sábado, abril 09, 2005

Confissões dum frade

Em busca da Graça e da remissão em acta pública me confesso.
Estou farto de sexo, sonhá-lo, imaginá-lo, desejá-lo e amaldiçoá-lo. Até na confissão está presente por dever de ofício, sendo as penitências poucos amenas para quem sofre e sua como um desesperado, na fase da sua tentação.
Os votos. Feitos antes da carne envelhecer e amolecer vontades, fibrilhando desejos que são tentadores e poderosos. Votos que foram dados como eternos e sem renúncia despida de agravo, mas eu não sou assim perene e, para que o meu serviço termine impoluto, a tentação penitenciada mas alva da mancha do pecado, muito sofro, confesso. A tentação ronda, sedutora, turva-me a fé na doce languidez que me percorre veias e nervos, tentando-me, inundando-me de desejos luxuriantes. Essa luxúria que é a mais amarga das sensações proibidas pelo vulcão de emoções que promete e que me estão vedadas, a que resisto com dor e muita penitência por pensamentos vacilantes, fraquezas da carne ímpia que abala a fé e inferniza os votos.
Este sexo vetado e que assoma nos olhares que as fiéis me voltam vendo o meu hábito vacilante, lendo a tentação que em mim luta por emergir e que a muito custo amordaço, chibatas, flagelações, muita oração pela salvação após tão duras provas a que a minha fé é sujeita. Eu, seu frade e confessor, leio nelas, fiéis, que elas sabem e conhecem o meu sofrer, a angústia desta luta permanente que em mim se trava e dilacera, e elas erguem-se insinuantes, corporalmente muito presentes, sedutoras, e estendem-me braços que quero abraçar, mas não posso fazê-lo. É assim o dia, a noite, mais o é naquelas horas sem horas em que no oratório virtual percorro trilhos e links, missionário num mundo novo e a conquistar ao outro, demo, ameaça que me verga e faz vacilar na tentação carnal.
"habemos pitas!" Mesmo o quase sagrado, arrasta-o o pecado para o quase profano; em momento em que o Senhor escolhe um servo para ser a Sua voz e teremos novo papa, há em mim olhos maliciosos que lêem "habemos pitas" como mensagem desejada, voz profunda que do meu âmago carnal clama por revoluções, reformas, aberturas, liberalidades, enfim e começando pelo fim do outsourcing de pitas, habemos as nossas. Eis o meu viver terreno, sofrido.
Recolho algum consolo nas vergastadas que trazem sensações físicas que vencem o desejo e sua prima luxúria, a carne castigada dói e eu sinto nessa dor conforto, expiação que me sacia também íntimamente. E olho para a cama de água que arrumei na cela, tele-vendas, como concessão mínima e pecadilho adolescente quando comparado com os sonhos que nela tenha. A minha formação teológica pré-jesuíta dá-me uma visão menos conservadora da essência do pecado que agarro e onde me lavo, donde extraio que sonhar o pecado é sujeito de coima leve, coisa para rosário, rosário e meio, algemas e couros, a final umas chibatadas. Assim penitencio, lavo o sonhar impuro e os suores que me alagam quando flutuo nas águas da luxúria na solidão da cela.
Confesso-me por escrito sem que se interprete como campanha eleitoral, ao mais alto nível.
Mas se for o Escolhido o meu suplício será universal e não haverá flagelações suficientes que aplaquem as hordas de tentações, eis que o mal avança no mundo e só ele, suplício, amainará o seu insidioso progresso que lutará por me inundar na minha pequenez de tormentos, lascivos, animalescos, grunhidos sexuais, corpos animais e sequiosos de ritos carnais, descontrolados, deboche íntimo de almas perdidas no breu da tentação pela luxúria.
Se for eleito rezem por mim, que a luta será tremenda. Ou melhor: orare, orare mucho...
Frei

1 Comments:

Blogger th said...

Tenho cá uma impressão que é este o Frei que se encontra no Hospital do Conde de Ferreira, no Porto...eheheh

domingo, abril 10, 2005 12:55:00 da tarde  

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