quinta-feira, abril 27, 2006

Parabéns, Miguel!


Separa-nos um oceano. Inteiro, atlântico de distâncias, enorme principalmente hoje, dia do teu aniversário. Tens, já, 24 anos. De maturidade, responsabilidade e inconformismo, nos nossos vinte e quatro anos só leio páginas de que me orgulho. Decidiste partir deste engano de futuro e traçar o teu, procurar as hipóteses de sorrir que, aqui, se te negavam por osmose nacional. Com coragem, com ânimo, arriscaste e, por certo algumas vezes tremendo no pensar do dia de amanhã, estás bem perto de triunfar nos objectivos que te colocaste.
Mas, Miguel, isso já é quase secundário... Tu já triunfaste, formaste-te a ti próprio como um Homem completo, um Homem de que eu tenho um enorme orgulho em dizer que é meu filho.
Parabéns, hoje, parabéns sempre por me dares a alegria de ser teu pai. Amo-te, sabe-lo, mas não sabes é o orgulho que eu tenho em dizê-lo assim, publicamente.

quinta-feira, março 16, 2006

(o vazio)

Sou fã dos filmes do 'James Bond'. De entre todos, e a ter de escolher um, iria pelo apócrifo "Nunca mais digas nunca", vá-se lá saber porquê...

sexta-feira, setembro 23, 2005

Quero só lembrar...

... que o blogue Xicuembo migrou para AQUI (clicar sff) já há largos meses.

terça-feira, maio 17, 2005

O livro

Se clicarem em cima da capa do "tijolo", ao lado, acede-se ao site da editora ('Pé de Página', de Coimbra). Lá já é possível fazer a sua encomenda on-line sendo os portes postais por conta da casa, pelo menos para Portugal.
Sobre o lançamento: está confirmadíssima a data de 18 de Junho e o local; é um sábado e será às 18 horas, no Espaço Galveias ao Campo Pequeno, Lisboa a grande aldeia...
O Guilherme de Melo acedeu a dizer umas palavras sobre o "Xicuembo", deixando-me inchado como um pavão pois a sua pena é das que narram África com arte maior - vidé o seu "Os leões não dormem esta noite", romance histórico sobre a vida do tão pouco conhecido imperador Gungunhana e escrito a pedido pessoal do falecido presidente Samora Machel, a quem o livro é dedicado. Estou a deliciar-me com a sua leitura, e a aprender.
O grupo de teatro amador de Almeirim, "Narizes Perfeitos", fará a teatralização de uns pequenos sketchs extraídos do livro, momento especial e que só por si convida a um olhar. A magia do teatro, a força da juventude que acredita que a cultura não é exclusivamente coisa de museus nem de alfarrábios, ela é viva e eles personificam-na.
A edição tem o apoio do pelouro da cultura da Cãmara Municipal de Almeirim e do Centro Cultural Luso-Moçambicano, inexcedíveis que foram no ajudar-me à realização deste sonho. Infelizmente a 18 de Junho começam as festas da cidade (Almeirim), e muito dificílmente a autarquia estará representada ao nível que desejava e eu também. Mas sentirei a sua presença física, para além da realidade-livro há as palavras de incentivo e de carinho que nunca se esquecem, menos ainda nesse momento.
Desenvolvo diligências prometedoras para a comparência do senhor croquete e da dona chamuça, sendo que as latitas estão vacilantes, indecisas sobre a forma de penetrar acontecimento tão erudito... Debaixo da mesa? em arca de praia domingueira? dissimuladas e disfarçadas, acessíveis em passa-palavra iniciática? Alguma solução se arranjará...
Quero muita gente lá, casa cheia, para agradecer as carícias que me deram em ano e meio de bloganço que pariu um livro e, muito importante, para me dissimular no meio da multidão e ninguém reparar em mim, verem in loco a triste figura que quer passar por autor. Venham, por favor, estão todos convidados.
Ah...! não é preciso levar sandálias novas, ok?
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E recordo que este blogue tem já há algum tempo continuação no Xicuembo (versão 3.0) a que se acede clicando aqui.

quinta-feira, maio 05, 2005

Sorry...! sou um nabo!

A minha inabilidade levou-me a, em ensaios de colar texto à imagem, apagar o post que aqui estava com outra imagem do Xicuembo-book. Nada de grave seria se, ao post, não estivem colados três comentários daqueles que gostamos de guardar naquele cantinho. Sorry.... IO, Brígida e António-san. Sou um nabo, mas guardo as vossas mensagens em local que não as esquece nem as deixa apagar.

terça-feira, maio 03, 2005

a Capa do Xicuembo

Xicuembo 2

Houve artífice de mão de ouro para estes mistérios da informática que me meteu aqui as fotos, coisa que eu nunca, por mim, conseguiria fazer. Por causa das minhas invenções é que o 'template' deste blogue avariou irremediavelmente e tive de mudar a trouxa para aqui, versão 3.0 do Xicuembo. É só clicarem e estão lá, até que nova tragédia templária (templária?) aconteça.

Sobre o lançamento do meu livrinho: será em Junho, ainda sem data marcada. Tudo aponta para que seja em Lisboa, no espaço Galveias ao Campo Pequeno, e a apresentação será feita pelo Guilherme de Melo, jornalista e escritor luso-moçambicano que todos conhecemos, alguém que conhece as ruas e as pessoas de que 'falo', ama Moçambique, e escreve como poucos. Haverá teatralização duns sketchs extraídos do livro pelo grupo de teatro amador "Narizes Perfeitos", de Almeirim de que a minha Carla é participante mui empenhada. A editora é a Pé de Página, que tem tido uma paciência santa em aturar as minhas impaciências e que, há poucos dias atrás, brindou-me com um mail onde vinha esta maravilha de capa, perguntando-me muito inocentemente se gostava dela... se eu gostei? se eu gostei? Xiiiiiiiiiii.... adorei, e rezo para que as páginas sejam dignas de tão bonita apresentação. Parabéns 'criativos', o puto ficou mesmo com boa cara!

segunda-feira, abril 25, 2005

ufa...

Consegui. Ao fim duns dias em que roguei pragas ao Blogger ele atendeu-me, e já me deixa entrar na casa das máquinas. Assim e em gesto de boa vontade por quem acedeu às minhas súplicas, já não o mato como era a intenção inicial.
Fica assim, que eu entretanto mudei-me para aqui, um velho blogue de "experiências" que tinha criado e de que nunca mais me lembrara, até descobri-lo nesta luta por encontrar usernames e passwords que fossem conciliáveis com a sanha burocrática de que o motor do blogue se vestiu.
Aqui fechou o tasco. Até lá.

quarta-feira, abril 20, 2005

A propósito do "habemus"

Estou farto do deita abaixo gratuito, do clubismo ideológico, desculpas rotas e máscaras de mau gosto para caracteres maus. Faccioso, falso, maldizente e de má índole pois não acredito que os seus autores não saibam, ao praticá-lo, o quão boçal é a sua atitude, pornográfica, injusta, brejeira no insulto fácil.

Li Hitler, Debord, Lenine, até os inenarráveis Kim Il-Sung e Enver Hoxha. E Samora Machel, Salazar e Otelo, Maiakovsky, Bakunine e Bertolt Brecht, Marcuse e David Cooper, Reich, Tourainne, toda essa tralha infindável que todos lemos com acertos pontuais aos nomes. Alguma coisa aprendi, meio-meio entre o que me ensinaram e o que deles li e reprovei, e assim também aprendi. Aprendi também a respeitar. Quando escrevo sobre um acontecimento social ou político, ou nele reflicto, guio-me pelo muito aprendido mas entrincheirado por princípios que exigem argumentos muito fortes para serem ultrapassados É esse o outro livro que tenho sempre aberto, até porque sou eu que o escrevo. Hoje pouco leio pois cansam-me as leituras de fôlego, que já não tenho. As páginas demoram demais a ser viradas pois sopeso as palavras com mais rigor, já não me sinto numa aula e não tenho ídolos. Leio a minha blogosfera e dois jornais generalistas.

Isto tudo para dizer que o insulto porco (post de André Esteves, "Não se esqueçam do saquinho", de 19 de Abril) mete-me asco, e não lhe vejo qualquer justificação ideológica, filosófica, e aterroriza-me a ideia da sua praxis (não dialéctica) se, eventualmente, assim for considerado. Para ele não vejo qualquer atenuante, ainda para mais quando a discussão deveria incidir sobre a instituição/estado/modelo/cargo e não resvalar para o chinelo sujo do insulto personalizado. Ainda para mais a tresandar a xenófobo e mais qualquer coisa cujo cheiro ainda não distingui bem - mas que está lá e cheira muito mal.

Segunda parte do post, lembrado por este primeiro.

Tenho dois "amigos" na blogosfera, daqueles em que a empatia com as escritas foi-se perpetuando e desejamo-la mútua, mas sem qualquer tipo de conhecimento que ultrapasse a má palavra 'virtual'. Ambos polemistas natos e bem equipados, e naquela fase em que a génese ideológica é importante nas avaliações. E desculpem lá as deduções, melhor: convençam este cabeça-dura armado em net-psi que está enganado:

Um, o João Tunes (Bota Acima 1, 2, Água Lisa 1 e 2, o homem escreve para caramba!) pela-se por uma polémica acesa e eu, sei lá como e com que ginásticas e chiquelinas, tenho-me safo à sua artilharia bem oleada e com a benesse dum longo estágio que a minha fisga nunca teve.

Outro, o jpt do actual Ma-Schamba, antes e ao mesmo tempo do Maschamba, e doutro terreno de que perdi o link (tanta caderneta predial...), tem maus fígados e, como tem acessos de rigor ideológico, canaliza e exacerba os fanatismos para a camisola clubista, em desequilíbrio tal que se suspeita ser forçado para que nada deles reste nas outras leituras e avaliações, assim o sonhará, sei lá se o consegue ou conseguirá.

São ambos minha leitura indispensável e, deste ano e tal em que somos vizinhos e todos os dias 'conversamos' lendo(-nos) sobre o "mundo ou a terrinha, um livro ou um filme, pitas ou futebol", por isto tudo vamo-nos conhecendo e, daí, a minha referência à amizade que adiantei previamente como o sentimento adequado. Já sei que o jpt com tal não concorda, e calculo que o João estabeleça dúvidas, ambos em relação à valia de sentimentos nascidos e mantidos via Internet, sem o 'cheiro' dos corpos. Como imaginar apetitosa uma receita pela sua leitura mas recear que, no prato, seja repugnante ou parecida com nada, vulgar. Mas eu acredito que seria natural amigo de tantos autores que li, e pelo que deles li e com que me identifiquei, que não hesito em manter igual critério na blogosfera, em concreto os citados. Admiro mais a escrita que a oralidade, e o bom que ela me traga suplanta-me sem esforço eventuais tiques pessoais que o corpo da mente tenha.

Não me levem a mal esta conversa tão pública e personalizada. É pretexto para divagar palavrinhas sobre tantas coisas, e porque não falar dos amigos, até para mais se estão presentes? Afinal este café é pequenino e a reduzida freguesia é toda boa gente, caras do dia-a-dia, bica e jornal diário de cada um pois todos nos lemos uns aos outros. As vossas caixas de comentários são por certo esplanadas com mais frequência que este cantinho de bica-e-bolo em pé, miradela aos títulos.

A ligação com o "habemus":

Ontem o jpt soltou meia dúzia de palavras com vontade de berrar mil, e assim soavam. Tanto que depois as escreveu, duplicou, senti um 'mau momento', como depois me corrigi após tê-las chamado de 'mau feitio'. Na descarga duplicada de adrenalina acumulada, caixa dos comentários, ele referiu exemplos para a sua azia, nem fui lê-los pois acredito na fidelidade das menções. Mas há o eco, e não sou surdo, felizmente. Ouço gritaria em excesso, stress, quando leio meia dúzia de palavras leio lábios mordidos.
Antes, aqui, já lera maus humores que me pareceram descabidos. Ontem, caso citado, vi um vulcão prestes a implodir se não houvesse 'descarga' - como houve na caixa de comentários, e tudo por causa da histeria bloguística com o novo Papa. E penso para mim: o que ele diria (e escreveria?) se tivesse visto a alarvidade que serviu de princípio/tema a este post alençoado... que se passa, jpt? não há um exagero nessas reacções às 'banais' palermices e pavoneios alheios? como poderá o mundo sobreviver se desligarmos o nosso computador ou quando fechamos os olhos?

Post esse que o João hoje ecoou, sem palavras suas mas ecoou, ao duplicar a imagem do cão embora com suporte palavroso distinto do post em que centrei baterias. O que, está mesmo a ver-se, desagradou-me e, lá, na caixa de comentários dele e na do post em causa, assim o manifestei como o faria se a conversa fosse em volta de mesa de café. A tal "diferença" que garante às leituras diárias serem um prazer foi arranhada, e o arranhão doeu-me na pele como se eu próprio o tivesse feito, borrada.

Enquanto escrevia ia-me recordando de qualquer coisa que tinha lido algures e parecia-me citação oportuna, segui o faro e dei com ela que transcrevo para terminar.

"...Nós apenas organizamos o detonador; a livre explosão deverá subtrair-se-nos para sempre, e subtrair-se também a qualquer outro controle."

(in nº 8 da revista 'Internacional Situacionista', 1963, conforme pág. 11 do livro "Antologia - Internacional Situacionista", editora Antígona, tradução de 1997 duma edição holandesa de 1970)

Se este post vier a dar 'bronca' não sei como me vou ater nela. Como disse atrás - e insisto no repetir para que fique claro, não tenho vocação ou jeito polemista, sendo que as receio e aquele nasce do reconhecimento das minhas dúvidas pessoais, limitações, impreparações, afinal brutal carências que me fazem sempre o ouvinte mais atento e calado da sala. E peço desculpa por ter levantado o dedo para falar.

Aproveito a boleia deste metro-e-meio de tecido para dar conta da situação do meu zombie-blogue: os textos anteriores são irrecuperáveis por meios normais, têm de ser consertados um a um e à mão. Portanto fi-lo até ao texto da minha filha Carla, "O Natal da Vanda", o resto fica para a aposentação. Enfim, partir uma perna é mais doloroso.

terça-feira, abril 19, 2005

Armas para Arte

Bento XVI



Um político nato. Na sociedade civil arriscava-se a alcunha de falcão. Dele calculo que tentará manter a estrutura conservadora intacta, mas com cedência ao rigor secular que sejam populares.

O casamento dos padres, exemplo, e maior abertura às mulheres-fiéis no aparelho interno até para possibilitá-lo e 'legitimá-lo'. Até pela necessidade de recrutamento de novos diáconos. Quanto ao preservativo, já é um 'talvez' duvidoso, pois o princípio em causa na leitura teológica é vizinho muito próximo do dogma do nascimento da vida, i.e. também a posição anti-aborto que será inabalável com este cardeal que foi do ex-Santo Ofício e agora é o novo Papa.


Com ele não prevejo uma participação mais empenhada da Igreja na discussão de muitos problemas da sociedade, exemplo a discussão e combate à pobreza que vá mais além de entrevistas enérgicas - falo de não 'falarem' os cardeais só de vez em quando, e sim de dizê-lo e denunciá-lo em bom som e diáriamente, como se duma prece periódica se tratasse. Outro bom exemplo que daria (mas que não espero deste pontificado) seria o clero ser socialmente mais justo na atribuição de penitências, quando o crime é fora ou dentro das suas paredes. Seria uma tara complicada de mais para poder explicar-se que só em Boston e arredores há padres e bispos pedófilos, e é inacreditável como nada se sabe quanto ao combate interno a essa ameaça ao ser criança, e escuso-me de falar na sua fragilidade que deveria merecer até ao infiel dos infiéis um sentimento que é mais reprovável em ditos exemplos de fé e rectidão moral, pois quem não pode ser lobo não lhe veste e, fazendo-o, a alcateia deveria puni-lo. 'lobo' e 'alcateia' são figuras de retórica, portanto nada insinuo e protesto é por esse silêncio pesado que faz crer haver excesso de esqueletos em armários, e por todos os lados. É óptimo que o meu pessimismo se engane, até acrescento.

Este Papa é de transição. Se muitas vozes discordantes havia sobre o enclausuramento da Igreja, não as vejo serem agora ouvidas por quem foi tantos anos nº 2 de quem a elas era surdo. É um político e não se lhe adivinha a mística que João Paulo II granjeou. Mesmo que o seu pontificado seja longo - e eu desejo-lhe uma vida tão longa como a que para mim pretendo, na história do Vaticano e na história cá fora ficará entalado em linhas que, de tão políticas, serão despidas da dimensão global do seu antecessor e do grande reformador que o próximo terá de ser.

O coro será tal que, o próximo, - pois a este Papa não prevejo agora melhor mais sensibilidade ao que se fartou de ouvir como Cardeal e nunca concordou, terá de reformar e aceleradamente. As tais fases complicadas da história que os homens, quando chegam a líderes por vontade divina ou terrena, têm obrigação de prever para suavizá-las ao mar de mexilhões que todos somos, e onde todas as fés pescam. Esses são os que ficam em tamanho grande nas páginas da História seja ela escrita em que século for, não os que dão nomes a avenidas que são sempre transitórias.

Estendi-me no tema que é o novo Papa, e alarguei terrenos ao futuro da Igreja. Como já está escrito assim fica, e que discorde quem quiser.

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(Já me esquecia... O Frei desligou o telemóvel e foi para a sua cela. Há 48 horas que não dorme, sempre com mala feita ao lado. Ia com má cara e levava uma garrafa escondida no hábito. A mala, das em latão castanho com bordadura em madeira, envolvida numa teia de cordões lacrados, ficou no meio do salão, abandonada. Coitado, ele acreditou mesmo que seria possível ser chamado para o lugar que vagou na diocese de Alforninhas, o que lhe dava muito jeito pois ficava mais perto da casa da família, em especial uma prima que anda em crise de fé. Paciência, ele é homem e frade de boa cepa, há-de sobreviver a esta desilusão...)

Um sinal dos céus?

Melhorou. Assim, de repente e sem que tivesse mexido um dedo. Habemus blog, e um dia tratar-se-á do arquivo morto. Acendo um cigarro satisfeito, esfumaço a boa nova!

(isto acontece...)

Não sei como resolver. Inicialmente escolhi um novo visual, depois reparei que tinha perdido os links mas isso também não era grave e com uma noitada compunha-se. Depois ainda escolhi outra cor e colei no 'template' a parte de links que tinha salvado há tempos atrás. Depois estive a meter-lhes as actualizaçãoes que fiz á dias atrás e lá não constavam, republiquei o blog mas nem os links nem o alfabeto, e os links ficam com início cá em baixo do último post, tipo rabo de dragão chinês, ai que bonito que isto deve estar escrito em grego e com caracteres achinesados.
Em desespero ilógio fui ao menu e voltei a por-lhe a roupa original, esperando que tudo tivesse sido um dos tais momentos que nunca deveriam ter existido para além dos pesadelos que invocam. Ficou tudo na mesma, a mesma cara-pálida do antigo Xicuembo 2 mas com letras reduzidas no tamanho e na legibilidade - vidé comentário de que quem os olhos sentiu cansados.
Alguém percebe de HTML e pode ajudar-me? Tenho o pressentimento de que fiz um blog-zombie.

Tragédia

Com a mudança do 'template' perdi os links todos. Tragédia, reparável só com tempo e (muita) paciência, que cada vez é menos...
Pior que isso tudo, não gosto do novo visual do blogue, as letras são minúsculas, enfim mais um dia daqueles em que...

"o bicho"

Só hoje li esta pérola de humor, e ri-me a bom rir.
Quem mo passou para os olhos foi esta infatigável cuscas da net, a Theo.

segunda-feira, abril 18, 2005

O Natal da Vanda

Da escola a Carla trouxe como trabalho de casa, aula de português, uma redacção sobre a discriminação e o racismo. Optou por fazer um conto, que passo a transcrever:
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O Natal da Vanda
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Bem, aqui estava ela! Mais um Natal, mais uma árvore, mais uma guloseima para o seu estômago! na verdade não era uma, mas um saco cheio delas! Uma de chocolate, outras de doce, açúcar! mas faltava-lhe a guloseima que mais desejava. Aquela que ela pedia todos os anos ao Pai Natal. Aquela, que ela nunca iria provar. Um amigo. Era só o que pedia. Experimentar a amizade, experimentar partilhar segredos, experimentar a sensação de desembrulhar a prenda de um amigo.
Não sabia porquê, mas desde que chegara àquele país todos a tratavam como uma estranha. Bem, para dizer a verdade, não a tratavam sequer... porque parecia que não tinham dado conta que havia mais uma cara no livro de ponto, mais uma cadeira ocupada, mais um teste a ser distribuído: parecia até que a conseguiam confundir com os troncos das árvores, pela sua cor mais escura. Mas na verdade, não tinha a certeza de que esse fosse realmente o problema. Talvez por viver num bairro social, tentou ao acaso Vanda... Não, não, não era esse o problema. Ou então pelos seus quilinhos a mais...
- Que ridículo Vanda. Pára de ter estas ideias estúpidas! - Disse de si para consigo.
Parecia que não havia mais hipóteses. Tinha de ser. Só podia ser da sua cor. Ela tinha uma cor a que a mãe chamava "a cor mais pura que pode existir" e que combinava com os seus olhos cor de carvão. Em África, nunca ninguém a tinha posto de parte pela sua cor. Na verdade, achava uma injustiça as pessoas do paí­s onde estava nascerem vermelhas, ficarem amarelas ou verdes quando estão doentes, serem castanhas quando apanham Sol, ficarem brancas quando apanham um susto e chamarem às pessoas do seu país que nascem e morrem com a pele igual, homens de cor.
Faltava pouco para acabar o dia 24 de Dezembro e a sua mãe estava a trabalhar. Em plena véspera de Natal. Ia passar a consoada no emprego para sustentar a famí­lia. Por isso Vanda sentia-se culpada de ter esbanjado dinheiro numa prenda para Catarina da sua turma, porque esta nem sequer lhe agradecera, não lhe dera nenhuma em troca e tinha a sensação que aquilo que vira no caixote do lixo na esquina ao lado da escola era muito parecido com o embrulho da prenda que oferecera. Mas afinal, não tinha feito de propósito. Julgara que se fizesse o que fez iriam reparar nela, mas tudo continuou na mesma.
O telefone tocou. Vanda levantou-se de um pulo! Será que tinham acertado na lotaria? Será que era Catarina a agradecer? Ou talvez, apenas um amigo a desejar "Feliz Natal"... Raios, como isso era bom. Talvez a minha vida mude com este telefonema - pensou. E foi com um baque que uma pedra acertou no seu coração quando pensou:
- Só podia ser.
Era engano.

O ardina

Cena 1:
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À hora do recreio os reclusos saíram para o largo e ensolarado pátio. Nesta paisagem de todos os dias a nota estranha vinha da mesa à sombra do edifício da secretaria, sobre ela um monte de livros, um homem sentado com uma caixa de cartão ao lado.
Quando o grupo de curiosos apresentou consistência digna de oratória, o estranho perguntou em voz alta: "- quem são os da droga?"
O hábito da bicha formou-se num ápice e a primeira cara, sorridente, falou: "- para fumar somos todos!"
Mas não era. Ele apontou para os livros e disse que era para ler, era o "Xicuembo", boa curte.
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Cena 2
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O vendedor entrou na loja de malas e cintos e foi recebido com rubor no sorriso da Maria João, em rima atrás do balcão.
Entre larachas e piropos, muitos risinhos, a mala de mostruário, já com um canto esfolado, foi aberta expondo o conteúdo.
"- são livros!" - exclamou, não escondendo o espanto de quem recorda nela ver colecções de primavera/verão e de outono/inverno há tantos anos como aqueles em que aquele flirt existia, consumado em cada nova colecção. Muitos.
"- lembras-te quando eras uma pitinha, e a vida não parava de sorrir, Maria João?" - insinuou ele, com um livro na mão.
Os olhos dela brilharam e o rubor cresceu, e a sua mão, nervosa, roçou levemente a dele, o reflexo do toque projectando-se no vidro que deixa ver porta-moedas em castanho e preto, bolsas para canetas e óculos, tabacos duma índústria e duma rotina que nada valiam ao lado das memórias que voaram para quando era 'pitinha', e não suspirava atrás do balcão por vendedores em viagem de negócios que querem poupar o dinheiro da pensão. Outro tempo, e já quase que não se recordava da magia especial de ser 'pitinha'.
"- é o "Xicuembo", fala nisso. Mangussos e pitinhas, cheirinhos do que foi realmente importante, bom. Quantos deixo? O teu ofereço-to, claro..."
Claro, suspirou ela. Claro. Xicuembo... pitinha... pitinhas e mangussos... Claro.
Comprou quinze e aceitou o convite dele para jantar, nas próximas noites solitárias leria o livro e esperaria pela nova colecção.
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Cena 3
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Estava quente na carruagem apinhada mas o calor que sentia no sangue e que a afogueava era motivada pela carícia aconchegante da perna dele, e acrescento. Até então só por uma vez os olhares se tinham cruzado, quando ambos tiveram consciência da presença do corpo do outro, 'sentiram-se', sentiram uma presença ávida, insinuante, doce nas emoções que toldavam a viagem num mergulho às sensações íntimas. O encosto dele subsistia desde a estação da Avenida e, quando o comboio fez a longa curva para entrar na recta que vai até Alvalade, já sob os Restauradores, foi mais ou menos aí que ela sentiu em si restaurarem-se desejos que julgava perdidos nos sonhos da adolescência, quando era uma garota e imaginava tórridos romances com príncipes conhecidos no Metro. Sentia a presença dele, adivinhava a masculinidade do macho na firmeza com que o corpo dele a comprimia, sem ser um roçar que seria boçal mas com a afirmação da sua presença, físicamente poderosa e que a incendiava enquanto as paredes negras se sucediam nas janelas que ninguém olha.
Os pensamentos foram quebrados pelo 'pling' electrónico que soou, iminência doutra estação, e os seus olhos procuraram o placard em cristais luminosos, inconscientemente já a calcular quanto tempo tinha para uma decisão, o convite ou a fuga. Leu que não era nem a estação dos Anjos nem a da Alameda, lá dizia em letras formadas por pontinhos vermelhos que piscavam:
"Leia o Xicuembo. De terras onde não havia nem há Metro, mas fala nisso tudo, no que você sente. 14 €, brevemente numa livraria perto de si. Xicuembo"
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Cena 4
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Na secular praça, onde os fiéis compartilhavam o dia em irmandade com os pombos, olhava-se o fumo que persistia negro, cíclicamente negro.
Havia gente de todo o mundo, asiáticos com as suas máquinas que clicavam sempre que alguém soltava ao céu mediterrânico uma baforada de fumo, então nos grupos que a juventude formava a multiracialidade era uma constante, jovens de tez nórdica, pálida, lado a lado com outros doutros tons e de mundos distantes, negros, morenos, o mundo fizera-se representar em todos os seus tons na observação dos sinais de fumo. Para além dos grupos havia muitos observadores isolados, imóveis a contemplar o céu, a coluna de fumo que se elevava mais uma vez, cinzenta, tão cinzenta que sombreava a negro as suas preces e desejos ainda não atendidos. Seria um conclave de espectadores pirómanos mudos, se não se ouvisse um lento murmurar dum tipo alto, tez escura e claros traços de índio norte-americano que, apontando o dedo para os balões de fumo que subiam rumo ao infinito, soletrava, como se acompanhasse com dificuldade uma leitura:
"Xi... cu... embo... Xicuembo. Fa... ça, faça... uma pau... sa... e... leia... Xicu... embo"
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Cena 5
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A bicha para entrega das declarações de impostos estava tão lenta como todas as bichas parecem a quem nelas está atrás. Quando chegou a sua vez e os papéis foram conferidos, rubricados, carimbados, o duplicado foi-lhe a final entregue com um livro de nome estranho que lhe fez associações mentais involuntárias com �frica onde, certamente, as bichas seriam diferentes. Lá é tudo diferente, pensou. É o que se imagina quando estamos fartos de impostos e bichas, papéis e mais papéis, primeiro mundo.
"- uma atenção da Direcção-Geral e com o patrocínio duma autarquia". E acrescentou, confidente: "- ainda não o li mas a Lisete, da Tesouraria, já o leu e gostou"
Quando saía, o inesperado presente arrumado na pasta das facturas e das burocracias, o contribuinte nº xyz sentiu um pequeno remorso afligi-lo por não ter contado tudo sobre o que os papéis lhe perguntaram, de quem assim tão bem o tratara. E prometeu a si mesmo ler o raio do livro, "Xicuembo" era o estranho nome, afinal a Lisete lera e gostara...

"Mulliner"

Ainda estou na ressaca do Euro Milhões. Mas não desisto de sonhar-me com o rabo lá sentado.

Links

Alguma arrumação aos links, com uma tímida intervenção dos inspectores tributários.
Especial destaque para o muito bom innersmile do Miguel do À Sombra dos Palmares, e um novo blogue moçambicano, o Babalaza, com posts muito oportunos e que não se limitam a noticiar. Comentam, e é isso um blogue, não uma folha de actualidades (de que o meu está transformado em infeliz exemplo). Portanto continuam a vir boas notícias do �ndico para esta blogosfera que, às vezes, parece a feira do Relógio.
Além destas referências especiais há outras novidades na linkagem, talvez a citar noutra altura que não hoje - o relógio acordou transformado em cronómetro.

sexta-feira, abril 15, 2005

?

Se um blogue é um diário de voyeurs (aceita-se?), há palavras melhores ou serão só palavras adiadas ou parvamente secretas, nos caderninhos Ambar e Moleskine?
Estou satisfeito por ainda existir esta coisa da matéria impublicada. Essa é a posteridade, haverá sempre alguém que nela tropeça e recorda-se de segundos, para ela, longos cultos em prosa para ele, autor.
E este deveria ter sido escrito e assim ficado, à mão, que também os tenho em blocos e caderninhos, fiquem pois sabendo dessa minha alegria com, folha a folha, também ter um baú.

quinta-feira, abril 14, 2005

Presidentes Assassinos

Comente quem quiser ou souber as respostas (2º parágrafo). Eu tenho uma língua pouco políticamente correcta, dextra ou canhota, para o que estes "f-d-p" merecem.
E para os silêncios pôdres que vigoram à* tempo demais, não sei se por paternalismo complexado, má consciência, ou...
*"há do verbo haver", conforme bem salienta um comentário infra. "há do verbo haver", vou repetir cinquenta vezes seguidas.

Questionário mui intelektual

Cadeia de Literatura
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Quem me arranjou este “trinta-e-um� foi esta miúda traquina
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Não podendo sair do ‘Fahrenheit 451’, que livro quererias ser?
Um romance de amor, picante e aventuroso, com duelos e fugas pela calada da noite em estilo ‘bond’, muitos beijinhos pelo meio e viveram felizes para sempre, como final.
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Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem de ficção?
O Robison Crusoé; o Tom Ripley, da P.Highsmith. O velho Buendia de G.G. Marquez. E o conde Monte Cristo, também, Ah! e o incomparável Gulley Jimson, de ‘A verdade em primeira mão’, de Joyce Cary.
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Qual foi o último livro que compraste?
"Sem nada, sem mãos, sem tempo� – Gilda de Vasconcelos
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Que livros estás a ler?
“Os leões não dormem esta noite�, Guilherme de Melo; "Eu hei-de amar uma pedra", Antº Lobo Antunes; "Amigos até ao fim", John Le Carré; "Mangas verdes com sal", Rui Knoffli;
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Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
“Como fazer amigos� – Dale Carnegie (substituo os outros por uma assinatura da ‘Maxmen’)
Agora “a sério�: Cem anos de solidão, GG Marquez; Crime e Castigo, Dostoievsy; O assassinato de Roger Ackroyd, Agatha Christie; A verdade em primeira mão, Joyce Cary; um dos muitos clássicos que nunca li, e um bom dicionário que, se contar como ‘livro’, suprime o último
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A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Como da minha tributação fiscal máxima já estão os três fora, a IO, que me meteu nesta alhada, o João que também foi por ela engajado, e o jpt que, por outras vias, também já se chibou, vou bater à porta do Zé Paulo e da Brígida, e o terceiro será quem mais quiser prolongar a corrente de mui douto bisbilhotanço, eheheh

quarta-feira, abril 13, 2005

Um conto: A Porta

1


Àquela hora o passeio estava vazio das formigas que, à luz do dia e na luta por ele, o enchiam dum correr atarefado, uma lufa-lufa em que ele se integrava para pedir um cigarro, umas moedas. Na avenida os carros passam velozes, cegos a tudo que vá além dos semáforos e da língua negra de alcatrão que eles tutelam.

Encoberto na entrada do prédio tremia com a ressaca e sentia-se capaz de tudo para conseguir o passaporte para umas horas amainadas no sofrer que o corroía, precisava de dinheiro para o cavalo. Lá no bairro ninguém lhe fiava e as portas fechavam-se quando passava, junkie de todos conhecido, a fama e também os furtos que ia somando, nas horas iguais a estas negras que agora vivia, destruindo colheitas antigas de laços de amizade, apoucando a solidariedade que se escoava e fugia enquanto ele prosseguia nos seus dias e noites ritmados pela destruição, imparável e sem nenhuma esperança de retorno.

Já tinha reparado nele e nos seus hábitos por diversas vezes pois gostava de passear naquela zona, correndo o passeio só para si sob o manto anónimo dos candeeiros e da luz dos carros voantes, escolhendo sem vergonha e olhares de reprovação as beatas maiores que via pelo chão. Até fora por causa delas que inicialmente reparara nele, pois tinha o hábito de vir à rua fumar e quando o telefone da portaria o chamava largava o cigarro ainda grande, fumável, a ponta a brilhar, tentadora. Daí nascera a sua inimizade pois, certa vez, quando se apressava a apanhá-la foi por ele surpreendido e, em maus modos e com alguns safanões, correra com ele da frontaria do elegante prédio onde fazia vigilância, o átrio forrado a mármore rosa, uma grossa secretária em carvalho na entrada sempre com o jornal aberto, ao fundo as duas portas em inox reluzente dos elevadores.

Desde então evitava a zona mas muitas vezes detinha-se nas sombras dos vãos a espreitá-lo, olhava o porteiro e o seu costumeiro cigarro com ódio, as beatas a que tentava calcular à distância o tamanho quando ele lhes imprimia um arco faiscante, projectado pelos fortes dedos em mola. Ele era robusto mas não muito alto e tinha a certeza que facilmente o derrubaria pois o ferro que sentia contra o peito era pesado. Depois, puxava-o para dentro do hall e roubava-lhe tudo o que fosse possível, carteira, moedas nos bolsos, o relógio e o telemóvel, deixava-o nu de tudo o que valesse uma nota de cinco. E o tabaco, ele se quisesse e quando acordasse que fosse ao passeio catar uma beata, era a sua vez. O frio interior toldava-lhe os pensamentos mas recrescia nele a intenção de assaltá-lo, saciar a dor que sentia por uma dose de droga urgente e que só era possível com dinheiro, e também satisfazer o ódio que lhe nutria. A mão crispou-se no ferro sentindo o conforto do seu frio e peso quando o viu sair para o passeio, já com o maço de cigarros saindo do bolso do jaquetão da farda de segurança, o olhar displicente em volta pelo vazio dos passeios e os carros que seguiam, loucos, sem parar ou olhar para ninguém.

Lentamente, estudando cada avanço, saltitou para outro vão de entrada ficando apenas a um de distância dele, que já fumava o habitual cigarro com os olhos perdidos no fundo da rua onde dois rapazes atravessam a avenida a correr e perdem-se numa transversal, para além deles o vazio, só os carros voadores, o cigarro, o ferro, eles. Escolhera previamente acoitar-se ali para o ataque, quando as costas do porteiro se lhe oferecessem após a beata voar para o passeio que lhe vedara, desprezada numa chuva de fagulhas. Como sempre ele não andou dum lado para outro e, imóvel à porta do prédio, recreava o momento do cigarro com longas pausas virada para um lado da avenida vendo os carros que vinham, ora para outro olhando os que chegavam, ou seriam os mesmo que voltavam, sempre apressados, velozes e cegos ao porteiro distraído e à sua beata insolente, ora quase no ponto em que voaria e, então, seria o seu momento e ia conseguir o dinheiro e a desforra, seria o fim dos arrepios e dos suores que sentia e o obcecavam pela carência. Era uma questão de sorte, também, e estava disposto a arriscar se, quando os dedos traçassem no ar o voo luminoso da beata ele estivesse de costas, antes de se virar para entrar no prédio até ao próximo cigarro.

Na rua tudo está normal, o silêncio protector do vazio, e a mão tirou de dentro da camisa o ferro e postou-o ao longo da perna, dissimulado a um improvável olhar curioso. Os olhos brilhavam e eram duros, semicerrados em finos traços no esgar que a sua cara mostrava, misto de sofrimento e de adrenalina despejada para má escapatória, e a boca ficou seca quando viu que, nos que calculava como os últimos sorveres no cigarro, as costas dele se lhe ofereciam e, com um pouco mais de sorte, assim se manteriam quando se voltasse para entrar no hall do prédio. Assim aconteceu e ele precipitou-se em ágeis passos, que quis e fez silenciosos, furtivos, enquanto vencia os metros que os separavam, aproximando-se da nuca que via como alvo fácil e descuidado, a mão erguendo-se com a arma, pronta a ganhar o embalo final para derrubá-lo.

2

Às quatro da manhã, na esquadra, o graduado de serviço recebeu o telefonema do hospital a confirmar o óbito e chamou-o outra vez ao gabinete. Sobre os papéis que atarefavam a secretária o ferro, trinta e oito centímetros já medidos à luz daquela noite que não tinha fim.
“teve sorte, muita sorte. quando se virou ele teve medo de si e fugiu, depois aquela tragédia do atropelamento. morreu à pouco, nada puderam fazer�
“foi o barulho da porta do prédio ao lado, a abrir-se quando os sensores o sentiram, que me fez olhar para trás. depois e como já lhe contei ele correu para a estrada, a olhar para trás e… pobre coitado�

terça-feira, abril 12, 2005

EuroIlusões

Estou zangado com um suíço. Ele sabe porquê e até se ri.

Serões na varanda

Nunca é demais repeti-lo: a inexistência de televisão, no Moçambique colonial, em muito contribuiu para a grande convivência que se vivia entre famílias ou casais amigos, visitas mútuas, de que tanto me recordo na minha infância em Lourenço Marques.

Quando era em fins-de-semana costumava incluir jantar, por vezes começava num almoço e depois ia-se dar uma volta de carro até à Costa do Sol, a ‘volta dos tristes’, e voltava-se ao ponto de partida com o pretexto de comer o que tinha sobrado, e que se estendia em serão de cavaqueira em volta da mesa ou ouvindo no pick-up velharias que hoje seriam olhadas como raridades. Os pais dissertam sobre negócios e futebol da metrópole, por vezes maçadoras incursões na política onde, como hoje, nunca havia acordo total. As mães, quando se cansavam de gabar os cozinhados mútuos, passavam à crítica dos maridos e loas ao da próxima, e cortavam nos penteados de todas as conhecidas ausentes. Os putos, após o fastio dos doces e das conversas dos adultos, procuram os seus terrenos naturais e, com a ajuda dos brinquedos do da casa se ele existir, ou com um sempre oportuno carrinho de bolso, em baixo da mesa ou no corredor organizam as brincadeiras naquelas noites em que a mãe se esquece das horas e o relógio bate recordes de longevidade ao dia. E, também, com as visitas frequentes a casa uns dos outros vão-se conhecendo os vizinhos, pois, tantas vezes, eles integram o serão comum, ou, naturalmente, os putos vão-se conhecendo uns aos outros e as brincadeiras nascem.

Na flat ao lado da dos meus tios, princípio da Av. de Angola e talvez nem a cinquenta metros do Largo Albasini, morava um casal amigo deles, com uma filha, pitinha que era uns dois anos mais velha que eu. Ivone. À míngua de alternativas mútuas, nesses serões inevitavelmente brincávamos um com o outro, ela menosprezando os meus interesses e dando-me secas de artistas, filmes, músicas, tudo fascínios que não me cabiam no bolso, atulhado com carrinhos, cromos, e chuíngas.

Às vezes íamos para a varanda, procurando espaço desimpedido e o ar da noite e da rua, espreitar quem passa e ver os carros passar, também privacidade e fuga ao controle adulto. Lá dentro havia o cíclico “olha, estás aí ao pé espreita lá para ver o que os miúdos estão a tramar� e, pela janela da sala que dava para a varanda, d vez em quando alguém espreitava para ver se algum estava pendurado das grades ou a descobrir segredos da vida. Tenho uma leve recordação de que a Ivone já tinha mamitas, mas delas nenhuma memória especial pois eram tempos em que as miúdas eram-me seres estranhos, sempre olhadas como muito mariquinhas e umas chatas, totalmente incapazes de compreender o que há de bonito na fotografia dum submarino ou numa espada de pirata, as coisas importantes da vida. Já existia aquela vontade de lhes espreitar as pernas e, quem sabe, ver-lhe a cuequita, objectivo principal do que eu entendia como sexualidade que me estivesse acessível, e fosse percebível. Eu ainda era muito criança e, no meu mundo, as meninas ainda não eram bem vindas.

Ela era mais crescida que eu, mais alta e forte, e já não sei se a brincadeira começou por ela apanhar-me a espreitar-lhe as pernas ou semelhante, e daí caminhou-se para aquela brincadeira de “risos-apalpão-palmada-risos�, eis que a conversa tornou-se íntima, partilha de segredos sussurrados, ambos com medo de sermos apanhados em tais confidências pelos adultos, tão proibidas que pareciam que soavam como pecado e sujeitas aos mais severos castigos. Ela exibindo os seus superiores conhecimentos, contando novos mitos, eu os meus, as curiosidades mútuas pelo fascinante proibido, os olhos brilhando maliciosos e felizes na nova intimidade partilhada, aventura secreta em tudo igual às que se liam nos livros que ‘eles’ escondiam, romances de amor e policiais, mas que se desviavam para o isolamento da casa de banho onde se procuravam avidamente as páginas picantes, palavras proibidas, conjunto delas em que a imaginação voava pelas ausentes, e olhavam-se os beijos sugeridos das fotonovelas, Deve ter sido assim que descobri a masturbação, mas olha a novidade… hoje, os putos fá-lo-ão tendo na mente imagens da televisão ou as fotos de mulheres e homens descascados que vêem em qualquer revista. Na altura em que esses mistérios ainda o eram lia-se o que se podia e imaginava-se o resto, tentando-se confirmar com a vizinha.

Era o que estava a acontecer connosco. Num canto da varanda, o mais longe das janelas que davam para a sala iluminada onde as vozes continuavam alheias ao que lá fora se descobria, os dedos, tímidos, nervosos, acariciam-lhe a perna, ela permissiva pois faz-me o mesmo, a mão pousando no joelho e seguindo, suavemente, seda pura e quente, os olhos imóveis vendo-a e sentindo-a subir, acariciando peles finas, doces, muito doces até porque eram proibidas. Não falávamos, mexíamos, enleados na descoberta mútua de arrepios e de calores, com mil ouvidos a qualquer ruído estranho que prenunciasse sermos descobertos. A primeira vez que alguém sentiu a minha erecção, o meu pilau teso como quando, na casa de banho, lia os diálogos delas com os detectives e os gangster’s, e no ‘Corin Tellado’ da minha irmã as descrições dos tórridos amores, dos secretos, os melhores. A mão dela subiu na minha perna, subiu tacteando sob os calções e ela masturbou-me por segundos até o medo fazê-la recuar, por certo ambos corados, com medo mas empolgados em viver mais daquela aventura de descoberta, mais daquilo tão gostoso, novo, bom. A minha mão também a acariciou e subiu sentindo mais que a pele uma vida nova que me nascia, a acariciei-a no lugar que supunha ser o seu sexo. Anos mais tarde descobri que o fizera na zona da bexiga, e nunca houve vez à reparação do mal percebido. Não sei se para ela é zona erógena, mas foi-o para mim como se do vero se tratasse, garanto, e faço-o sorrindo à ternura que me deixa a lembrança deste engano. É assim que o recordo, eu e a Ivone na varanda do primeiro andar e a metros dos pais, dos adultos, sob a luz dos candeeiros a descobrirmos os mitos e a criar novos, trocando carícias após as quais o mundo duma criança pula e avança, tal e qual o poeta o descobriu e contou.

A ela deixo o beijo adiado quarenta e tal anos, e o perdão pelo cábula que fui da geografia que é importante quando, sob o beijo cúmplice da noite em que se contam os segredos, um corpo novo nasce porque por outro descoberto, acariciado, embrião de desejo. Chamo a isto uma primeira relação sexual, pois essa história da primeira penetração foi medos que se venceram muito depois.

A multiplicação das culturas e o blogus hommus africanus

Ele, agora, tem duas casas.
Que mais irá acontecer?

"Concurso de textos eróticos" - quero dizer isto:

Recebi um mail a infomar-me que dois textos tinham sido incluídos no concurso, fui languçar o regulamento e, pela primeira vez, vi qual é o prémio. Felizmente prevê a saída de fininho, pois no meu caso não conheço a mulher de lado nenhum, nem ela a mim.
E, lendo os textos, achei os meus (já conhecidos de vocês, 'Quarto 328' e 'Morena') muito soft-core para as rotações do que li, alguns roçando cercas entre o erótico e o porno. Depende dos critérios, dum júri de sei lá quem, cinco pessoas, portanto nunca há empates e estou curioso com o resultado, pelo adicional que me fará embaraçadamente gargalhar se um dos dois ficar nos lugares premiados.

Achei melhor prestar o esclarecimento antes que alguém pense que eu confundo a net com um talho. Faço o esclarecimento, também em grupos MSN, antes que começe a cair a tomatada e o Frei deixe de ser incluído nas orações das suas fiéis noviças.

segunda-feira, abril 11, 2005

O Villeneuve júnior

Filho de quem é muitas portas do ‘circo’ abriu para além daquelas que o talento na Indy flanqueava por mérito. Foi campeão de F1 no ano de estreia, com um, então, super carro, daqueles em que até o Tiago Monteiro conseguia ser mais rápido que o Narain Karthikeyan.

Com os muitos milhões ganhos – foi um ícone na América do Norte muito mais que na Europa, e teve por anos o segundo salário nos pilotos de fórmula um, com esse dinheiro todo e acreditando que assim continuaria a entrar, entrou no projecto da BAR que, rapidamente, passou da arrogância do muito dinheiro para a má fase de todos deitarem as culpas de o carro não valer um chavo nas costas dos outros, o ambiente era dos clássicos de ar cortado às fatias. E os resultados não vinham, era quase a galhofa geral no tal balcão onde me sento, o das vaias.

Nos treinos e na prova era regularmente batido pelo companheiro de equipa, que trabalhava e arriscava muito mais e sem tiques de prima-dona, e das caras. À sua conta chegaram a correr um terço do orçamento total, sendo que a BAR é uma tabaqueira; das tais provas vivas de que a venda de droga enriquece, e engorda os Estados com impostos hipócritas. Com uma imagem destas, o lado privado do fumarento negócio faz o possível para dar nas vistas aos distraídos, publicidade que vale ouro pelo retorno em aderentes até às últimas moedas no bolso, indefectíveis até à morte. Gasta milhões, cujas facturas são em boa parte tolerados pelos impostos, pois não há ministros parvos na hora de lembrarem-se de quem lhes fornece dinheiro.

Bem, voltando ao Jacques Villeneuve, à fortuna que recebia correspondia com uma agenda cheia de promoções e férias anti-stress, excessivos para os dezasseis fins-de-semana em que o volante pouco tempo estava activo, umas vezes era o carro que avariava por defeito ainda não descoberto, outras porque fora pouco testado ou até porque os azares acontecem, e até desistências houve porque sua excelência, ex-campeão do mundo, sentia-se desmotivado em disputar, exemplo, um décimo-segundo lugar, coisa de pobres. As saudades que a equipa dele guardava podiam ver-se aqui, o site oficial da equipe BAR F1. Fui lá agora para tirar o link e encontrei-o modificado, o passado enterrado. Então, quando o Villeneuve júnior saiu, na página do site dedicada aos seus ex-pilotos, curriculares e com imagem, a história da equipe e dos seus homens, a memória de Jacques Villeneuve estava presente pelo direito próprio de ex-piloto e fundador, ainda investidor até…, e pelo Campeonato de Pilotos ganho noutro volante, e em felizes imagens como dele, lá, se recordavam. Ora em estâncias de ski ora em lançamentos publicitários, coktails para aqui e férias para acolá, eis as fotos que estavam penduradas sendo a primeira a única com ele e o carro. Testar dá trabalhinho de pista em que é preciso rodar e rodar para descobrir defeitos e apurar qualidades, e disso há muito poucas imagens. Mas, hoje fui lá para catar o link e, contei-o, estou contente por a página ter sido remodelada. Passado é passado e eu até simpatizo com o Sato e o outro, além de que estão a construir já um passado rico e com muito de bom para mostrar.

Foi despedido, diplomaticamente, eis que a BAR faz a época de 2004 que todos sabemos, e “que las hay, las hay…� Fez um anito sabático, e mais meio a promover-se para conseguir um contrato sem ser ‘a pagantes’, conseguiu, e com alguma da antiga baboseira regressou à F1. Porque o dinheiro gasta-se a velocidades de arrepiar, e ele estava quase ‘teso’, e ainda acreditava que a Carochinha da história tinha em reprise uma irmã mais velha. Deram-lhe uma segunda oportunidade pois sempre é um ex-campeão do mundo que quer voltar à actividade e declarando-se em forma, entrou para uma equipa de segundo plano, a suíça Sauber, uma daquelas que oscila entre a hipótese de salto para cima ou afundanço lento. O problema está em, antes das curvas, o bom do Jacques começa a travar um bocadinho mais cedo que os outros. Começando pelo companheiro de equipa e de máquina igual, os tempos contam-no, insistentemente, e a telemetria é indiscreta em contar o quando, como, e porquê, onde é que ele pensa demais na vidinha.

Hoje, em notícia de canto de jornal, leio que lá por essas bandas a bronca já estalou e o Villeneuve júnior deverá tratar de vida por outro lado. Lembra-me o Vítor Baptista, passe o exagero, mas suspeito que ainda o verei a correr em stock cars. Nada que não mereça quem precisa de trabalhar para ganhar a vida como dela gosta de ser servido, e nada que não mereça quem ofendeu a memória do pai como ele o fez, tendo em entrevista nos tempos de glória dito que, mais coisa menos coisa, “naturalmente que se considerava melhor piloto que o pai, mais inteligente, pois ele morrera e ele estava vivo e campeão do mundo�. Como se o coração do piloto não contasse, a fina arte de voar baixinho mais rápido que todos, o coração, grande, grande e sem medo de travar um pouco mais longe, mais rápido. Como se um júnior fosse igual ao original.
Não retiro conclusões, estou sentado a olhar.

Concurso de textos eróticos, 'shorts'

O Frei tem aqui dois textos (são os nºs 18 e 19), no simpático concurso promovido por esta Bela.
Fica a menção, a vaidade, e a expectativa.