A palmeira
O dia a nascer e acordar com ele. O céu avermelhando-se, crescendo, descobrindo as nuvens num cinzento-escuro aqui e ali com manchas laranjas que incendiavam as suas franjas. As sombras que minuto a minuto tornam-se mais nÃtidas e os candeeiros da rua principal que cedem relevo ao Sol que desperta para lá das copas negras das árvores. Os olhos que bebem tudo e renascem também, enquanto as mãos passam tacteando pela cara, como que lavando-a da noite que finda com a luz que se estende, conquistando os últimos recantos. A noite vencida e os seus restos incómodos que são removidos como que débeis palhas que se agarraram à roupa, ao cabelo, no domÃnio do negro inconsciente nocturno. Os movimentos que são lentos, como que aguardando que o Sol aqueça rotinas, abasteça gestos e vontades que despertam o corpo para a chamada parte útil do dia, visÃvel no policromático que se estende desde o fundo do horizonte até à porta da casa abandonada onde cedera vez ao conforto dum tecto e dum chão abrigado de outros olhares.
A mota deslizou quase em silêncio para o exterior, e os primeiros sons que o seu motor soltou foram de protesto, engasgando-se até adquirir a sua tonalidade certa, som de máquina, familiar. Ecoaram no persistente manto de silêncio que enchia o dia, quebrando-o definitivamente e que aà ganhou a sua dimensão sonora com um primeiro latido ao longe, sinal de mais vida que a luz da madrugada ressuscitara. Com a sua batida regular que se tornava incomodativamente familiar enquanto percorria a rua ainda deserta, a máquina e o rapaz que nasceram das sombras furtivas com o dia que inundava a paisagem de cor afastaram-se das casas que não tardariam a acordar para o seu calmo bulÃcio, e no céu as nuvens cediam espaço ao suave azul do sul. A sua silhueta perdeu-se na longa régua de alcatrão escuro que a caminho duma praia distante cortava o amarelo do capim seco, ávido pela queimada cÃclica que mata para sobreviver.
Ao fundo da paisagem, a sua imagem perde-se no horizonte e não é mais que um ponto que não terá retorno quando contorna a palmeira que se eleva, eterna no renascer que um dia será memória mas que ora se ergue triunfal num horizonte em gritos de beleza pintados, imune a ventos e a anos, mancha que perdura mesmo quando o ponto negro já não é mais que o som das palavras que enchem a paleta dum rapaz que, um dia, viu assim nascer-lhe o dia, perdendo-se nos pormenores duma paisagem onde a palmeira da Manhiça sobressaÃa.
NOTA: Este nascer com o dia na realidade passou-se na Macia, a caminho do Bilene e em 1972 ou 73. Fiz a adaptação para a Manhiça como a minha homenagem particular à famosa palmeira que, após secular e leal serviço à admiração humana, vergou-se e decapitou a paisagem no exacto sÃtio onde o rapaz e a mota confundem-se nos pormenores da tela, vencidos pelo dia que urge viver em todas as suas matizes para noutro poder contá-lo.
A mota deslizou quase em silêncio para o exterior, e os primeiros sons que o seu motor soltou foram de protesto, engasgando-se até adquirir a sua tonalidade certa, som de máquina, familiar. Ecoaram no persistente manto de silêncio que enchia o dia, quebrando-o definitivamente e que aà ganhou a sua dimensão sonora com um primeiro latido ao longe, sinal de mais vida que a luz da madrugada ressuscitara. Com a sua batida regular que se tornava incomodativamente familiar enquanto percorria a rua ainda deserta, a máquina e o rapaz que nasceram das sombras furtivas com o dia que inundava a paisagem de cor afastaram-se das casas que não tardariam a acordar para o seu calmo bulÃcio, e no céu as nuvens cediam espaço ao suave azul do sul. A sua silhueta perdeu-se na longa régua de alcatrão escuro que a caminho duma praia distante cortava o amarelo do capim seco, ávido pela queimada cÃclica que mata para sobreviver.
Ao fundo da paisagem, a sua imagem perde-se no horizonte e não é mais que um ponto que não terá retorno quando contorna a palmeira que se eleva, eterna no renascer que um dia será memória mas que ora se ergue triunfal num horizonte em gritos de beleza pintados, imune a ventos e a anos, mancha que perdura mesmo quando o ponto negro já não é mais que o som das palavras que enchem a paleta dum rapaz que, um dia, viu assim nascer-lhe o dia, perdendo-se nos pormenores duma paisagem onde a palmeira da Manhiça sobressaÃa.
NOTA: Este nascer com o dia na realidade passou-se na Macia, a caminho do Bilene e em 1972 ou 73. Fiz a adaptação para a Manhiça como a minha homenagem particular à famosa palmeira que, após secular e leal serviço à admiração humana, vergou-se e decapitou a paisagem no exacto sÃtio onde o rapaz e a mota confundem-se nos pormenores da tela, vencidos pelo dia que urge viver em todas as suas matizes para noutro poder contá-lo.
1 Comments:
Que inveja!
Se vcs até uma Palmeira teem em comum...
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