segunda-feira, abril 11, 2005

O Villeneuve júnior

Filho de quem é muitas portas do ‘circo’ abriu para além daquelas que o talento na Indy flanqueava por mérito. Foi campeão de F1 no ano de estreia, com um, então, super carro, daqueles em que até o Tiago Monteiro conseguia ser mais rápido que o Narain Karthikeyan.

Com os muitos milhões ganhos – foi um ícone na América do Norte muito mais que na Europa, e teve por anos o segundo salário nos pilotos de fórmula um, com esse dinheiro todo e acreditando que assim continuaria a entrar, entrou no projecto da BAR que, rapidamente, passou da arrogância do muito dinheiro para a má fase de todos deitarem as culpas de o carro não valer um chavo nas costas dos outros, o ambiente era dos clássicos de ar cortado às fatias. E os resultados não vinham, era quase a galhofa geral no tal balcão onde me sento, o das vaias.

Nos treinos e na prova era regularmente batido pelo companheiro de equipa, que trabalhava e arriscava muito mais e sem tiques de prima-dona, e das caras. À sua conta chegaram a correr um terço do orçamento total, sendo que a BAR é uma tabaqueira; das tais provas vivas de que a venda de droga enriquece, e engorda os Estados com impostos hipócritas. Com uma imagem destas, o lado privado do fumarento negócio faz o possível para dar nas vistas aos distraídos, publicidade que vale ouro pelo retorno em aderentes até às últimas moedas no bolso, indefectíveis até à morte. Gasta milhões, cujas facturas são em boa parte tolerados pelos impostos, pois não há ministros parvos na hora de lembrarem-se de quem lhes fornece dinheiro.

Bem, voltando ao Jacques Villeneuve, à fortuna que recebia correspondia com uma agenda cheia de promoções e férias anti-stress, excessivos para os dezasseis fins-de-semana em que o volante pouco tempo estava activo, umas vezes era o carro que avariava por defeito ainda não descoberto, outras porque fora pouco testado ou até porque os azares acontecem, e até desistências houve porque sua excelência, ex-campeão do mundo, sentia-se desmotivado em disputar, exemplo, um décimo-segundo lugar, coisa de pobres. As saudades que a equipa dele guardava podiam ver-se aqui, o site oficial da equipe BAR F1. Fui lá agora para tirar o link e encontrei-o modificado, o passado enterrado. Então, quando o Villeneuve júnior saiu, na página do site dedicada aos seus ex-pilotos, curriculares e com imagem, a história da equipe e dos seus homens, a memória de Jacques Villeneuve estava presente pelo direito próprio de ex-piloto e fundador, ainda investidor até…, e pelo Campeonato de Pilotos ganho noutro volante, e em felizes imagens como dele, lá, se recordavam. Ora em estâncias de ski ora em lançamentos publicitários, coktails para aqui e férias para acolá, eis as fotos que estavam penduradas sendo a primeira a única com ele e o carro. Testar dá trabalhinho de pista em que é preciso rodar e rodar para descobrir defeitos e apurar qualidades, e disso há muito poucas imagens. Mas, hoje fui lá para catar o link e, contei-o, estou contente por a página ter sido remodelada. Passado é passado e eu até simpatizo com o Sato e o outro, além de que estão a construir já um passado rico e com muito de bom para mostrar.

Foi despedido, diplomaticamente, eis que a BAR faz a época de 2004 que todos sabemos, e “que las hay, las hay…� Fez um anito sabático, e mais meio a promover-se para conseguir um contrato sem ser ‘a pagantes’, conseguiu, e com alguma da antiga baboseira regressou à F1. Porque o dinheiro gasta-se a velocidades de arrepiar, e ele estava quase ‘teso’, e ainda acreditava que a Carochinha da história tinha em reprise uma irmã mais velha. Deram-lhe uma segunda oportunidade pois sempre é um ex-campeão do mundo que quer voltar à actividade e declarando-se em forma, entrou para uma equipa de segundo plano, a suíça Sauber, uma daquelas que oscila entre a hipótese de salto para cima ou afundanço lento. O problema está em, antes das curvas, o bom do Jacques começa a travar um bocadinho mais cedo que os outros. Começando pelo companheiro de equipa e de máquina igual, os tempos contam-no, insistentemente, e a telemetria é indiscreta em contar o quando, como, e porquê, onde é que ele pensa demais na vidinha.

Hoje, em notícia de canto de jornal, leio que lá por essas bandas a bronca já estalou e o Villeneuve júnior deverá tratar de vida por outro lado. Lembra-me o Vítor Baptista, passe o exagero, mas suspeito que ainda o verei a correr em stock cars. Nada que não mereça quem precisa de trabalhar para ganhar a vida como dela gosta de ser servido, e nada que não mereça quem ofendeu a memória do pai como ele o fez, tendo em entrevista nos tempos de glória dito que, mais coisa menos coisa, “naturalmente que se considerava melhor piloto que o pai, mais inteligente, pois ele morrera e ele estava vivo e campeão do mundo�. Como se o coração do piloto não contasse, a fina arte de voar baixinho mais rápido que todos, o coração, grande, grande e sem medo de travar um pouco mais longe, mais rápido. Como se um júnior fosse igual ao original.
Não retiro conclusões, estou sentado a olhar.