A escola de condução
Eu passava muito tempo entretido com coisas de nada mas que me pareciam liberdades inacreditáveis, alforrias conquistadas pelo crescer e que se manifestavam em mais e mais liberdade.
Quando consegui que o meu pai me emprestasse o carro numa ou noutra noite de fim-de-semana (proeza que só foi possÃvel munido duma “licença de condução ao lado de encartadoâ€� que uma escola de condução me deu na inscrição e onde nunca mais pus os pés), aÃ, por exemplo, gostava de ir para as estradas novas que desciam para a marginal, zona antes do Hotel Polana, estacionar o carro e ficar a olhar a baÃa, o mar e os barcos, o Sol ou a Lua, ficar só dentro do carro com os meus pensamentos que não divergiam da felicidade de estar a conquistar o meu lugar no mundo e isso ser-me muito agradável.
Uma vez ou outra, e porque já trabalhava e pelo menos os primeiros dias do mês eram feitos de bolso cheio, cheguei a escusar-me a jantar em casa e comprar um frango assado e ir comê-lo lá para essas ruas e o mesmo cenário, solitário na independência ainda insegura, solitário na ilusão de que era independente.
Ali ficava, comia as pernas e o resto sobrava no saco para dar a um cão que visse, por vezes que não foram poucas a seguir fazia um cigarro de suruma e mergulhava nos sonhos próprios da idade em que nos preocupamos com o universo e os seus mistérios, a essência da vida inteligente, e assim me debatia com os medos que a vida adulta que já dobrava a esquina exibia. Ansiava por crescer e esses frangos não encartados e cigarros clandestinos eram um suavizar do processo, mecanismo de defesa contra o tanto que há sempre para acusar “aos adultos� sobre o legado que nos deixam e onde estamos em processo biológico de ingressar.
Assim cresci, a gastar o tempo em ninharias e a olhar o mar e a Lua, só com licença de independência ao lado de encartado. Um carro anónimo numa rua deserta, o prazer dum frango assado e o fascÃnio do proibido. Tudo banalidades, mas a escola de condução era no Malhangalene, perto do Jardim Dª Berta, lado oposto da avenida, e provavelmente algum de vocês passou por mim estacionado, lugar e modos descritos, enquanto eu desfiava um osso de perna de frango e olhava sonhadoramente o horizonte.
Quando consegui que o meu pai me emprestasse o carro numa ou noutra noite de fim-de-semana (proeza que só foi possÃvel munido duma “licença de condução ao lado de encartadoâ€� que uma escola de condução me deu na inscrição e onde nunca mais pus os pés), aÃ, por exemplo, gostava de ir para as estradas novas que desciam para a marginal, zona antes do Hotel Polana, estacionar o carro e ficar a olhar a baÃa, o mar e os barcos, o Sol ou a Lua, ficar só dentro do carro com os meus pensamentos que não divergiam da felicidade de estar a conquistar o meu lugar no mundo e isso ser-me muito agradável.
Uma vez ou outra, e porque já trabalhava e pelo menos os primeiros dias do mês eram feitos de bolso cheio, cheguei a escusar-me a jantar em casa e comprar um frango assado e ir comê-lo lá para essas ruas e o mesmo cenário, solitário na independência ainda insegura, solitário na ilusão de que era independente.
Ali ficava, comia as pernas e o resto sobrava no saco para dar a um cão que visse, por vezes que não foram poucas a seguir fazia um cigarro de suruma e mergulhava nos sonhos próprios da idade em que nos preocupamos com o universo e os seus mistérios, a essência da vida inteligente, e assim me debatia com os medos que a vida adulta que já dobrava a esquina exibia. Ansiava por crescer e esses frangos não encartados e cigarros clandestinos eram um suavizar do processo, mecanismo de defesa contra o tanto que há sempre para acusar “aos adultos� sobre o legado que nos deixam e onde estamos em processo biológico de ingressar.
Assim cresci, a gastar o tempo em ninharias e a olhar o mar e a Lua, só com licença de independência ao lado de encartado. Um carro anónimo numa rua deserta, o prazer dum frango assado e o fascÃnio do proibido. Tudo banalidades, mas a escola de condução era no Malhangalene, perto do Jardim Dª Berta, lado oposto da avenida, e provavelmente algum de vocês passou por mim estacionado, lugar e modos descritos, enquanto eu desfiava um osso de perna de frango e olhava sonhadoramente o horizonte.
3 Comments:
Tanta escrita linda Carlos!
A escrita tem propriedades terapêuticas, eu acho!
E como se vencem barreiras escrevendo! E como se acalmam turbilhões, escrevendo. Como, simplesmente, se pensa, escrevendo!
Beijinhos
Já estavas a crescer antes de crescer, por que se cresce sózinho! th
Com essa tua descrição quase que senti o cheiro de todas essas tuas recordações: o cheiro da maresia da Polana, do frango do Piri-Piri, e até o cheiro clandestino da suruma...
Que vontade de reviver todas essas recordações!
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