O escritor de cafés
Quem não se lembra dele, espécie hoje extinta por mor das pastelarias e agências bancárias que assassinaram o seu pouso, habitat onde convivia com os seus livros e cadernos onde garatafunhava ensaios e poemas, lado a lado com bicas e cigarros mil.
Hoje o sobrevivente do escritor de cafés migrou para quartos onde brilham outros cadernos, atentos correctores de texto, e tanto que também por aqui a paisagem urbana que o escritor descreve mudou, esbugalhada dos sons da vida e com este zumbido do monstro que pede, sempre! mais alimento.
Quem não se lembra dele, escritor de cafés que também fui e fomos, e não recorda com saudade esse nosso pedaço de escrita que este progresso que aplaudimos matou...
5 Comments:
Escritora não sei se fui, sou ou serei. Tamanha capacidade e que me acho demasiado longe para a ter, já agora pelo respeito dos que o são. Mas sim sentei-me algumas vezes no Nicola do Pessoa a escrevinhar e imaginar como ele o fazia, que tormenta tinha ele naquela alma para tão bem o dizer e passar. Um bjinho Passada
E as tertúlias...para quem nem escrevia ou estudava, eram os encontros depois de uma sessão de cinema para discutir realizadores, actores e argumentos. Nunca ouvi o meu grupo falar sobre footbal, falavam de cinema e carros, pena é que naquele tempo as mulheres não participavam nessas conversas e apenas falavam entre si de crianças e vida doméstica...
Hoje o computador aprisionou em casa o escritor de cafés...
E o PC portátil? A tecnologia pode, e deve, fazer pontes.
(hoje, o meu filho mostrou-me uma pequena caneta a servir de porta-chaves que tem uma ponta que se tira e mete no computador - no lugar do rato - e transporta ficheiros com memória equivalente a um CD, maravilha digo eu, com o pé a puxar para ver preços na FNAC)
Já não se olha de lado para quem assenta de portátil na mesa, a escrever como antes acontecia com o caderninho. Eu faço-o às vezes e deixam-me calmo e tranquilo sem me atrapalharem o teclado com bocas e olhos de espanto. E outros, vários mais, fazem o mesmo. Há sempre uma forma de dar a volta por cima sem dramatizar mudanças de tempos, juntando-os, mudando-os. Pois é, a tecnologia tem as costas largas. Se calhar, o que nos falta, apenas, é a lata de a usar, ainda a tratando como obra do demónio. João Tunes
Respondo só ao João, que aborda a mutação do escritor de cafés para as novas tecnologias mas retira-me um dos meus quadros favoritos: o escritor, a mesa e a chávena da bica, a Orpheu, tudo o que nunca será possÃvel igual com um caderno destes que tem pilhas e até apita. Era ao que me referia, sendo também certo que, aqui interior, a imagem que aà refere como já vulgar cá é uma raridade.
Dou te razão, õs escritores de café estão em vias de extinção... mas ainda tem quem escreva neles sem o recurso ao portatil. Por mto que se queira perde-se mto qdo se muda de uma sebenta negra para um Toshiba. Eu ainda escrevo nos cafés... n tanto como antigamente (mais por falta de tempo). Ainda existem locais onde esses "escritores" (com aspas, pois escritor n sou) são bem vindos. O espaço Magnolia do saldanha (para falar num dos novos) é disso exemplo. Pode-se ler, pode-se escrever sem olhares estranhos nem empregados a sacudir nos.
Abraço
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