O Natal da Vanda
Da escola a Carla trouxe como trabalho de casa, aula de português, uma redacção sobre a discriminação e o racismo. Optou por fazer um conto, que passo a transcrever:
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O Natal da Vanda
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Bem, aqui estava ela! Mais um Natal, mais uma árvore, mais uma guloseima para o seu estômago! na verdade não era uma, mas um saco cheio delas! Uma de chocolate, outras de doce, açúcar! mas faltava-lhe a guloseima que mais desejava. Aquela que ela pedia todos os anos ao Pai Natal. Aquela, que ela nunca iria provar. Um amigo. Era só o que pedia. Experimentar a amizade, experimentar partilhar segredos, experimentar a sensação de desembrulhar a prenda de um amigo.
Não sabia porquê, mas desde que chegara àquele país todos a tratavam como uma estranha. Bem, para dizer a verdade, não a tratavam sequer... porque parecia que não tinham dado conta que havia mais uma cara no livro de ponto, mais uma cadeira ocupada, mais um teste a ser distribuído: parecia até que a conseguiam confundir com os troncos das árvores, pela sua cor mais escura. Mas na verdade, não tinha a certeza de que esse fosse realmente o problema. Talvez por viver num bairro social, tentou ao acaso Vanda... Não, não, não era esse o problema. Ou então pelos seus quilinhos a mais...
- Que ridículo Vanda. Pára de ter estas ideias estúpidas! - Disse de si para consigo.
Parecia que não havia mais hipóteses. Tinha de ser. Só podia ser da sua cor. Ela tinha uma cor a que a mãe chamava "a cor mais pura que pode existir" e que combinava com os seus olhos cor de carvão. Em África, nunca ninguém a tinha posto de parte pela sua cor. Na verdade, achava uma injustiça as pessoas do país onde estava nascerem vermelhas, ficarem amarelas ou verdes quando estão doentes, serem castanhas quando apanham Sol, ficarem brancas quando apanham um susto e chamarem às pessoas do seu país que nascem e morrem com a pele igual, homens de cor.
Faltava pouco para acabar o dia 24 de Dezembro e a sua mãe estava a trabalhar. Em plena véspera de Natal. Ia passar a consoada no emprego para sustentar a família. Por isso Vanda sentia-se culpada de ter esbanjado dinheiro numa prenda para Catarina da sua turma, porque esta nem sequer lhe agradecera, não lhe dera nenhuma em troca e tinha a sensação que aquilo que vira no caixote do lixo na esquina ao lado da escola era muito parecido com o embrulho da prenda que oferecera. Mas afinal, não tinha feito de propósito. Julgara que se fizesse o que fez iriam reparar nela, mas tudo continuou na mesma.
O telefone tocou. Vanda levantou-se de um pulo! Será que tinham acertado na lotaria? Será que era Catarina a agradecer? Ou talvez, apenas um amigo a desejar "Feliz Natal"... Raios, como isso era bom. Talvez a minha vida mude com este telefonema - pensou. E foi com um baque que uma pedra acertou no seu coração quando pensou:
- Só podia ser.
Não sabia porquê, mas desde que chegara àquele país todos a tratavam como uma estranha. Bem, para dizer a verdade, não a tratavam sequer... porque parecia que não tinham dado conta que havia mais uma cara no livro de ponto, mais uma cadeira ocupada, mais um teste a ser distribuído: parecia até que a conseguiam confundir com os troncos das árvores, pela sua cor mais escura. Mas na verdade, não tinha a certeza de que esse fosse realmente o problema. Talvez por viver num bairro social, tentou ao acaso Vanda... Não, não, não era esse o problema. Ou então pelos seus quilinhos a mais...
- Que ridículo Vanda. Pára de ter estas ideias estúpidas! - Disse de si para consigo.
Parecia que não havia mais hipóteses. Tinha de ser. Só podia ser da sua cor. Ela tinha uma cor a que a mãe chamava "a cor mais pura que pode existir" e que combinava com os seus olhos cor de carvão. Em África, nunca ninguém a tinha posto de parte pela sua cor. Na verdade, achava uma injustiça as pessoas do país onde estava nascerem vermelhas, ficarem amarelas ou verdes quando estão doentes, serem castanhas quando apanham Sol, ficarem brancas quando apanham um susto e chamarem às pessoas do seu país que nascem e morrem com a pele igual, homens de cor.
Faltava pouco para acabar o dia 24 de Dezembro e a sua mãe estava a trabalhar. Em plena véspera de Natal. Ia passar a consoada no emprego para sustentar a família. Por isso Vanda sentia-se culpada de ter esbanjado dinheiro numa prenda para Catarina da sua turma, porque esta nem sequer lhe agradecera, não lhe dera nenhuma em troca e tinha a sensação que aquilo que vira no caixote do lixo na esquina ao lado da escola era muito parecido com o embrulho da prenda que oferecera. Mas afinal, não tinha feito de propósito. Julgara que se fizesse o que fez iriam reparar nela, mas tudo continuou na mesma.
O telefone tocou. Vanda levantou-se de um pulo! Será que tinham acertado na lotaria? Será que era Catarina a agradecer? Ou talvez, apenas um amigo a desejar "Feliz Natal"... Raios, como isso era bom. Talvez a minha vida mude com este telefonema - pensou. E foi com um baque que uma pedra acertou no seu coração quando pensou:
- Só podia ser.
Era engano.
6 Comments:
Lamento muito, mas tão triste tanto péssimismo. Um beijinho para ela, Carla, que é de certeza amiga de uma petrinha...th
claro...pretinha!
Carla:
Só hoje pude dar-te a atenção que mereces: gostei, muito, muito! Obrigada pelo texto que me entregaste, és uma pessoa completa - apesar de sermos, sempre, miúdas com tanto por aprender... Um beijo, Isabella.
Carla, o que falar? Estás feita menina linda, orgulho ,isso deve ser bom de sentir , não é papai?
Parabéns minha querida pelo alma que tu tens.
Um beijo grande fica com Deus
Um beijo papai Carlos Tareca
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