sexta-feira, dezembro 31, 2004

O calendário

Planos, festas, desejos, ambições, medos.
Junta-se tudo à data que termina a última folha do calendário, pendura-se na parede a lavagem do errado e promete-se começar de novo.
Quantos trinta e um de Dezembro tiveste na tua vida? Quantas folhas deixaste de arrancar e amareleceram enquanto envelhecias e reparavas que, afinal, estes meses são iguais aos que já foram, e só a pintura que encima a cronologia dos desejos e o registo das frustrações mudou… no ano que daqui a horas será passado foram dois gatinhos num cesto de vime e que passaram o ano brincando, imóveis no passar dos dias, sempre com o seu olhar ternamente imobilizado. Este, será uma paisagem bucólica, provavelmente o campo inglês com o seu verde-inverno, e acho que os gatinhos gostariam de brincar nos prados em colinas serpenteantes até à serra lá no fundo, onde a foto ganha o azul e branco das nuvens no céu. Também acho que não vão conseguir, última desilusão do ano.
Um “31 de Dezembro� também mudei de paisagem no meu calendário e deixei de ver �frica quando olhava para a vida que crescia-me nos dias que se sucedem no ciclo de viver. Meio seduzido e meio arrastado pendurei nos meus dias um Janeiro com fotos duma Europa que eu imaginava como um misto de história viva em castelos medievais e em cidades onde o tempo foi conservado para além das folhas que morrem nos calendários, e do progresso típico dum primeiro mundo com as suas obras monumentais, o gigantismo que poderá não seduzir mas impressiona, o luxo de haver recursos que permitam nascer o belo quando é preciso transformar. Foi a vinte de Janeiro de setenta e seis o meu “31 de Dezembro� mais profundo pois outros houve onde as paisagens foram mudadas e os sonhos tiveram novo pasto que alimenta e sepulta, mas aquela mudança de calendário foi a que mais influenciou o sabor das folhas que foram falecendo no excesso de dias que nelas se conta.
Há mudanças de calendário que nenhuma nova paisagem amaina. Com ou sem gatinhos.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Foi num 31, de Dezembro, há 42 anos, que passei para o ano seguinte na companhia do meu filho, recem-nascido, num quarto de maternidade.hoje vou passar a meia-noite na companhia do meu bisneto, que me foi confiado pela primeira vez.Outros 31 ouve, mas estes eu não esquecer...nunca. th

sexta-feira, dezembro 31, 2004 10:30:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Para o Gil, tudo!! _ muf.

sexta-feira, dezembro 31, 2004 10:40:00 da tarde  
Blogger Madalena said...

Carlos, como a vida, a minha, já vai longa tenho vários inesquecimentos no dossier dos calendários.
Procuro contudo arquivá-los bem longe, não vão eles rebelar-se e desarmoniar-me a monotonia dos dias!!!!
Um beijinho de bom ano e parabéns pelo teu "Xicuembo".
Vou tentar adquiri-lo rapidamente, mas depois quero um autógrafo.

sábado, janeiro 01, 2005 3:14:00 da tarde  

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