sexta-feira, novembro 12, 2004

A cópula

As mãos percorrem os corpos quais extensões de alma que quer possuir dando-se, acariciando e sentindo o desejo que cresce e domina a racionalidade, apertando carnes e egos, beijando com os dedos o seu gémeo de luxúria.

Os corpos colados, ávidos de fusão, os olhos embaciados pelo desejo, as bocas procurando-se e sugando-se, animais, no desespero de se saborearem em ânsia de mais prazer. Soberanos e selvagens, húmidos da seiva de entrega, os sexos vibram na antecipação que se prolonga em mil carícias, em ternuras e sussurros de desejo, na alegria da descoberta do prazer.

As línguas lambem e sentem, sequiosas e irrequietas, provam os fluidos dos corpos que possuem em amplexo apaixonado, e que se entregam nesta dança de música única e passo sincopado pelos sentidos despertos na procura de mais prazer, sempre mais prazer, Graal eterno da partilha do jogo amoroso.

Olhos fixos e ardendo no desejo que os faz brilhar, o ritual eterno celebra-se e ela recebe-o e ele penetra-a, eles comungam as sensações e lambem em murmúrios o abandono mental que a cópula traz, invadindo-os dum prazer irracional, primitivo, delicioso, autoritário na posse e no abandono, olvidando tudo que esteja para além dos seus corpos que se fundem em gritos surdos de paixão.

Animalescamente agitam-se, roçam-se, entregues à mecânica da sapiente busca do desejado clímax beijam-se em todos os seus centímetros que clamam por mais e mais, mais posse, mais entrega, mais cópula deliciosamente selvagem, primado do corpo-animal.

Na intimidade explodem linhas de prazer que cerram mãos que se entrelaçam, retesam músculos e soltam esgares animais, e eles fundem-se no longo beijo dos sexos saciados que acalma o frenesim dos corpos, descarga master dos desejos animais que a humanidade persegue irracionalmente.

Os seus fluidos, os seus cheiros, o cio que os envolve e domina a atmosfera subalternizando tudo o mais ao momento mágico que se precipita no longo grito que a alma e o corpo soltam, seres arqueados e tensos na posse mútua que depois resvala no abandono saciado, no doce cansaço que a realização corporal dá.

A névoa que toldou cérebros esvai-se, e nos olhos semi-cerrados há uma chama de ternura e uma gratidão muda, os lábios molhados entreabrem-se e num sorriso simples soltam-se as palavras de amor nascidas no abandono ao eterno desejo animal que o corpo reclama para celebrar o prazer da entrega pela mais completa intimidade, a copulada.