quinta-feira, janeiro 20, 2005

Divagando sobre política externa 'tuga'

Por várias razões. A interna é um lodaçal onde vigora o salve-se quem puder e, receio, vigorará ainda bastante tempo. E tantos e tão bons sobre ela debitam e cascam que o meu tosco e modesto cacete mais não seria que insignificante pingo em área alagada. Eu não sei nadar assim tão bem.
Depois porque vejo com desgosto que Portugal desaparece ano a ano no mapa-múndi, o pequeno rectângulo cada vez mais como convidado circunstancial para as cerimónias e os discursos sem que a sua presença, mesmo discreta e à medida do seu tamanho, se perceba nos importantes momentos antes – os tais que minutam os oradores e traçam os objectivos. É verdade que foi contratado a mordomias de luxo um ‘tuga’ para presidir à CE, mas todos, dentro e fora, têm consciência da escolha de refugo que foi, do mercenarismo da gulosa aceitação sem cuidar do que ficava e soando a saída de mansinho e sapatos na mão, e iremos ver com o segundo mandato de GW Bush e a próxima cimeira de Bratislava com V. Putin se não haverão tiros no porta-aviões por o almirante estar distraído com os comes-e-bebes protocolares de que tanto gosta, como nós, seus confrades ‘tugas’, tão bem sabemos e ainda por aí existem uns retratos insulares para recordar aos esquecidos.
Portugal, velho cantão europeu que sobreviveu a guerras e alianças, invasões e sonhos imperiais e coloniais, tratos de polé de auto-iluminados e desvarios radicais doutros não menos parvos, nas alturas de pompa entre os novos senhores do mundo costuma usar o gasto discurso das velhas alianças para justificar as injustificáveis novas, recorda a vocação atlântica (sempre o fado do mar que quase nos afoga de tanto o invocarmos…), cerra-se em mutismo receoso quando se fala em iberismo mas, desavergonhado, estende mão aberta à menção dos custos do mediterraneanismo, do sul e das suas carências estruturais. Portugal, lá fora e por essa Europa fora será visto como o tal cunhado incómodo que detestamos e aturamos por razões familiares não o podendo eclipsar porta fora, sempre sequioso de avales a letras que nem reforma nem honra, pelo menos utilizando sabiamente o dinheiro que outros lhe dão. Um alegre estroina. Se eu fosse sueco ou alemão, inglês ou, amanhã já, polaco, era o que pensaria deste caro e tão mal governado jardim à beira-mar plantado. Internamente, CE, a nossa política externa actual não é mais que a caça a novos subsídios e negociação de reembolsos dos anteriores sem contas capazes prestadas.
Mais de uma mão cheia de países do hemisfério sul nasceram sob bandeira lusa, tão importantes nos palcos mundiais como são o gigantismo do Brasil ou Angola, a importância geo-estratégica de Cabo Verde ou Timor-Leste. Dessa relação de paternidade pouco ou nada eles colhem e nós idem, tristes aspas de incúria de política externa. Aquando dos conflitos pós-parto somos convocados pelas equipas médicas de emergência para estar presentes mais pela relação de parentesco que pela esperança de mais valia da nossa presença, desvalorizada e desrespeitada nos pacientes porque nunca tivemos na mão as sulfamidas que poderiam ter evitado a crise dolorosa que descaiu em emergência hospitalar. Erros de diagnóstico, omissão quase criminosa de tratamento, irresponsabilidades gritantes que descambaram em tragédias regionais. Política externa à portuguesa, à ‘tuga’.
Por esses lados (PALOP’s e Timor) com memórias recentes de grave incómodo para todos, vítimas e seus facilitadores, enfermeiros ou tropa de choque com livro de cheques servindo de penso-rápido, a política externa de Portugal carece de mais que presença como convidado protocolarmente incontornável nas cerimónias dos pequenos grandes passos que se dão para saírem dos escombros em que caíram, muito também por acção do inábil porteiro das suas independências além dos brutais desmandos da governação própria. Por esses lados africanos e polinésios, Portugal, micro-jardim à beira Atlântico plantado, necessita de mais que apoio a colónias de emigrantes ou ajudas circunstanciais que fazem as primeiras páginas dos jornais que o dia seguinte arruma no lixo. Certamente o seu lugar naturalmente histórico é de outra responsabilidade e protagonismo activo, mais vasto e maior que a micro visão e micro actos ‘tuga’ de que enferma, aos quais o mundo olha com enfado tantas vezes indisfarçável. Olhe-se para a tragédia angolana onde uma geração foi chacinada de esperança e estropiada de tanto mais que pernas que minas arrancaram, e recorde-se a vã pompa de Bicesse, fogo fátuo exemplar da nossa diplomacia externa. Olhe-se para Timor e recordem-se vinte anos de diplomacia apregoada como de alto nível, recorde-se um referendo que só foi possível por uma chacina num cemitério, e a prisão dum homem que nunca quis parar de lutar pela liberdade do seu povo.
Para além das guerras que a nossa política externa permitiu por omissão diplomática ou irresponsabilidade política, noutros campos a sua presença também é uma miragem de feitos práticos. Centenas de milhões de brasileiros, mais de metade da população e área geográfica dum continente, reclamam vantagens duma ancestralidade longínqua sem que o vice-versa histórico seja visível, penso eu que novamente por incompetência ou distracção lesiva duma política externa ‘tuga’ vocacionada para aplausos de banquetes ou fotografias cerimoniais. Portugal no Brasil não vai além de páginas opressoras em livros escolares ou destino de empregados de mesa e de boutiques, prostitutas ou entreposto de jogadores de futebol. Nada mais – eis a verdade. E tanto a é que é voz tristemente corrente entre os emigrantes lusos afirmarem que o seu coração e fidelidade patriótica caiem claramente para tons verdes e amarelos que para o país onde nasceram mas que se mostra relapso na concessão de motivos de orgulho que legitimem mais que as vantagens dum passaporte europeu, primeiro mundo que eles sabem ser só de fachada no seu caso sub júdice. A política externa portuguesa nem os seus nacionais emigrados cativa, não admirando que o resto do mundo a ignore para mais que o convite para o croquete protocolar.
Militarmente, sob a capa larga das obrigações assumidas e dos acordos firmados, Portugal entra nas estatísticas como número de contingente, actor terciário, faxineiro contratado, mais uma bandeira para disfarçar as incontornáveis do costume quando se trata de diluir responsabilidades e dissimular actos predatórios. Fotografia feia e desagradável que, internamente, serve de mote e desculpa para satisfazer almirantes e generais que sonham como crianças com os catálogos de novos brinquedos na mão. Quando a desculpa atlântica se esvair pela emergente nova realidade militar europeia, quando os Açores passarem a presença militar estrangeira e não justificada por necessidades de defesa, a política externa ‘tuga’ na sua variante de micro apoio militar desculpabilizante para os macro gastos orçamentais soçobrará e ruirá como castelo onírico que é. Eventualmente restará a presença simbólica no canto da parada, a quota de medalhas que o jardim merece, e mais brinquedos novos para os generais e ministros da moda terem o seu momento de glória.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Escreveu, o homem! _ li-te. Depois, 'telefono', tu sabes como. Um beijo, K15.

quinta-feira, janeiro 20, 2005 10:03:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bem hajam os homens que se "auto-criticam"... Nunca pensei que Portugal tivesse problemas deste genero. Mas o importante è que a gente è consciente. Um forte abraço e te desejo toda a força necessaria para a tua batalha pela "grandeur".
Sebem que a TUGA tem muitos outros problemas, tais como o racismo que è aquele que eu mais tenho conhecimento.
Lamento o facto de receber a cada dia que passa noticias de exclusao social, sobretudo de africanos [ANGOLANOS].
Se è verdade que a seu tempo os tugas entenderao que nao sao superiores a todos os negros, outra verdade è que talvez esse tempo è passado e este comportamento manifesta uma doença de grandeza perdida, sonhada mas impossivel de haver-la.
MAs reconheço que Portugal foi grande... nao obstante nao seja o suficiente.
Ok... por momento è tudo...
Gostei do teu blog.

Sempre a considerar

http://angolaxyami.blogspot.com

Passei por aqui e tornarei...

Francis*PAC

sexta-feira, janeiro 21, 2005 4:30:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

'chuinga' com cromo do Eduardo Lourenço para o 'Xicuembo' já!!!

sábado, janeiro 22, 2005 11:35:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É sempre bom ler estes textos carregados de idéias preconcebidas da cabecinha fechada, cheia de xenofóbia e preconceitos sobre tudo e todos que os portugas adoram vomitar na internet, a parte que descreve os brasileiros como "prostitutas, jogadores de futebol, empregados de mesa etc.." então é clássica, pois me responda uma coisa seu portuga cretino de merda, você já esteve alguma vez no Brasil para saber como é o meu país? Já? Já esteve em cada um dos 27 estados brasileiros? Conhece cada um dos 185 milhões de brasileiros pra saber quem são e como vivem? Não, é claro que não, você é só mais um portuga de merda que assiste as novelinhas da Globo e se acha o catedrático em como são os brasileiros ou como é o Brasil, quer saber portuga cabeça de bacalhau vai se foder você e seus textos cretinos, você é o exemplo perfeito do porque cada vez mais nós brasileiros estamos de saco cheio desse povinho escroque de merda de Portugal que come bosta e arrota caviar, mas agradeço por este texto escroto seu, ele vai pra minha coleção de mais de 860 textos escritos por portugas cretinos como você e de africanos analfabetos em história das ex-colônias de Portugal com idéias preconceituosas e ofensivas ao brasileiros que um dia poderão vir a ser muito úteis. Estou aguardando mais pra minha coleção...

sexta-feira, janeiro 28, 2005 3:29:00 da manhã  
Blogger Carlos Gil said...

Caríssimo anónimo: lamento que não saiba ler; mas certamente o conseguirá no dia em que começar a pensar. Apareça mais vezes.

sexta-feira, janeiro 28, 2005 12:42:00 da tarde  

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