sexta-feira, novembro 26, 2004

net-Aforismo

É para ti, tu sabes.
Era uma vez uma coisa chamada net que põe em comunicação aquilo de nós que nunca contaríamos, que nos ocupa o pensamento mas não dizemos de viva voz. Porque nos sentiríamos contristados em desnudarmo-nos assim. Quando isso costuma acontecer já nos desnudamos mútuamente em versão literal e, normalmente, ao entusiasmo biológico inicial sobreio um amargo de boca, a monótona desilusão.
Depois esta coisa chamada net, todos desnudados e bons rapazes, desliza do virtual para onde todos os sonhos são encaminhados em ralo que raramente deixa passar mais que pedaços de realidade - e todos nós a conhecemos. Vem o reverso da medalha, as letras pequenas do contrato.
Vem a mão que segura a caneta, vem o corpo todo atrás com a celulite ou a falta de dentes, vem a idade e vêm as marcas da vida.
E o antes, que se prolonga em letras que já não correspondem ao embalo onírico anterior, ao tempo em que os príncipes e as princesas existiam e todos cavalgávamos cavalos brancos a caminho do paraíso? Esse antes mergulha na subalternidade ou mantém-se como valor de equação, face não visível mas de cuja porta conhecemos o segredo e gostamos de abrir, penetrando noutros mundos, castelos, de mão dada? O antes sobrevive, continua?
Era uma vez uma coisa chamada net e que pôs as pessoas a falarem umas com as outras. Eis o mais positivo. O resto leva-se à conta das consequências da humanidade que todos nós, muito felizmente, sentimos e partilhamos.
É para ti, um beijo virtual que saberás que não inibirei de dar no real. E isto é a net que me permite dizê-lo em praça pública sem que alguém tenha de baixar os olhos de embaraço.
É para ti e interpreta suavemente - é a net.

1 Comments:

Blogger th said...

O antes continua, se formos inteligentemente ricos e criativos!

sábado, novembro 27, 2004 3:39:00 da manhã  

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