

Nos anos 50's um povo adquiriu o direito a uma nação mercê da unidade conseguida em cima duma tenebrosa constatação: eram perseguidos e vistos como estrangeiros em terras onde moravam há gerações, por serem um povo sem terra. Essa nação, Israel, nasceu sob antagonismo de todos os vizinhos, especialmente da Palestina que era de todos o que podia reclamar maior prejuízo pois também tinha as suas aspirações particulares bem sedimentadas.

Mais tarde esse vizinho, poderoso, ocupou e vexou a Palestina e a revolta eclodiu, natural. Arafat surge como líder, como a cara e a voz de unidade dum povo em luta contra um invasor, um opressor estrangeiro que lhe rouba terras e põe soldados a policiar as suas ruas, a revistar as suas casas.

Em 1972 Arafat está na Argélia e recebe como heróis nacionais os terroristas palestinos que acabam de destruir em Munique mais um pouco da paz e dos valores que a viabilizam. A fogueira da barbárie que varre o mundo também foi por ele muitas vezes atiçada, e de cada vez que as suas chamas se erguem há uma geração que cede o sorriso ao esgar do terror, e clama por novas fogueiras de vingança.

Em 198? recebe o Nobel da Paz em parceria com outro tão suspeito como ele. Foram medalhas políticas e não de valor específico, mas o diálogo fazia-se; as balas esmoreciam e a esperança existia, e isso devia-se também aos seus actos concretos e não a retóricas para serem lidas a milhares de quilómetros.

Arafat era ou passava por ser o diálogo possível, embora se suspeite que virava a cara para o lado quando à porta do seu gabinete passavam os fanáticos com os coletes da morte. Haverá até quem diga que os fomentava (e tanto pode ser verdade como não o ser) e que as suas negativas só se destinavam a soar às portas que lhe interessava encontrar abertas.

Como líder político e militar teve actos mais que censuráveis pelo colectivo humano, criminalizáveis. Como teve outros de valor positivo e que não podem esquecer-se.

Morrerá dentro de dias, horas, nem sei se... Dizem que há uma máquina que o auxilia a respirar mas há olhos a mais fixos nele e nela, num circo de poder e de interesses que é aviltante em todo o lado e mais ainda em volta do leito da morte. Nem Arafat nem ninguém o merece, o homo sapiens tem direito à sua morte com mais dignidade que assistida por uma máquina que tantos olham com fés e interesses tão diferentes.

Arafat não é santo de meu altar pois abomino a chacina de civis, a selvajaria do terrorismo urbano, mas a causa por que ele lutou toda a vida é justa. Também por estes sentimentos contraditórios que sinto ao seu nome e imagem, a sua morte e as condições em que ela está a ser programada, discutida, retalhada, negociada, aviltada! é um espectáculo que me perturba.

Será feito ícone e, como outros doutras lutas, os historiadores se encarregarão de descobrir-lhe os pés de barro e mais o que por lá haja. Mas, para já, merece morrer com dignidade, sem o aviltamento deste circo político e mediático que o rodeia e o asfixia, sem que alguma máquina possa ajudá-lo.