quinta-feira, novembro 18, 2004

Um dólar...

A Ford vendeu a equipe de F.1 Jaguar aos austríacos da Red Bull por... um dólar.
Mas há precedentes: nos anos 90's a BMW desfez-se do sorvedouro de dinheiro e esperanças da Rover ao vendê-la a um grupo de directores por... uma libra, embora reservasse para si a marca 'Mini' e vendesse por algo bem mais sonante a 'Land-Rover' à Ford.
Nos 80's Bernard Tapie comprou a Adidas por um simbólico franco, antes de ser preso e desconfiar-se que nem esse tinha sido honestamente ganho.
Etc, etc.
Já neste século - restringindo-me só ao mundo automóvel, há mais "negócios da China" que camuflam desastres financeiros e revelam-se mais tarde, tantas vezes, dores de cabeça do tamanho de milhões aos ávidos compradores dos saldos.
A GM investiu milhões que pareciam infindáveis aos hiper-falidos da FIAT até que alguém disse " - chega!" e deixou como bónus a utilização ao preço da uva mijona de algumas das suas plataformas. Por exemplo, o novo Punto terá sob a sua lata toda a arquitectura do Corsa, e satisfeitos estão os italianos pois nem dinheiro nem arte tinham para fazer igual ou parecido.
No Japão e vizinhos a Daimler-Chrysler (Mercedes-Benz para os não aficionados) abandonou à sua triste sorte o imobilismo da Mitsubishi, que não tem um único veículo competitivo há uma década para além do especialíssimo Lancer EVO, assim como largou de mão a grotesca SsangYoung da Coreia, um dia ré desse atentado estético que foi o mostrengo Musso.
A mesma Mercedes ainda paga a factura da "fusão" com a americana Chrysler, casamento sob um regime de bens onde só ela passa cheques para rejuvenescer uma gama arcaica onde as únicas estrelas visíveis ao olho nu do comprador eram, à altura, o colossal Viper e a sua prima RAM. Hoje levantam a cabeça com o Crossfire (chassi e mecânica da anterior geração do alemão SLK) e o bonito 300C que brevemente por cá se verá ao gosto da moda, gasóleo.
Mas voltando aos japoneses... a sorte grande saiu à falida Nissan quando a Renault tomou a maioria do seu capital e mandou para lá Ghosn endireitar a casa, i.e. mandar para o lixo metade dos produtos em produção. Ainda não vi grandes avanços de design apelativo mas também é verdade que tenho gostos exigentes e estou traumatizado por décadas de insultos estéticos com origem oriental. Mas os números são parecidos com o algodão e não enganam, e o fantasma do encerramento de fábricas e venda ao desbarato dos salvados está já longe do horizonte da antiga Datsun. Mais "um dólar", desta vez parece que bem gasto.
A Subaru ainda existe? para além da máquina de acelerar Impreza WRC que mais tem que valha "um dólar"?
Na Coreia (sul, claro; lá em cima andam a pé) foi o que se sabe e bem há pouco tempo: os carros de lata com marca de electrodomésticos baratuchos foram todos aos saldos, Kia, Daewoo, etc, só não fecharam justamente portas porque houve almas caridosas que deram o 'tal dólar' e o governo local abriu mão de muitos milhões dos ditos.
Não fica por aqui o rosário - que não é exaustivo pois seria tão maçador como o "Natal nos Hospitais", e vamos aos que aspiram a que alguém lhes dê a tal nota pelos elefantes brancos que criaram.
Na VAG (grupo Volkswagen) vai muita coisa de mal a pior e até recrutaram para chefe máximo o alemão da Mercedes que pôs as contas no sítio na filial americana Chrysler. A missão é óbvia e andam pelos jornais comuns as notícias dos acordos com os sindicatos para evitarem-se encerramentos de fábricas e dezenas de milhar de despedimentos.
Nestas há uma que é em muito responsável pelo descalabro das contas: a novíssima e hiper high-tech do infeliz Phaeton, um investimento astronómico que se revelou um 'flop' comercial: dos 80.000 anunciados oficialmente como previsão de vendas para o ano passado venderam-se 16.000, e os parques estão lotados de unidades que estão a ser escoadas para o terceiro-mundo e ao tal preço de saldo camuflado em benesses na aquisição de segunda viatura, revisões integralmente gratuitas por cinco anos, super valorização de retomas, etc, etc. É que pagar o preço dum Classe S ou dum A8 ou Série 7 e receber um Passat 'grande'... muitos poucos o farão.
Ainda na VAG, na Bugatti continua o mistério, continuam os milhões a voar e as cabeças a rolar, e o Veyron nem vê-lo... Agora dizem que há 50 compradores sinalizados para o tal milhão de euros a unidade, mas isso não é sucesso e não paga o desenvolvimento do carro. São os coleccionadores e admira é a escassez de encomendas. Como é sabido e já é palco de anedotas, a sua aerodinâmica foi mal projectada e a besta é instável acima dos 380 km/h, portanto longe dos prometidos "mais de 400". Além de que os 1001 cv não têm ar suficiente para respirarem, falando-se em surdina na redução para banais 850 cv... os advogados dos tais 'gloriosos 50' sorriem e vão dando retoques às minutas das petições indemnizatórias por venda de produto não conforme ao contratualmente prometido... é assim que se multiplicam milhões e, lá nos gabinetes de topo em Wolfsburg, muitos devem olhar ansiosamente os telefones à espera duma proposta de... um dólar.
São assim as notas dum samba de um dólar só. O desespero em passar a batata quente antes que as mãos, de tão queimadas, não possam continuar a governar o lume dum fogão que tantos e tão bonitos petiscos cozinhou...
Porque há muitas estórias de insucessos que valem milhões infindáveis na indústria automóvel, e não só a do mítico Edsel da Ford, anos 50's. Só mais uma para terminar:
Olhemos a Renault, para não cansarmos a vista para muito mais além dos Pirinéus. Aquela bota da tropa do VelSatis é vendida a alguém? Se sim, quanto é que se recebe para levar-se para casa o que passará a ser o carro mais feio do bairro? Outro: o Avantime é tão avant, tão avant, que aujourd'hui ninguém o vê.
E calo-me, já resmunguei. Hoje não bato no Chris Bangle, não me apetece. Esse não vale um dólar meu.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Stop by and have a look at jetta 1996

domingo, outubro 23, 2005 6:26:00 da manhã  

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