O Prius
Há imensos anos que embirro com os carros japoneses por três razões que sempre tornei públicas, hoje estendidas a coreanos e, infelizmente, a muito curto prazo aos chineses:
a) Conjunturais, pois vejo a economia japonesa como sanguessuga dos mercados onde se implanta;
b) Tecnológicas, dado que continuam a ser óptimos operários, meticulosos, mas incapazes de criar algo de verdadeiramente novo e contentam-se em manter-se no gabinete de baixo, sem capacidade de inovar embora pareçam um aviário a parir meios de transporte;
c) Finalmente as estéticas, visto os seus produtos oscilarem entre a agressão visual ou uns pães-sem-sal nascidos para não terem um risco que os diferencie da multidão circulante, faltando-lhes equilÃbrio e ousadia habilmente combinados.
No passado houve excepções e no meu museu ideal estão o Toyota 2000 GT, o Honda S 800 e o 240 Z da Datsun, cada um muito especial por razões distintas. Paralelamente mas sem destaque, lá para os cantos duma nave secundária do museu, coloco o 1600 SSS e o Cosmos 110 S, Datsun e Mazda, assim como uma multidão de mini-carros citadinos que iniciaram época: O Honda N 360 e 600, o Fronte da Suzuki, Cony, Daihatsu 360, etc, etc. O Mazda Cosmos era tão ‘kitsch’ que até chegava a ser bonito com o seu aspecto pré-espacial e ousava na (importada…) tecnologia Wankel, e o ‘triésse’ foi um ganhador que nos difÃceis ralis africanos foi rei, muito por culpa do casal sul-africano Van Berger. Durante muito tempo, e antes de perceber que quando conduzo o carro só eu é que posso mandar no volante, acreditei que eles eram o casal perfeito, com a vida perfeita.
De então para cá – e não me venham com argumentos como o volume de vendas pois quantidade nunca foi sinónimo de qualidade e a robustez fÃsica não é sinal de inteligência, desde esses anos 60 e princÃpios de 70’s, dizia, as fábricas lá da zona têm exportado horrores visuais como os Kia e outros com nome e mérito de electrodoméstico, ou cinzentismos chamados de Corolla, Colt, e muitas outras latas bem acabadas e reluzentes cujos apelidos dão pelos impronunciáveis GSXI, VTXX, SSXL, XLSS, ZX-R, etc, infeliz etc. O panorama de vez em quando apresenta pequenas nuances que fazem-me abrir um olho, como o NSX da Honda ou o novo 3 e o RX-8 da Mazda, mas nada por aà além…
Sobre os Infiniti (Nissan), Lexus (Toyota) e Acura (Honda) feitos nos e para os USA continuo a preferir o equivalente europeu que eles combatem segmento a segmento. Mentalidades de poupadinho nas revisões, num paÃs onde um tipo com uma vida mediana troca de carro novo cada cinco anos sem que isso lhe perturbe a vida, é argumento que me cai mal quando por mais ou por menos umas centenas de euros pode-se ter “the real thingâ€�.
E porquê o Toyota Prius, essa bola de râguebi mais feio que a mãe que o fez? Essa cópia high-tech e mal desenhada de um monovolume de pequeno-burguês com 3 filhos e a sua fidelÃssima, a sogra e o cachorro? O motor, ou melhor os seus dois motores.
O Prius é um dos pouquÃssimos carros que circulam com tecnologia hÃbrida, um motor convencional e um eléctrico, que se apoiam mutuamente nas suas insuficiências. Os carros totalmente eléctricos ainda são uma miragem longe dos campos de golfe, e a motorização “limpaâ€� para o ambiente e a carteira será a inevitável próxima revolução industrial do sector. Como sempre, as novidades não vieram do Sol embandeirado, neste caso a motivação veio da Califórnia que já há uns bons anitos atrás aprovou legislação estadual que avisava os fabricantes em como no seu importante mercado e daà por um prazo confortável só seriam autorizadas vendas de marcas cuja produção contemplasse pelo menos 10% de veÃculos ‘limpos’. Embora a intenção fosse abandonada e a legislação revogada pois conduziria as fábricas norte-americanas a um buraco financeiro maior que aquele onde navegam, os japoneses, que sempre olharam ambiciosamente para o enorme mercado automóvel dos ‘states’, levaram-na a sério e foram os que mais passos certos deram no bom sentido, de que o Prius e uma versão do Civic são exemplos práticos.
Em circulação citadina funciona o motor eléctrico, sem gases e sem ruÃdo, nuns respeitáveis oitenta cavalos mais que suficientes para o pára-arranca da cidade, e só quando a potência se revela insuficiente é que o motor convencionalmente movido a gasolina liga-se automaticamente, mais setenta e alguns cavalos para ajudar. Embora a autonomia da motorização eléctrica pareça pequena – meros duzentos e poucos quilómetros, aqui é que reside o engraçado e prático do Prius: não é necessário recarregar-lhe as baterias pois estas estão constantemente a catar energia aos movimentos naturais do carro. Por exemplo, quando a travagem é accionada há uma energia gerada que é aproveitada, quando o motor de explosão funciona alimenta também as baterias, etc.
Como resultado, e em circulação mista, não é preciso ser um ás da poupança para fazer médias inferiores a cinco litros, metade do que um carro daquele peso e potência conjunta gasta normalmente, com o correspondente benefÃcio ambiental e de poupança à carteira.
A Honda tem uma versão do Civic hÃbrida mas com mais incómodos de utilizador e menos potencialidades, e a divisão americana da Toyota, citada Lexus, tem um SUV do tamanho dum Range-Rover, mas cheio de cromados, com o mesmo sistema do Prius. Fala-se que a próxima geração do “Sâ€� da Mercedes-Benz irá comercializar uma versão hÃbrida, mas é um segmento exótico e mais do agrado de presidentes de clubes de futebol ou empresárias de Arraiolos que de bloguistas já com garagem feita e farta. GM, BMW, VAG, fazem estudos sobre estudos mas ainda não têm produto comercializável que apresente a fidelidade que, desta vez e fazendo jus ao seu cognome de bons operários, os japoneses apresentam.
Porém, olho para aquela carapaça de tartaruga pós-modernista do Prius e penso no que o bom gosto dum designer da escola europeia faria com aquela base de trabalho… porque é que não se há-de fabricar o belo, abandonando-se o exótico atamancado, a vulgaridade disfarçada em linhas pseudamente futuristas? Quando será que os japoneses fabricam um carro que marque a diferença na paisagem pela positiva, e não seja motivo de risota nos salões e de esfregar de mãos em stands que aspiram a hiper-mercados?
Assim vou manter-me fiel à Escort, a quem ontem mudei velas e está pronta para mais uns garbosos milhares de quilómetros poluidores. Mal por mal, feio por feio, prefiro-a a ela que, ainda no último fim-de-semana, transformou-se em garboso Arnage até Alverca e, na CREL cujo piso não me inspira nenhuma confiança, foi substituÃdo por um Enzo que me levou em segurança e em beleza até um dos poucos locais onde me sinto bem, com "a minha gente".
a) Conjunturais, pois vejo a economia japonesa como sanguessuga dos mercados onde se implanta;
b) Tecnológicas, dado que continuam a ser óptimos operários, meticulosos, mas incapazes de criar algo de verdadeiramente novo e contentam-se em manter-se no gabinete de baixo, sem capacidade de inovar embora pareçam um aviário a parir meios de transporte;
c) Finalmente as estéticas, visto os seus produtos oscilarem entre a agressão visual ou uns pães-sem-sal nascidos para não terem um risco que os diferencie da multidão circulante, faltando-lhes equilÃbrio e ousadia habilmente combinados.
No passado houve excepções e no meu museu ideal estão o Toyota 2000 GT, o Honda S 800 e o 240 Z da Datsun, cada um muito especial por razões distintas. Paralelamente mas sem destaque, lá para os cantos duma nave secundária do museu, coloco o 1600 SSS e o Cosmos 110 S, Datsun e Mazda, assim como uma multidão de mini-carros citadinos que iniciaram época: O Honda N 360 e 600, o Fronte da Suzuki, Cony, Daihatsu 360, etc, etc. O Mazda Cosmos era tão ‘kitsch’ que até chegava a ser bonito com o seu aspecto pré-espacial e ousava na (importada…) tecnologia Wankel, e o ‘triésse’ foi um ganhador que nos difÃceis ralis africanos foi rei, muito por culpa do casal sul-africano Van Berger. Durante muito tempo, e antes de perceber que quando conduzo o carro só eu é que posso mandar no volante, acreditei que eles eram o casal perfeito, com a vida perfeita.
De então para cá – e não me venham com argumentos como o volume de vendas pois quantidade nunca foi sinónimo de qualidade e a robustez fÃsica não é sinal de inteligência, desde esses anos 60 e princÃpios de 70’s, dizia, as fábricas lá da zona têm exportado horrores visuais como os Kia e outros com nome e mérito de electrodoméstico, ou cinzentismos chamados de Corolla, Colt, e muitas outras latas bem acabadas e reluzentes cujos apelidos dão pelos impronunciáveis GSXI, VTXX, SSXL, XLSS, ZX-R, etc, infeliz etc. O panorama de vez em quando apresenta pequenas nuances que fazem-me abrir um olho, como o NSX da Honda ou o novo 3 e o RX-8 da Mazda, mas nada por aà além…
Sobre os Infiniti (Nissan), Lexus (Toyota) e Acura (Honda) feitos nos e para os USA continuo a preferir o equivalente europeu que eles combatem segmento a segmento. Mentalidades de poupadinho nas revisões, num paÃs onde um tipo com uma vida mediana troca de carro novo cada cinco anos sem que isso lhe perturbe a vida, é argumento que me cai mal quando por mais ou por menos umas centenas de euros pode-se ter “the real thingâ€�.
E porquê o Toyota Prius, essa bola de râguebi mais feio que a mãe que o fez? Essa cópia high-tech e mal desenhada de um monovolume de pequeno-burguês com 3 filhos e a sua fidelÃssima, a sogra e o cachorro? O motor, ou melhor os seus dois motores.
O Prius é um dos pouquÃssimos carros que circulam com tecnologia hÃbrida, um motor convencional e um eléctrico, que se apoiam mutuamente nas suas insuficiências. Os carros totalmente eléctricos ainda são uma miragem longe dos campos de golfe, e a motorização “limpaâ€� para o ambiente e a carteira será a inevitável próxima revolução industrial do sector. Como sempre, as novidades não vieram do Sol embandeirado, neste caso a motivação veio da Califórnia que já há uns bons anitos atrás aprovou legislação estadual que avisava os fabricantes em como no seu importante mercado e daà por um prazo confortável só seriam autorizadas vendas de marcas cuja produção contemplasse pelo menos 10% de veÃculos ‘limpos’. Embora a intenção fosse abandonada e a legislação revogada pois conduziria as fábricas norte-americanas a um buraco financeiro maior que aquele onde navegam, os japoneses, que sempre olharam ambiciosamente para o enorme mercado automóvel dos ‘states’, levaram-na a sério e foram os que mais passos certos deram no bom sentido, de que o Prius e uma versão do Civic são exemplos práticos.
Em circulação citadina funciona o motor eléctrico, sem gases e sem ruÃdo, nuns respeitáveis oitenta cavalos mais que suficientes para o pára-arranca da cidade, e só quando a potência se revela insuficiente é que o motor convencionalmente movido a gasolina liga-se automaticamente, mais setenta e alguns cavalos para ajudar. Embora a autonomia da motorização eléctrica pareça pequena – meros duzentos e poucos quilómetros, aqui é que reside o engraçado e prático do Prius: não é necessário recarregar-lhe as baterias pois estas estão constantemente a catar energia aos movimentos naturais do carro. Por exemplo, quando a travagem é accionada há uma energia gerada que é aproveitada, quando o motor de explosão funciona alimenta também as baterias, etc.
Como resultado, e em circulação mista, não é preciso ser um ás da poupança para fazer médias inferiores a cinco litros, metade do que um carro daquele peso e potência conjunta gasta normalmente, com o correspondente benefÃcio ambiental e de poupança à carteira.
A Honda tem uma versão do Civic hÃbrida mas com mais incómodos de utilizador e menos potencialidades, e a divisão americana da Toyota, citada Lexus, tem um SUV do tamanho dum Range-Rover, mas cheio de cromados, com o mesmo sistema do Prius. Fala-se que a próxima geração do “Sâ€� da Mercedes-Benz irá comercializar uma versão hÃbrida, mas é um segmento exótico e mais do agrado de presidentes de clubes de futebol ou empresárias de Arraiolos que de bloguistas já com garagem feita e farta. GM, BMW, VAG, fazem estudos sobre estudos mas ainda não têm produto comercializável que apresente a fidelidade que, desta vez e fazendo jus ao seu cognome de bons operários, os japoneses apresentam.
Porém, olho para aquela carapaça de tartaruga pós-modernista do Prius e penso no que o bom gosto dum designer da escola europeia faria com aquela base de trabalho… porque é que não se há-de fabricar o belo, abandonando-se o exótico atamancado, a vulgaridade disfarçada em linhas pseudamente futuristas? Quando será que os japoneses fabricam um carro que marque a diferença na paisagem pela positiva, e não seja motivo de risota nos salões e de esfregar de mãos em stands que aspiram a hiper-mercados?
Assim vou manter-me fiel à Escort, a quem ontem mudei velas e está pronta para mais uns garbosos milhares de quilómetros poluidores. Mal por mal, feio por feio, prefiro-a a ela que, ainda no último fim-de-semana, transformou-se em garboso Arnage até Alverca e, na CREL cujo piso não me inspira nenhuma confiança, foi substituÃdo por um Enzo que me levou em segurança e em beleza até um dos poucos locais onde me sinto bem, com "a minha gente".
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